Preço do arroz cai quase pela metade

 Preço do arroz cai quase pela metade

Robispierre Giuliani/Revista Planeta Arroz

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Depois de uma escalada de alta recorde em 2020 – que beirou os 120% – por causa das compras de pânico e formação de estoques por consumidores e varejo, os preços do arroz em casca ao produtor no Rio Grande do Sul caíram praticamente pela metade em apenas um ano.

Entre outubro e novembro de 2020, as cotações da saca de arroz de 50 quilos chegaram a ser negociadas a R$ 120,00 em algumas praças de negócios do estado. Hoje, a saca já depositada na indústria fica entre R$ 61,00 e R$ 63,00 em média, sem considerar taxas, impostos e descontos por impurezas, secagem e armazenagem. A cotação do produto colocado no porto está entre R$ 65,00 e R$ 67,00.

O indicador de preços Esalq-Senar/RS alcançou um recorde de R$ 106,34 de média avaliando seis regiões gaúchas no ano passado. Em dólar, o recorde de valorização de 2020 bateu em US$ 20,11. O indicador Esalq-Senar/RS nesta quarta-feira desceu até R$ 65,67 de média no estado, acumulando queda de 3,85% em 11 dias. A situação só não foi pior porque o Real recuperou valor frente ao dólar, e com isso a saca que vinha equivalendo a um valor entre US$ 11,50 e US$ 12,00 alcançou comparativo de US$ 12,17. Sobre a máxima em dólar da temporada, a diferença é de quase seis dólares. Vale lembrar que durante a pandemia os preços médios do arroz em casca subiram de R$ 48,00 na Região Central para até R$ 110,00.

Tradicionalmente, a zona sul, onde está o polo industrial de Pelotas e Porto de Rio Grande, é a região de preços mais altos, e as regiões Central e Campanha costumam ter menores cotações por características como custos de logística, frete, estrutura, padrão de grãos e perfil de comercialização.

INSUMOS

Alguns insumos, como defensivos, chegaram a subir mais de 120%, segundo o presidente da Comissão do Arroz da Federação da Agricultura do RS, Francisco Schardong, que lamenta por boa parte dos arrozeiros não terem aproveitado a “onda” de alta para comercializar. “Teve quem soube aproveitar, mas também muita gente que esperou que em 2021 viesse os R$ 100,00 de novo e ele não veio e depois teve que vender na faixa dos R$ 70,00 a R$ 75,00”, reconheceu. “Mas, o que mais nos preocupa agora é que o custo explodiu para a safra que está terminando de ser plantada e corremos o risco de, na largada da colheita seguirmos com ao preço de comercialização abaixo do valor investido na produção”, completa.

FEDERARROZ

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS, Alexandre Velho, enfatizou que diferentemente de 2020, quando o consumidor antecipou e ampliou as contas de alimentos com medo de pandemia e pela adoção do distanciamento social e “home office”, em 2021 o varejo não formou estoques, vendeu o que acumulou em 2020 e apenas vem repondo a cada 15, 20 dias, o que vende no dia a dia.

“Alguns de nós se equivocaram na estratégia de comercialização, esperando uma reedição do que aconteceu em 2020 e patamares de preços mais elevados no segundo semestre, mas o mercado mudou, o consumo não correspondeu e não tivemos preços para exportar nos volumes necessários para manter o equilíbrio de preços internos. Ao mesmo tempo, o mercado internacional também caiu. Ainda assim, as exportações brasileiras vão alcançar um volume significativo, em torno de 1,2 milhão de toneladas e poderemos ter bons negócios internacionais, em função dos preços internos, no primeiro semestre de 2022. Isso tende a estabilizar os preços. O produtor precisará ser muito estratégico e fazer uma gestão de comercialização muito eficiente em 2022 frente a este quadro”, disse.

REPERCUSSÃO

O que a indústria está dizendo

ALIMENTOS TREICHEL

O empresário Paulo Treichel, da Alimentos Treichel, considera o momento do mercado bastante delicado. “Ninguém esperava essa condição. A indústria está pressionada de um lado pelo varejo que busca preços mais baixos e de outro pelo agricultor, que busca as melhores cotações. Preços baixos não são bom para ninguém, em especial para a indústria que opera com margem percentual”, explicou. Ele entende que se no ano passado o agricultor ditava as regras porque a demanda era maior do que a oferta, agora o mercado começou a voltar ao seu normal histórico e está na mão do varejo. Mas, boa parte da indústria se depara com baixa demanda e um estoque adquirido a preços mais altos que não está conseguindo repassar às redes de supermercados.

TREVISAN ALIMENTOS

Gustavo Trevisan, diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e da Trevisan Alimentos, considera que muito do cenário atual está associado às dificuldades que o Brasil teve para exportar arroz este ano, seja pelas altas cotações internas, seja pelo câmbio. “Ano passado ficamos perto de 1,8 milhão de toneladas negociadas. Este ano estamos bem abaixo disso. Sabemos que para termos preços equilibrados no Rio Grande do Sul precisamos ampliar a presença no comércio global, em especial quando temos um estoque maior, como é o caso desta temporada”, observou.

Ele destaca que a demanda doméstica se mantém estável, na faixa de 10,5 milhões de toneladas de consumo, em base casca – frente à produção de 11,5 milhões de toneladas. O suprimento, no entanto, é inflado pelos estoques de passagem e as importações, em especial do Mercosul e a preços muito competitivos. Daí a necessidade de escoar uma parte substancial da colheita, equilibrar oferta e demanda – e os preços – e buscar meios de impulsionar o consumo. Trevisan coordena o programa brasileiro para promoção de exportações de arroz, o Brazilian Rice, pela associação empresarial.

SINDARROZ-RS

Tiago Sarmento Barata, diretor executivo do Sindarroz-RS considera que o período de pandemia trouxe novos desafios e novos aprendizados ao setor. “Não podemos esquecer que o arroz valorizou porque o consumidor percebeu o valor nutricional e o quanto o arroz é fundamental para a alimentação brasileira. O consumidor pagou o valor que o mercado cobrou pelo arroz, apesar as polêmicas, como paga até mais por diversos outros produtos. O agricultor foi valorizado, a indústria também, as exportações cresceram. Só que no final do ano de 2020 tivemos os piores desempenhos históricos de beneficiamento no RS, as exportações praticamente pararam, os custos com energia, combustível, frete, mão de obra e outros fatores dispararam e o mercado consumidor se acomodou em níveis pré-pandemia. Não há como afirmar se o consumo subiu ou desceu, mas em função das exportações, da produção e também das importações, o beneficiamento teve pequena redução no estado no ano passado”, resumiu.

ATENÇÃO

Diferentemente do ano passado, quando o preço médio do pacote de cinco quilos de arroz branco tipo 1 chegou a ser cotado a R$ 42,00 em alguns supermercados do país, hoje, a média de preço em boa parte do Brasil fica abaixo de R$ 20,00, no Rio Grande do Sul marcas regionais e até algumas que são referências nacionais podem ser encontradas entre R$ 15,99 e R$ 30,00, com média na faixa de R$ 21,00. A tendência, no atual cenário, é de que o valor ao consumidor baixe um pouco mais e surjam ofertas até abaixo de R$ 15,00.

IMPORTANTE

Como boa parte das indústrias gaúchas resolveu sair do mercado – só compra mínimos volumes de arroz que já está depositado em seus armazéns e de clientes tradicionais –, inverteu-se a situação do início do ano. Se os compradores eram quem estava indo às propriedades em busca de garantir produto para beneficiar, agora muitos dos agentes de negócios das indústrias e corretores, incluindo locais, estão com as agendas lotadas até a próxima semana, o que demonstra que aumentou a pressão de oferta em algumas regiões. tradings que estavam no mercado, fazendo posição, no início da semana e pagando preços próximos de R$ 70,00 retiraram-se na terça-feira e voltaram na quarta com cotações mais próximas dos R$ 65,00, final porto.

5 Comentários

  • Falei 20 vezes aqui: Plantem 800.000 hectares de arroz e batam pé com o Governo para voltar a TEC nas importações! Muito boa a análise do Claiton Evandro. Mas também gostaria de ouvir os produtores! Plantaram mais do que deviam. 950.000 de arroz vai produzir 12 milhões de toneladas em 2022. Vão transbordar as industrias de novo! Os preços não ultrapassaram os R$ 75 se não tivermos um fato! E o produtor poderá arcar com prejuízos vultuosos. Temos q mandar arroz embora nem q seja por R$ 70. Para depois tentar a sorte! E ano que vem reduzir área grande. 800 mil hectares. A industria sabe jogar! Plantar soja, milho, trigo… Arroz vai ter uma debandada! Vocês acreditam muito no papinho da indústria. Vamos acordar. Governo em ano de eleição vai tentar baixar a cesta básica de qq jeito! Favor publicar…

  • Seu Flavio, seus comentários são hilários, colocando a indústria sempre como vilã, não sei se o senhor planta, mas caso plante, sugiro que mude de ramo, vá criar chinchila para exportar a pele….kkkkkkkkkkk

  • Não planto, mas acompanho Sr. Paulo. E sei como as coisas funcionam por detrás dos panos! Não sei se o Sr. é produtor, industrial ou picareta… Mas não tem nada de “hilário” o preço cair de 120 para 60 em menos de um ano! Nada mesmo! Não tem nada de bom gastar R$ 85 prá vender a R$ 60… Nada mesmo! Então reflita e não venha tocar flauta aqui nesse espaço em cima do produtor…

  • Acompanha o que senhor Flavio??? O arroz nunca deveria ter ido a R$ 120,00 o saco e nem próximo disso, é um preço que não se sustenta, qualquer um sabe disso. E corrigindo o meu comentário anterior, o senhor tem razão em uma coisa, quando fala que o produtor deve plantar menos e diversificar, e só, o restante é papo furado e conversa para boi dormir. A indústria não tem nada a ver com isso, é mercado, ninguém paga mais caro por uma matéria-prima, se não conseguir repassar e ter lucro no produto final, esse pensamento é de uma tremenda imbecilidade. E volto a afirmar, se o produtor estiver perdendo, muda, planta outra coisa, cria gado, chinchila, faz qualquer coisa, menos plantar arroz, com certeza o preço sobe. Insisto em falar, o que manda em qualquer mercado é a famosinha lei da oferta e procura…tem oferta, não tem procura, preço baixo, tem procura e não tem oferta, preço alto, simples assim seu Flavio.

  • Muito “arriado” este cidadão Paulo Marques. …com certeza é industrial ou ligado à indústria ….quando comentários como esse em defesa da indústria são postado de forma irônica e depreciativa, é óbvio que o autor tem o objetivo de menosprezar o suor do produtor que luta pela sua subsistência.
    Ele expressa muito bem o pensamento da maioria dos industriais, em relação aos produtores, são meros fornecedores de matéria prima que sob a ótica da indústria não tem direito de sonhar com algum lucro na sua atividade.
    A indústria ou melhor os industriais (nem todos) sempre tiveram uma mentalidade espoliativa em relação ao produtor…..pois é o elo fraco da cadeia, descontam encima de quem produz a sua incompetência de negociar com o varejo!!

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter