Seca e chuva forjaram a boa colheita deste ano
Manejo da lavoura evita danos pela estiagem no Rio Grande do Sul.
Nem tudo é desgraça em meio à aridez que ronda o pampa. Com colheitaprevista acima de 5,6 milhões de toneladas – metade da produção nacional -, os arrozeiros gaúchos contabilizam dividendos com a mesma escassez de chuva que castiga outras culturas.
– Não vivemos uma euforia, mas também não estamos aflitos como os demais produtores. A seca mais nos ajuda do que prejudica, afirma o presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Pery Sperotto Coelho.
A bonança dos arrozeiros se explica na prevenção que moveu a categoria. Cerca de 70% dos agricultores anteciparam o plantio, espalhando as sementes ainda em outubro. Como a maioria das lavouras gaúchas é irrigada, não faltou água para o desenvolvimento dos grãos. Quando a estiagem chegou, a safra já estava prestes a ser colhida.
Na Fronteira Oeste, uma situação inusitada atinge parte dos arrozeiros. Castigados pela chuva no verão, estão sendo beneficiados pela seca no outono. No final do ano passado, mais de 300 milímetros de precipitação arruinaram 20 mil hectares de arroz semeados ao longo do Rio Uruguai, dos quais 7 mil foram replantados.
– Em Uruguaiana, choveu em 15 dias o que não chove em dois meses. Terminei o replantio em 14 de janeiro, fora de época, relata o agrônomo Alfredo Martini.
Responsável por 1,4 mil hectares de arroz, Martini viu um terço das lavouras submergir. Em duas propriedades da família no município, o rio transbordou, provocando a perda total em 350 hectares. Martini usou uma variedade superprecoce no replantio. Beneficiado pela abundância de água para irrigação e pelo excesso de sol na floração, está às vésperas de colher 6,5 mil quilos por hectare – mil a mais que a média estadual:
– A seca me ajudou muito. Com água no pé e sol na cabeça, o arroz se desenvolveu que é uma beleza.
Para a próxima safra, o Irga recomenda o imediato preparo do solo, tão logo for encerrada a atual colheita. Temendo a visita do famigerado El Niño, Coelho diz que não haverá tempo bom para o manejo da terra entre o final do inverno e o início da primavera.