Arroz entra no foco de “traders” norte-americanos no Brasil
Em 2007, a produção mundial do cereal girou em torno de 670 milhões de toneladas, no entanto as vendas externas não ultrapassaram a marca de 30 milhões de toneladas.
No ano em que o volume de contratos agropecuários alcança recordes na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) outros segmentos se movimentam para articular a entrada de novos produtos nesse mercado, é o caso da cadeia produtiva do arroz, próxima commodity que passará a ser negociada na Bolsa.
O presidente da RiceProducer , espécie de associação de produtores de arroz dos Estados Unidos, Dwight Roberts, o presidente da FirstGrain e ex-executivo da Uncle Beans, Milo Hamilton e do corretor de mercado de arroz, Jaw Davis, se reuniram com todos os elos da cadeia produtiva e com a BM&F para avaliar a
formação de um pregão internacional.
– Eles entrariam com a montagem do programa e a consultoria. Pedimos uma proposta concreta e eles irão nos responder dentro dos próximos 45 dias – revela o presidente da Federarroz, Valter Pötter, participante de uma das reuniões.
Segundo Pötter, a principal vantagem para o produtor seria uma estabilidade maior de preço.
– Uma das nossas principais motivações é um referencial de preço para negociar. É o que os bancos mais pedem para poder ampliar as linhas de crédito e financiamento – afirma.
A BM&F não comentou a possível introdução do arroz no mercado futuro porque está em período de silêncio em razão do processo de abertura de capital, mas o diretor de Marketing da Camil Alimentos, Jacques Maggi Quartiero, confirma a visita de representantes da Bolsa e afirma que a empresa apóia a iniciativa e que serão compradores caso haja um contrato de experiência.
– Nossa postura é proativa, já temos falado informalmente com as pessoas envolvidas no processo, dando informações – diz Quartiero.
Ele conta que a companhia também recebeu a visita dos norte-americanos, que falaram sobre a experiência no mercado mundial de arroz.
Em 2007, a produção mundial do cereal girou em torno de 670 milhões de toneladas, no entanto as vendas externas não ultrapassaram a marca de 30 milhões de toneladas. Mesmo o Brasil ainda sendo um país importador, a imagem de celeiro agrícola pode estar atraindo a atenção de investidores de outros países que procuram regiões onde a produção possa ser ampliada e que tenha condições climáticas favoráveis, como a presença de água em grandes quantidades para a utilização na irrigação do arroz.
Segundo fontes do mercado, além de estimularem a produção brasileira os empresários que estiveram visitando o Brasil também pretendem organizar o mercado exportador tendo em vista que os contratos de arroz introduzidos na Bolsa de Chicago não emplacaram.
O grupo de norte-americanos também demonstrou interesse por outros mercados do Mercosul, como o Uruguai e a Argentina, tradicionais exportadores de arroz para o Brasil.
– Ampliar esse estudo foi algo que os visitantes acharam interessante. Isso irá possibilitar o equilíbrio de um mercado de arroz no Mercosul, onde o Brasil aparece como um importador líquido – avalia a coordenadora técnica do projeto do indicador de preços do arroz em casca Cepea/BM&F, Silvia Helena de Miranda.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) também está realizando estudos para avaliar a viabilidade desse contrato futuro.
– Pela experiência do Cepea no desenvolvimento de outros contratos ainda é preciso avaliar melhor uma adesão ao contrato de arroz no curto prazo. A formação de algum tipo de contrato a termo seria uma opção – afirma Miranda.
Para o analista de Safras & Mercado, Thiago Barata, o mercado brasileiro ainda tem alguns entraves ao desenvolvimento do contrato de arroz.
– Deve haver uma mudança cultural, os produtores não estão acostumados a trabalhar com essa alternativa de mecanismo e o mercado de arroz ainda sofre muita intervenção governamental, tirando parte da transparência do processo, essencial para o desenvolvimento do mercado futuro – diz.
Como pontos favoráveis ele aponta a estrutura já montada de futuros de outras commodities e o indicador de preço do arroz que a BM&F tem em parceria com o Cepea.