Arroz sem nitrogênio na China pode combater efeito estufa
Empresários ao redor do mundo estão tentando alimentar um mercado de crédito de carbono de US$ 30 bilhões, que oferece a empresas uma maneira de cumprir exigências de redução de emissões sem cortar de fato suas próprias produções de gases do efeito estufa.
A agricultura é responsável por mais emissão de gases do efeito estufa do que todo o setor de transportes mundial, de acordo com um comitê da Organização das Nações Unidas. Para Eric Rey, isso parece um bom negócio.
Outro dia, Rey colocou um par de botas de borracha e caminhou por uma lamacenta plantação de arroz – onde pretende enfrentar o aquecimento global e ganhar uma fortuna para sua empresa de biotecnologia, que ainda está engatinhando.
Rey, presidente da Arcadia Biosciences de Davis, Califónia, aventurou-se nesta remota região do norte da China – que parece uma colcha de retalhos feita de campos floridos e arrozais esmeralda, pontilhada por mesquitas ornamentadas – para vender a agricultores uma semente de arroz geneticamente modificada.
Ele diz que a semente, ainda em desenvolvimento, vai requerer menos fertilizante de nitrogênio, que é um dos maiores custos dos lavradores – e uma enorme fonte de gases do efeito estufa. Depois, ele quer vender os créditos de carbono que resultarem do processo em um mercado global em expansão.
– Esta é uma oportunidade para os agricultores ganharem mais dinheiro, para aumentarmos nosso lucro e para que o meio ambiente se beneficie – diz Rey, um homem esbelto de 51 anos, sorrindo ao passar as mãos nos grãos de arroz.
– É um ganho triplo.
Empresários ao redor do mundo estão tentando alimentar um mercado de crédito de carbono de US$ 30 bilhões, que oferece a empresas uma maneira de cumprir exigências de redução de emissões sem cortar de fato suas próprias produções de gases do efeito estufa. O mercado surgiu com o Protocolo de Kyoto de 1997, em que a maioria dos países industrializados, mas não os Estados Unidos, concordaram em reduzir coletivamente 5% das emissões dos gases de efeito estufa até 2012. A BM&F começou a negociar contratos de carbono no fim de setembro.
Em uma transação típica, uma empresa industrial que estiver com problemas para reduzir emissões pode comprar créditos de outra empresa que conseguiu cortar suas próprias emissões de carbono para níveis mais baixos do que o exigido. Muitos dos primeiros projetos de créditos de carbono tinham como objetivo conter as emissões de fábricas, inclusive reduzindo a emissão do gás metano de aterros. Mas empresários como Rey vêem um grande potencial em abordar a agricultura – o quarto maior produtor de gases causadores de aquecimento global.
A agricultura é responsável por 13,5% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o Comitê Intergovernamental Sobre Mudança Climática, organizado pela ONU. Isso é menos do que as emissões causadas pelo uso de eletricidade e pela atividade industrial, mas maior que as emissões causadas pelo transporte.
Ao se concentrar no arroz chinês, Rey pode ter encontrado um baú de tesouro. Muitas das emissões de gás do esfeito estufa causadas pela agricultura vêm do uso de fertilizantes de nitrogênio. A China é o país que mais usa fertilizantes e o maior produtor de arroz do mundo.
Mas a sua campanha para transformar o arroz chinês em créditos de carbono enfrenta grandes obstáculos. Sua empresa precisa fazer testes de campo na China para provar que suas sementes geneticamente modificadas podem germinar por lá.
As leis de propriedade intelectual da China são fracas e seus produtores rurais já estão acostumados com suas próprias maneiras de fazer as coisas, o que deixa as empresas de biotecnologia com um pé atrás em relação a esse enorme mercado para a agricultura. A Monsanto Co., uma pioneira no mercado chinês, já bateu em retirada.
Ainda mais difícil será convencer o governo chinês a permitir que empresas vendam a produção de alimentos primordiais, como arroz, que tenham sido biomodificados. Apesar de sementes geneticamente modificadas serem comuns nos EUA e na Europa, os países asiáticos têm sido mais cautelosos sobre o seu uso.
Rey, um veterano da biotecnologia que gosta de aventuras como pilotar aviões acrobáticos ou perseguir babuínos na Tanzânia, não desanima com os desafios.
– Um conjunto de regras é algo que alguém inventou lá na cabeça dele – diz.
Ele passou 15 anos na Calgene Inc., que desenvolveu o tomate “Flavr Savr”, o primeiro alimento integral geneticamente modificado aprovado pela autoridade sanitária americana, a FDA. A Calgene foi adquirida pela Monsanto em 1997 e naquele ano, Rey fundou sua própria consultoria.
Um dia, em 2000, ele recebeu um telefonema de John Sperling, um bilionário que fez fortuna fundando a faculdade online Universidade de Phoenix. Sperling, um investidor em projetos de biotecnologia que incluem clonagem e longevidade humana, estava procurando ajuda num projeto na Eritréia, no nordeste da África, cujo objetivo era desenvolver plantas que poderiam crescer em água salgada e ajudar agricultores pobres. O projeto não obteve sucesso, mas os dois descobriram um interesse comum ao usar a biotecnologia para resolver o problema da fome e ajudar os agricultores.
– O grande plano é um dia criar plantas tolerantes ao sal, eficientes em nitrogênio e resistentes à seca – diz Sperling.
– Esse é o paraíso da engenharia agrícola – completa.
Em 2002, Rey, com o apoio de Sperling, formou a Arcadia. Hoje, os 75 funcionários da empresa vasculham institutos de pesquisa em busca de novas tecnologias, na esperança de desenvolvê-las e licenciar para terceiros. Até agora, ela tem nove tecnologias em desenvolvimento, incluindo a de plantas tolerantes a sal, óleo de açafroa aprimorado com ácidos gordurosos omega-6 e tomates que duram mais tempo nas prateleiras. A empresa espera comercializar seu primeiro produto no ano que vem.
Até hoje, Rey diz que a Arcadia tem investido “dezenas de milhões de dólares” na tecnologia do nitrogênio – para desenvolver sementes ou plantas geneticamente modificadas que podem crescer com a metade da quantidade de fertilizantes requeridas normalmente.
Outros também estão tentando desenvolver sementes como essa.
– Basicamente todas as empresas de biotecnologia têm um programa que envolve o uso de nitrogênio – diz Fred Below, professor de fisiologia da colheita na Universidade de Illinois.