Produtos alterados geneticamente se beneficiam com a “crise do arroz”
As autoridades filipinas vendem o quilo do grão importado de produtoras do Arkansas e do Texas por 25 pesos (US$ 0,60), cerca de oito pesos mais barato que o preço nos supermercados.
A “crise do arroz”, produto supostamente escasso em comparação à demanda, tem levado alguns países, como as Filipinas, a recorrerem ao grão geneticamente modificado para assegurar o item na cesta básica.
A própria presidente filipina, Gloria Macapagal Arroyo, assegurou à população que, apesar do que dizem organizações como o Greenpeace, o arroz comprado dos Estados Unidos e fornecido pela NFA (Autoridade Nacional para a Alimentação, na sigla em inglês) à rede de mercados é próprio para o consumo.
As autoridades filipinas vendem o quilo do grão importado de produtoras do Arkansas e do Texas por 25 pesos (US$ 0,60), cerca de oito pesos mais barato que o preço nos supermercados.
O preço do arroz em Manila, que custava 22 pesos, passou a 34 pesos o quilo em pouco mais de um mês, o que representa um aumento de 54,5%.
Para ajudar os mais necessitados e coincidindo com o Dia do Trabalho, o Departamento de Bem-estar Social filipino distribuirá cartilhas a 47 mil famílias dos bairros mais pobres da capital para que possam comprar o alimento básico do país por 18,25 pesos o quilo.
Quando o programa governamental estiver pronto, aproximadamente 600 mil famílias de Manila disporão da cartilha.
“O que não estão dizendo é que o efeito desses tipos de arroz nas pessoas e no meio ambiente é muito danoso e causaria problemas no futuro”, alertou o presidente do Movimento Camponês das Filipinas, Rafael Mariano.
“Se o governo pensa seriamente em solucionar a crise do arroz, então deveria escutar as vozes dos agricultores que pedem uma reforma agrária genuína”, acrescentou Mariano.
O Greenpeace também denunciou as marcas Blue Ribbon Texas Long Grain e Riceland Arkansas Long Grain que foram importadas e eram vendidas no país.
Daniel Ocampo, do Greenpeace, disse que o grão havia sido examinado em laboratórios do Japão e foi encontrado que “a carga pode fazer parte de arroz geneticamente modificado dos Estados Unidos, fato que tem sido um escândalo desde 2006.”
Os pedidos do Greenpeace, do Movimento Camponês e de outras associações têm pouco impacto nos cerca de 24 milhões de filipinos que subsistem com menos de um dólar ao dia e que compram o produto mais acessível a sua parca renda. E, se o governo o oferecer a 18,25 pesos o quilo, esse será o escolhido.
A última vez que as Filipinas, que atualmente consome cerca de 33 mil toneladas de arroz ao dia, produziu quantidade suficiente de grãos para abastecer a demanda interna foi em 1994.
Neste ano, por causa da crise e da decisão dos grandes exportadores (Tailândia, Índia e Vietnã) de controlar suas vendas ao exterior para garantir o consumo interno, o país se viu obrigado a buscar novos fornecedores.
A tonelada de arroz tailandês atingiu neste mês de abril o preço de US$ 1 mil e levou o Ministério de Comércio da Tailândia a se reunir com produtores e comerciantes para conseguir um acordo que garanta a provisão do país, além da estabilização dos preços.
A Tailândia e o Vietnã, que em conjunto produzem cerca de 50% do arroz comercializado nos mercados mundiais, venderam ao exterior no ano passado 9,5 milhões e 4,5 milhões de toneladas, respectivamente, do total de 28 milhões destinadas aos mercados internacionais.
O BAD (Banco Asiático de Desenvolvimento) informou que alguns governos, como os da Índia e do Vietnã, exageraram sua reação em relação às altas dos preços dos alimentos ao limitar suas exportações, porque não existem problemas de abastecimento.
Seja real ou fictícia a “crise do arroz”, o diretor-geral do BAD, Rajat Nag, assegurou que “a era dos alimentos baratos acabou.”