Estado de alerta
Invasora fica mais resistente a cada safra
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Um estudo realizado pelo Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) mostra que a resistência de arroz vermelho ao herbicida Only, produzido pela Basf, evoluiu de 56% para 68% nas três últimas safras colhidas no Rio Grande do Sul em lavouras que adotam a tecnologia Clearfield. De acordo com o pesquisador do Irga Carlos Mariot, responsável pelo monitoramento, o uso incorreto da tecnologia, entre outros fatores, tem contribuído para o aumento da resistência média da invasora.
Os dados da pesquisa, conforme Mariot, estão divididos por regionais do Irga, onde constam os núcleos de assistência técnica e extensão rural (Nate), os municípios, os locais das lavouras, os produtores e a situação da amostra analisada, se ela apresenta ou não resistência ao herbicida.
Os resultados já foram enviados para todos os núcleos de assistência técnica e extensão (Nates) do Irga e estão disponíveis aos produtores, cujas lavouras foram amostradas.
O pesquisador destaca na avaliação dessa safra a presença, em grande parte das amostras, de plantas de arroz vermelho com características fenotípicas que denotavam alta resistência ao herbicida, similar a cultivar Puitá Inta CL, as quais estão sendo analisadas uma a uma através do uso de marcadores moleculares pela equipe do professor Aldo Merotto, da UFRGS. “A média geral de resistência nesta amostragem foi de 68% para o estado do RS, praticamente mantendo a média da safra 2007/08, que foi de 71%”, observa.
Outro fato que chamou a atenção, segundo Mariot, foi o crescimento de resistência encontrado na região da Planície Costeira Externa e a redução na região da Depressão Central. Estas variações encontradas podem ter ocorrido devido às amostragens terem sido realizadas em locais diferentes das safras anteriores, avalia o pesquisador.
AMEAÇA
O assunto foi um dos temas debatidos no fórum organizado pelo Irga durante a Expointer 2009, que buscou traçar um panorama sobre o avanço da invasora nas lavouras do estado. O professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Aldo Merotto Júnior, preocupou-se em mostrar que a manutenção de bons índices de produtividade é essencial para que a cultura de arroz sobreviva no aspecto econômico e social.
Merotto enfatizou que as plantas daninhas, principalmente o arroz vermelho, são ameaças às lavouras de arroz. “A praga está se tornando cada vez mais resistente aos herbicidas utilizados, causando perdas nas plantações de todo o mundo”, citou.
Merotto ainda explicou que nos países em desenvolvimento o prejuízo pode chegar a 35% e, mesmo em estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com experiência no cultivo de arroz, cerca de 10% da produção é perdida em razão da infestação de arroz vermelho.
Segredo é apostar nas técnicas
A melhor solução para o agricultor enfrentar o arroz vermelho, segundo o professor Aldo Merotto, da UFRGS, é apostar em técnicas como a rotação de culturas, métodos de preparo do solo e novos tipos de herbicidas. É o que muitos produtores gaúchos estão fazendo.
José Mathias, de Mostardas, mantém o arroz vermelho sob controle conciliando vários métodos. Mathias, que teve prejuízo por causa da invasora na safra 97/98, adotou os plantios direto e mínimo e combinou-os com rotação de culturas.
Além disso, usa sementes certificadas e técnicas específicas, como ponto de agulha e irrigação precoce. O produtor conscientiza seus funcionários e os capacita para prevenir a erva daninha, em um conceito de agricultura mais sustentável.
Outro exemplo é o produtor Darci Ênio Rohde, de Rosário do Sul, que apostou na rotação de arroz com soja. “A técnica, eficiente para evitar a infestação do arroz vermelho, era até pouco tempo considerada inviável em várzea, pois traria prejuízo”, explicou. E deu certo: o agricultor está conseguindo controlar o vermelho e ter lucro com a soja.
ESTRATÉGIA
A estratégia adotada pelo produtor Ariovaldo Ceratti, de Uruguaiana, há duas décadas é o plantio de sementes livres da invasora. Para ele, práticas de manejo são eficientes métodos de controle. Infelizmente, nem todos dão a devida atenção ao problema e usam sementes ou herbicidas não certificados. Este grupo, na avaliação do gerente do projeto Clearfield, da Basf, Airton Leites, favoreceria o surgimento de plantas indesejadas e resistentes.
A empresa considera que metade dos arrozeiros gaúchos que utilizam a tecnologia Clearfield o faz de forma errada. Leites atribui este quadro ao costume dos produtores em salvar sementes de uso próprio, o que coloca em risco os investimentos feitos anteriormente.
O perigo, segundo ele, é o RS regredir em índices de produtividade, caso a invasora continue se disseminando pelas lavouras do estado.