Futuro com preços do passado

Os preços internacionais do arroz, depois de uma alta espetacular em 2008 e reflexos em 2009, por conta do risco de uma crise mundial de alimentos, tendem a manter a trajetória de volta aos patamares históricos até uma estabilização. O analista do Cirad, Patrício Méndez del Villar, relata que em 2009 os preços internacionais se mantiveram relativamente estáveis durante quase todo o ano, marcado por ligeiras flutuações. No último trimestre de 2009 os preços sofreram uma alta volatilidade em razão da situação alarmista na Índia e nas Filipinas, que anunciavam importações massivas para compensar a redução de safra.

“Alguns operadores do mercado sugeriram nova crise mundial de alimentos, com preços comparáveis aos de 2008. Estas previsões foram amplamente superestimadas”, explica del Villar. A maioria dos países exportadores e importadores trataram de não cair na armadilha de 2008, evitando anúncios de limitações preventivas de exportações ou compras massivas.

As Filipinas foram a exceção por causa das eleições gerais em maio de 2010. As licitações lançadas pelo governo filipino para comprar quase 3 milhões de toneladas, 10% do mercado mundial, em um lapso de tempo relativamente curto, provocaram um pequeno terremoto que refletiu até em mercados distantes na América do Sul. Em semanas os preços mundiais se incrementaram em 25%.

“O retorno aos níveis anteriores (outubro de 2009) e a estabilização dos preços, com relativa baixa, observados durante o primeiro semestre de 2010 indicam que o mercado internacional era, e ainda é, perfeitamente capaz de afrontar demandas adicionais graças aos estoques e à produção mundial suficientes”, diz. Ao final de 2009, Tailândia e Vietnã revisaram os objetivos de exportação para 2010, aliviando as tensões provocadas pelas limitações de exportação da Índia.


DEMANDA

O comportamento dos preços mundiais observado durante o primeiro semestre de 2010 indica que as condições que levaram à crise mundial de alimentos de 2008 não haviam se repetido para provocar turbulência nos mercados internacionais, e isso apesar de compras das Filipinas e limitações de exportação na Índia. Enquanto as perspectivas são de que os grandes polos importadores, como os países do Oriente Médio, mantenham demanda estável, espera-se que as importações africanas reduzam pelo incremento de produção em 2009/10.

 

Cenários de curto prazo
As perspectivas de uma redução da safra brasileira podem recuperar um pouco os preços durante o segundo semestre do ano. Pelo lado dos exportadores asiáticos, as disponibilidades exportáveis devem ser incrementadas na Tailândia, Vietnã, Paquistão e China.

Mas, para o analista de mercados do Cirad francês, Patrício Méndez del Villar, a elevação dos preços mundiais ao final de 2009 e as antecipações alarmistas de alguns operadores indicam que o mercado guarda na memória os efeitos da crise de 2008. Portanto, segundo ele, subsiste um clima de insegurança frente aos principais abastecedores do comércio mundial. Isso indica também que, apesar dos estoques suficientes, os mercados internacionais e regionais ainda não têm capacidade de regulação suficiente para reforçar a segurança alimentar mundial de maneira duradoura.

Para del Villar, o anúncio de uma redução por clima adverso na Índia e na China não alterará o cenário pela ampliação dos estoques desses países. A quebra da safra de trigo na Rússia não afeta os preços do arroz. “No futuro, altos preços de trigo e milho podem estimular a substituição pelo arroz, mas a oferta mundial é abundante e teria condições de assegurar o abastecimento”, revela.

JULHO
Em julho os preços mundiais se mantiveram baixos pela demanda global escassa e abundante oferta. A tendência baixista deve prosseguir. Em julho o índice Osiriz/InfoArroz (IPO), desenvolvido por Patrício Méndez del Villar, caiu 3,8 pontos, para 192,5 pontos (base 100 = janeiro 2000), contra 196,3 pontos em junho. No início de agosto o índice IPO marcava menos de 190 pontos, atingindo, assim, os níveis observados no final de 2007, antes da disparada dos preços mundiais.

 

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