Olho no Brasil

 Olho no Brasil

RS tem a maior disponibilidade de arroz no mundo.

O Brasil se tornou mercado interessante ao comércio internacional à medida que Tailândia e Vietnã, entre outros grandes exportadores mundiais, restringiram suas vendas externas. Quando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou que o Brasil foi o único dos grandes produtores a aumentar a colheita e que tinha um estoque de passagem de quase 1,5 milhão de toneladas, choveram novos compradores. Pércio Grecco, da trading Rice Brazil, afirma que o Rio Grande do Sul é atualmente uma das raras regiões no mundo com maior disponibilidade de arroz, juntamente com Uruguai e Argentina.
Para não perder a oportunidade, diante da grande procura, o setor precisa vencer dois obstáculos importantes: a falta de prática das indústrias nacionais, acostumadas ao mercado interno, e a disputa de espaço nos portos diante do pico de escoamento da soja. “É um obstáculo porque o mercado internacional do arroz costuma cotar e embarcar imediatamente, mas no Brasil qualquer carga precisa de pelo menos 30 dias para ser embarcada em contêiner e 90 se for a granel”, frisa. 

As primeiras cotações do arroz gaúcho fecharam entre 550 e 600 dólares a tonelada, mas já foram fechados negócios acima de 650 dólares, com tendência de alta. O mercado brasileiro entrou nos nichos abandonados pela Tailândia e na África e atende mais fortemente a América Central, que adquiria produto nos Estados Unidos, mas as cotações naquele país já superam os 800 dólares a tonelada e o produto nacional tornou-se mais competitivo.

Questão básica
Temendo o desabastecimento do produto no mercado interno, o Governo brasileiro suspendeu um projeto de exportar até 500 mil toneladas de arroz dos estoques públicos para buscar um equilíbrio de preços no mercado interno. O mercado subiu e não foi necessário. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que o Governo tomou uma decisão cautelosa ao cogitar a suspensão das exportações de arroz, mesmo da iniciativa privada. Na avaliação dele, antes de exportar o produto é preciso saber se o volume de arroz que será produzido com a nova safra atenderá a demanda interna. “Não queremos correr o risco de faltar alimentos no Brasil”, disse.


Saiba mais 
Acostumados à queda-de-braço com o Governo pedindo intervenções que elevem os preços, ao menos acima do custo de produção, os arrozeiros gaúchos enfrentaram em abril um desafio contrário: demover o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento da idéia de agir no mercado para segurar as cotações. A diferença é que o arroz tem espaço cativo na mesa do brasileiro e o aumento das cotações no campo impacta direto no orçamento das famílias e na inflação. Não foi à toa que na semana passada o Governo Federal cogitou a proibição total das vendas externas. Na safra passada o Brasil exportou 313 mil toneladas em casca, pouco mais de 2,5% dos 11,95 milhões de toneladas produzidos. Foi o suficiente para estas mudanças no mercado.

 

Em queda

O mercado mundial do arroz seguirá com estoques em queda, segundo estimativas da FAO. O organismo internacional estima que a produção mundial em 2007 aumentou somente 1% para 642,2 milhões de toneladas de arroz em casca (equivalente a 428 milhões de toneladas de arroz branco). Em 2006 foram produzidos 636,4 milhões de toneladas. O crescimento projetado para 2008 é quase insignificante: 0,5%. A produção será de 645,5 milhões de toneladas. 

A FAO também divulgou que os estoques mundiais de arroz no final de 2007 foram revisados para baixo, ficando em 103,6 milhões de toneladas, contra 104,6 milhões de toneladas em 2006. Em 2008, as reservas internacionais devem continuar em queda, pois as perspectivas são de pequeno aumento de produção (0,5%), contra um aumento do consumo global de 1,1%, segundo informa o pesquisador do Cirad francês, Patrício Méndez del Villar. O comércio mundial de arroz deve crescer 1,5% em 2008, chegando a 30,3 milhões de toneladas, contra 29,9 milhões em 2007. As importações devem crescer sobretudo na África.

QUEDA – O analista de mercados do Irga, Camilo Oliveira, afirma que os estoques mundiais garantem o abastecimento pleno de arroz. “Como a produção não acompanha o crescimento populacional, o desafio mundial é até 2050 passar a produzir 260 milhões de toneladas adicionais para alimentar mais 2,8 bilhões de habitantes no planeta”, destaca. Em 1998 os estoques mundiais eram de 197 milhões de toneladas e em 2008 devem ficar em 103 milhões. A África e o Oriente Médio importam 60% do arroz negociado no mercado internacional, ou 16,3 milhões de toneladas.  

 

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