Ao sabor do vento

 Ao sabor do vento

Fartura: a eficiência na produção não se traduziu em rentabilidade para o arroz em 2010

Comercialização do arroz vive o drama da falta de referência em 2010.

Para o rizicultor do Sul do Brasil, que concentra 70% da produção nacional, 2010 é um ano para esquecer os preços de comercialização. Balizados pela paridade de importação do Mercosul e, em alguns momentos, dos Estados Unidos, e pela livre flutuação do mercado – ditada, entre outros fatores, pela lei da oferta e demanda –, os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul voltaram a patamares de 2009 e desceram abaixo da linha dos preços mínimos de garantia do governo federal: R$ 25,80. O cenário é de produtores com baixa rentabilidade, em muitos casos com prejuízos acumulados, rolando dívidas de custeio e EGFs. 

Mas, com o clima amplamente favorável, há expectativa de uma safra recorde em 2010/11 no Sul, que pode superar 9 milhões de toneladas. Isso jogaria uma pressão gigantesca de oferta para a próxima safra, que começa a ser colhida ao final de janeiro em razão do “adiantamento” do plantio no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O Mato Grosso, com déficit de matéria-prima e previsão de redução de área cultivada, vive situação diferente. 

A concentração da matéria-prima no Sul do Brasil, reforçada pelos excedentes do Uruguai e Argentina, que têm no mercado brasileiro seu principal cliente, e, mais recentemente, do Paraguai, cria naturalmente uma pressão regional ainda maior de oferta. Aliando este cenário ao câmbio, que desfavorece as vendas externas e torna o mercado brasileiro mais atraente às vendas do Mercosul, e à correlação com preços internacionais mais baixos em boa parte do ano, a oferta regionalizada cria uma condição de mercado difícil de solucionar. Seria necessário movimentar grandes volumes ou criar esta expectativa para que as cotações mostrem sinais de aquecimento. 

 

Apertem o cinto: o governo sumiu

A ausência completa do governo federal no processo de comercialização do arroz neste ano-safra tornou ainda mais complicada a situação do arrozeiro, que se viu às voltas com um custo de produção próximo de R$ 30,00 e cotações, em média, muito próximas do preço mínimo de garantia. 

No Sul do Brasil praticamente todas as indústrias estão abastecidas para a entressafra, um dos fatores que poderiam afetar positivamente as cotações no mercado interno. 

No Mato Grosso, o desabastecimento existe, mas as 40 mil toneladas demandadas pouco representam diante do excedente concentrado no Sul. 

No final de outubro a média de comercialização no Rio Grande do Sul, segundo análise do site Planeta Arroz (www.planetaarroz.com.br), era de R$ 25,50, mas algumas praças já comercializavam volumes abaixo dos R$ 25,00. “O produtor só vende arroz a estes preços no desespero, quando precisa honrar compromissos e não é mais possível rolar as dívidas, pois estamos desamparados pelas ações governamentais de suporte à comercialização. Vale lembrar que são medidas previstas em lei e com orçamento assegurado”, explica Renato Rocha, presidente da Federarroz.

 

Cofre fechado 

Em 2010 o governo federal, apesar da baixa rentabilidade do arroz, principal produto da cesta básica brasileira, que teve cotações médias abaixo do custo de produção e mergulhou em outubro abaixo da linha do preço mínimo de garantia, concentrou seus mecanismos de comercialização em outros produtos, como o milho. As entidades representativas dos produtores de arroz do Rio Grande do Sul – Federarroz, Irga e Farsul – estiveram mais de 20 vezes em Brasília ao longo de 2010 solicitando mecanismos de comercialização e socorro aos agricultores que tiveram perdas em 33 mil hectares em razão da fúria do fenômeno climático El Niño na safra 2009/10 e terminaram outubro a ver navios, enquanto o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento “discutia soluções”. 

A expectativa é para a liberação de operações de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) a partir de novembro, o que favoreceria a remoção para algumas regiões do Brasil e, indiretamente, à exportação. “O importante é remover esse produto do Sul, de preferência para terceiros países”, explica o diretor comercial do Irga, Rubens Silveira. 

A Federarroz, o Irga e a Farsul encaminharam ao governo federal o pedido de medidas emergenciais para atender a situação atual da comercialização, mas também reivindicaram um pacote de mecanismos de comercialização já para a entrada da safra 2010/11, em fevereiro, como forma de garantir preços e criar referências de cotações ao longo do ano que vem. 

Contratos de opções, PEP, Pepro e Prop são algumas das armas, juntamente com os AGFs e EGFs. “O ideal seria assegurar preços competitivos para exportar, restringir parcialmente a importação e criar cotações referenciais para o segundo semestre com os contratos de opções, dando uma garantia para o mercado se sustentar”, frisa Renato Rocha. 

O que pedem os arrozeiros

• Liberação de recursos/mecanismos de comercialização: contratos de opções, PAA, PEP e Prop (exportação); 

• Liberação do Produsa; 

• Elevação da TEC; 

• Adiamento securitização/Pesa; 

• Desoneração custos (diesel, insumos, exportações); 

• Medida compensatória para o câmbio.

Mecanismos de sustentação para a safra 2010/11: 

• EGF – R$ 700 milhões; 

• Contratos de opções – R$ 500 milhões; 

• Prop – R$ 100 milhões; 

• PEP – R$ 100 milhões; 

• PAA – R$ 50 milhões; 

• AGF – R$ 50 milhões. 

• Total: R$ 1,5 bilhão, equivalente a 50% da produção gaúcha.

Fonte: Federarroz

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter