Preocupação à vista

 Preocupação à vista

Noca colheita promete preços baixos diante das campanhas passadas

Brasil e Mercosul devem colher mais uma grande safra
.

O Brasil deverá colher mais uma grande safra de arroz a partir de fevereiro de 2005. E o que é preocupante: o Mercosul também. A Companhia Nacional de Abastecimento prevê a colheita de 12.074.900 toneladas, cerca de 750 mil toneladas a menos do que na safra 2003/2004. A área brasileira deve reduzir entre 2,9% e 1,7% e a produtividade, 5,1%. O volume a ser colhido, no entanto, é motivo de muita preocupação para os arrozeiros brasileiros, pois justamente o excesso de produto no bloco econômico tem sido a causa de uma depressão acentuada de preços no Brasil, com negociações confirmadas por até R$ 6,50 abaixo do custo de produção para o saco de 50 quilos de arroz, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Na safra 2003/2004, o Brasil colheu 12.808.400 toneladas de arroz, segundo a Conab, para um consumo estimado de 12,6 milhões de toneladas. Trocando em miúdos, haveria uma sobra de 200 mil toneladas para um estoque inicial de 300 mil. Uma sobra ajustada de 500 mil toneladas para o estoque de passagem, o equivalente a 12 dias de consumo nacional. Mesmo com a auto-suficiência nacional, os preços internos deveriam se manter estabilizados acima dos R$ 31,00. Todavia, o acordo de livre comércio do Mercosul, uma ação governamental equivocada na isenção do PIS/Cofins sobre o arroz beneficiado, extensiva ao produto uruguaio e argentino, os excedentes de produção do bloco econômico e, principalmente, a alta competitividade do cereal colhido nos países vizinhos, provocaram uma enxurrada de arroz desse mercado a preços muito abaixo do custo de produção brasileiro. Assim, o estoque de passagem, que inicialmente era previsto em 800 mil toneladas, pode ultrapassar 1,3 milhão de toneladas, o suficiente para um mês de consumo no Brasil. A estimativa é de que mais de 1,1 milhão de toneladas sejam importadas do Mercosul e terceiros países no ano-safra 2004/2005. A Associação dos Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA) estima que só o Mercosul exportará 1,4 milhão de toneladas para o Brasil.

O resultado foi positivo apenas para o consumidor, que está comprando o principal produto da cesta básica brasileira mais barato do que há um ano. Mas esse declínio nos preços começa a gerar prejuízos à cadeia produtiva brasileira e está em jogo a sobrevivência de toda uma cadeia produtiva. Inclusive do Mercosul, pois afeta também a renda desses produtores. “Há momentos em que o mercado lembra uma dramática cena de suicídio coletivo. Quanto mais excedentes o Mercosul mandar para o Brasil, mais são afetados os preços de todo o bloco, menor a renda do produtor e maior o risco de endividamentos, prejuízos e inviabilização do setor, seja no Brasil, no Uruguai ou na Argentina”, destaca o diretor de mercados da Federarroz e colunista da Planeta Arroz, Marco Aurélio Marques Tavares.

Mecanismos de comercialização, estrutura e meios de exportar arroz, aquisições pelo Governo Federal, busca da competitividade com aporte de tecnologia para alta produtividade e equalização das regras do Mercosul são algumas das alternativas buscadas pelos arrozeiros brasileiros, principalmente os gaúchos, para minimizar os efeitos de uma nova grande colheita nacional. 

Questão básica
Os números do primeiro levantamento de intenção de plantio realizado pela Conab, em outubro de 2004, indicam que o Brasil irá plantar entre 3.515.400 hectares e 3.558.900 hectares. Na safra anterior foram plantados 3.618.700. A queda fica entre 2,9% e 1,7%. A produtividade média nacional deve ficar em 3.414 quilos, contra 3.599 da safra passada (-5,1%), e a produção final terá uma média de 12.074.900 toneladas, 5,7% menor do que a última campanha agrícola do arroz. A estimativa máxima de produção identificada pela Conab é de 12.171.400 toneladas e a mínima de 11.978.400 toneladas. Estes números certamente serão alterados, pois no Rio Grande do Sul o Irga corrigiu a área para 965 mil hectares (com tendência de alta) e a Emater/ RS estima a área em 1,008 milhão de hectares. As chuvas de outubro e novembro foram suficientes para uma boa recuperação dos níveis das barragens da fronteira-oeste gaúcha, o que está fazendo os produtores aumentarem a área de última hora.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter