Mercados mundiais voltarão a depender em 2015 dos bancos centrais
Os mercados buscarão liquidez em outras partes: já no início do ano, o Banco Central Europeu (BCE) deve se juntar ao Banco do Japão (que compra muitos ativos) e ao Banco Central chinês na redução de suas taxas de juros.
"Em 2015, como acontece há sete anos, serão as intervenções dos bancos centrais que influenciarão os mercados", resume Romain Boscher, responsável pela gestão de ações na agência Amundi.
Na intenção de reativar a economia, há vários anos os grandes bancos centrais injetaram grandes somas de dinheiro no sistema, baixaram as taxas de juros a mínimos históricos e alguns compraram ativos de atores do mercado.
As bolsas, constantemente irrigadas por esses fluxos, se saíram bem e o prêmio de risco das dívidas soberanas baixaram. Wall Street atingiu grandes altas, a Europa se prepara para terminar o ano no positivo, apesar de um crescimento fraco, e a Bolsa do Japão subiu.
"Em 2015, as coisas não devem mudar muito, a menos que a política dos bancos centrais mude", disse Mathieu L’Hoir, estrategista do banco Axa IM.
O Fed começou a mudar sua política monetária com a recuperação da economia norte-americana e se espera uma elevação das taxas de juros em 2015. O Banco da Inglaterra deve optar pelo status quo.
Os mercados buscarão liquidez em outras partes: já no início do ano, o Banco Central Europeu (BCE) deve se juntar ao Banco do Japão (que compra muitos ativos) e ao Banco Central chinês na redução de suas taxas de juros.
"O BCE está de mãos e pés atados mas terá que fazer alguma coisa. É urgente, considerada a evolução da inflação, muito baixa", prevê L’Hoir.
Uma nova expansão quantitativa do BCE beneficiará, sem dúvida, diretamente os mercados europeus, que acompanham o enfraquecimento do euro.
"O centro de gravidade dos bancos centrais voltam para a Europa", diz Boscher, para quem "a desvalorização do euro deve impulsionar em 2015 os lucros das empresas".
Menos centrado
Para os economistas do banco holandês ING, "as discrepâncias de política monetária podem fazer que os mercados financeiros fiquem menos centrados nos Estados Unidos".
No que se refere aos riscos, além dos habituais temores geopolíticos (Ucrânia), ou incertezas eleitorais (Reino Unido, Espanha), a ação de longo prazo do Fed pode gerar alguma reviravolta.
"A consequência das discrepâncias entre os bancos centrais será uma maior volatilidade nos mercados", avalia L’Hoir.
Para Christopher Low, economista do FTN Financial, "enquanto o Fed não se deixar levar e não aumentar demasiadamente suas taxas, as bolsas se comportarão corretamente", em particular nos Estados Unidos.
A restrição monetária americana e a alta do dólar serão sentidas no mundo todo, em particular nos países emergentes, muito dependentes da moeda americana.
"Quando há uma mudança de política monetária nos Estados Unidos, há uma mudança de política monetária mundial", lembra L’Hoir.
Entretanto, o impacto nos emergentes "será muito menos violento do que o que vivemos na segunda metade de 2013", quando o Fed sinalizou que encerraria sua política de expansão quantitativa.
Alguns países emergentes poderiam encarar melhor esta mudança devido à queda do preço do petróleo.
"O petróleo é uma espécie de reestruturação orçamentária em massa em escala mundial, particularmente nos países que subsidiam a energia", afirma L’Hoir.
Em 2015, os mercados também poderão contar com a abertura financeira da China, com o projeto "Shanghai-Hong Kong Stock Connect" lançado em novembro de 2014 e que permite aos investidores do mundo inteiro o acesso direto às ações chinesas.
"A China está dando lugar ao segundo maior mercado financeiro mundial", analisa Boscher, "mas ainda levará anos para se consolidar", completa.