Crise evidencia assimetrias do Mercosul
Quebra produtiva em 2016
viabilizou compra externa.
Após a quebra substancial na safra 2015/16, os preços do arroz no Brasil permaneceram altos. Os estoques recuaram a 353 mil toneladas no final do ano-safra, suficientes para 11 dias de consumo.
“Os preços internos estavam acima dos internacionais e, com a oferta voltando à normalidade na safra 2016/17, o ajuste teria que acontecer”, explica o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado. Em meados de fevereiro, a média no mercado gaúcho era de R$ 49,21/saca e o contrato spot na Bolsa de Chicago era de R$ 31,73/saca (-35%).
No mesmo período, dentro do Mercosul, no CIF de São Paulo, o arroz nacional beneficiado era indicado a R$ 66,00 o fardo de 30 quilos, enquanto o dos países do bloco comercial chegava à praça de consumo na média de R$ 57,78/fardo (-10,94%).
“Sem espaço para competir em mercados atendidos pelos maiores exportadores extra-Ásia (Estados Unidos), os fornecedores da América do Sul foram atraídos pelos preços elevados do Brasil”, resume Bento.
Na colheita do Mercosul, a cotação se ajustou entre março e maio. Mas depois de encerrada houve um segundo movimento de lateralidade, até a segunda quinzena de agosto. Então houve um terceiro movimento que foge ao comportamento sazonal.
É histórico entre agosto e novembro os maiores preços do arroz em casca brasileiro no ano comercial, mas na atual temporada, no entanto, deu-se início a uma retração das cotações, que na média do Rio Grande do Sul se aproximou dos R$ 36,00/saca.
Em algumas regiões, o preço no mercado livre chegou ao nível do mínimo estabelecido pelo governo (R$ 34,97/saca), levando o setor produtivo a pleitear a intervenção governamental.
Apesar das especulações sobre a realização de leilões para retirar 300 mil toneladas do cereal do Rio Grande do Sul, até o início de novembro nenhuma operação foi programada.
Para amenizar a queda das cotações, o setor produtivo solicitou, e foi atendido, a prorrogação de custeios que ocorreriam entre julho e agosto. Em tese, o fôlego financeiro pelo alongamento dos vencimentos possibilitaria ao produtor segurar a oferta e os preços ganhariam força.
Porém, a agressividade de fornecedores externos, como o Paraguai, anulou a firmeza que eventual retração da oferta interna teria nos preços domésticos. O resultado foi que os grandes atacadistas e varejistas tomaram como referência a paridade de importação com o cereal paraguaio para balizar o mercado interno.