Rentabilidade e reformas: os grandes desafios do setor
A nossa lavoura teve nos últimos 20 anos um aumento de produtividade em torno de 50%, ou mais. A que se deve isso? A diversos fatores, sendo talvez o mais importante a necessidade de buscarmos cada vez maior eficiência para continuar produzindo. Porque isso aconteceu? Houve maior abertura comercial ao mundo, além do advento do Mercosul, onde estabeleceu que a produção dos países membros poderia entrar no Brasil sem trava, embora com custos de produção mais baixos.
Foi, na verdade, uma grande injustiça que se cometeu contra o produtor brasileiro, não só de arroz, como também de outros setores agropecuários. Mas, isso também fez o brasileiro, exercendo seu instinto de sobrevivência, buscar produzir com custo por saca cada vez menor, resultando em maior produtividade e eficiência.
Muitos sucumbiram nesse período, outros se tornaram dependentes do financiamento da indústria, por esgotarem outras possibilidades de crédito. Houve, portanto, grande transferência de renda do setor produtivo ao industrial, que muitas vezes passou a atuar como fonte de financiamento. Não podemos condenar quem pratica tal modalidade de negócio. Ninguém é obrigado a fazê-lo.
Nós produtores passamos os últimos dez anos com margens de lucro baixas ou até mesmo negativas, o que trouxe dificuldades para a manutenção dos negócios. As intervenções do governo na comercialização diminuíram, havendo portanto um certo “desmame” do produtor, o que se deu mais por falta de recursos do que por convicção. Entretanto, foi benéfico, apesar de alguns produtores se manifestarem de forma saudosa a respeito.
Para o produtor aumentar a produtividade, contou com o apoio de órgãos de pesquisa como Irga e Embrapa. Concluo, portanto, que nos últimos 20 anos houve fantástica evolução da porteira para dentro, apesar do período difícil no tocante à comercialização, preços, tributos, etc…
Para as próximas décadas, o maior desafio talvez será o mesmo dos últimos anos: rentabilidade.
E como podemos alcançar esse objetivo? Em parte, o produtor já cumpre seu papel ao buscar alta eficiência da porteira para dentro. E da porteira pra fora? Estamos vivendo um momento de otimismo nos preços em razão do câmbio e baixo estoque de passagem. Mas quanto tempo durará? Os preços remuneradores que estão sendo praticados na atual safra, certamente estimularão algum aumento de área.
Contudo, depois de anos tão difíceis que o setor enfrentou, o produtor refletirá sobre a conveniência de aumentar o plantio, sob pena de daqui a um ano, voltarmos a conviver com preços baixos. O câmbio no Brasil é flutuante, portanto, assim como está bom para o exportador, poderá estar invertido. Neste caso, para continuarmos competitivos no mercado internacional só existem duas maneiras: ou baixamos nosso custo de produção, por aumento de produtividade, ou o Estado brasileiro baixa a carga tributária (difícil de acontecer).
Assim, só nos resta a hipótese de produzirmos um volume em equilíbrio com a demanda. Porém, isso nos leva a outra reflexão: exceto sob condição de excepcionalidade, nossos preços estão atrelados ao mercado internacional, onde sabemos que nossos competidores (ao menos os maiores players) praticam protecionismo aos seus agricultores. Na verdade não competimos com os produtores desses países, mas com políticas governamentais intervencionistas.
Por princípio, sou contra interferências de governo por entender ser caro e contraproducente. Mas considerando a realidade mundial, onde predomina essa prática, e partindo do pressuposto que nosso país queira preservar a produção, teremos que encontrar maneira de nos proteger contra tais políticas. Talvez se dê através de boas negociações comerciais, onde o Brasil inclua o arroz nessas pautas de forma objetiva.
Por último, temos que insistir numa profunda reforma no Irga, Instituição criada e mantida pelo arrozeiro, mas que tem ainda uma gestão complicada por ser um órgão estatal. O governo está prometendo nos atender, mas parece estar reticente quanto à necessidade de fazê-la. Temos que insistir por ser fundamental e absolutamente lógico que aconteça.