Soja 2021: salvo surpresas, rentabilidade garantida
Argemiro Luís Brum
Professor do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/DACEC/UNIJUI).
Neste ano 2020/21 o Brasil espera colher 133 milhões de toneladas de soja, em clima normal. Deste total, o Rio Grande do Sul espera chegar a 18,9 milhões de toneladas, após a frustrada safra passada.
A área semeada no Estado gaúcho, pela primeira vez na história, ultrapassa os 6 milhões de hectares, graças a cerca de 1,5 milhão semeados na chamada metade sul do Estado, região tradicional de arroz e gado de corte e, que, nos últimos 10 anos avançou significativamente na produção de soja.
Além do clima, e considerando prêmios em Rio Grande entre US$ 0,50 e US$ 0,70/bushel neste primeiro semestre, o comportamento do câmbio e das cotações em Chicago são os elementos centrais. Quanto ao câmbio, o mesmo tem flertado com o patamar dos R$ 5,00 por dólar, porém, a situação da economia nacional, por enquanto, não permite ainda apostar em uma revalorização do Real mais consistente, embora esta seja a tendência futura.
Assim, trabalhar com um câmbio entre R$ 5,00 e R$ 5,20/dólar, no curto prazo, nos parece coerente com a realidade nacional. Já em Chicago, a partir de julho/20 assiste-se a um movimento especulativo altista importante, com a média do primeiro mês cotado passando de US$ 8,67/bushel, em junho, para US$ 12,07 em dezembro (+ 39,2% em seis meses), sendo que no dia 14 de janeiro/21 a cotação já estava em US$ 14,36/bushel.
Esta última cotação não era vista desde o final de junho de 2014. A rapidez com que o aumento das cotações ocorreu configura uma bolha especulativa que, normalmente, se desfaz também rapidamente. Portanto, muita atenção à Chicago.
Mas alguns fatores concretos na oferta e demanda mundial da soja permitem especular cotações ainda acima dos US$ 10,00/bushel nos meses futuros: o comportamento errático do clima nos países produtores sul-americanos, sob efeito do fenômeno La Niña; uma produção estadunidense, em 2020, menor do que o inicialmente apontado, ficando agora em 112,5 milhões de toneladas, contra 121 milhões inicialmente previstos; isso reduziu os estoques finais nos EUA, na previsão para 2020/21, para níveis baixíssimos, ficando agora estimados em 3,8 milhões de toneladas, contra 14,3 milhões no ano anterior e 24,7 milhões dois anos atrás; uma demanda chinesa que se mantém firme, devendo atingir a um total de 100 milhões de toneladas em importação no corrente ano comercial.
Dito isso, a partir do final de março dois outros elementos entram em cena: a real produção de soja na América do Sul, então em fase final de colheita; e a intenção de plantio nos EUA, prevista para o dia 31/03. No primeiro caso, espera-se uma colheita final ao redor de 196 milhões de toneladas (incluindo Bolívia e Uruguai), contra algo em torno de 188 milhões um ano antes. No segundo caso, a tendência é de um aumento na área de soja estadunidense, mesmo com o preço do milho igualmente subindo em Chicago.
Neste contexto, os preços da soja no Rio Grande do Sul, tendem a girar ao redor de R$ 105,00 e R$ 145,00/saco no final da colheita (lembrando que o preço médio gaúcho em meados deste mês de janeiro era de R$ 150,00/saco).
Valores estes que estão dentro dos patamares fixados pelos produtores que fizeram vendas antecipadas (mais de 35% no Estado) e que permitirão ganhos bem mais interessantes em comparação com a média obtida no ano passado.
Portanto, considerando os custos de produção, salvo surpresas, a soja mais uma vez resultará em ganhos econômicos importantes neste ano, inclusive na comparação com o arroz.
Todavia, o problema central continua sendo o clima até a colheita, pois não há preço que pague frustração de safra.