Falta de contêiner freia exportação
(Por Nereida Vergara, Correio do Povo) A escassez mundial de contêineres para exportação está levando a comercialização de alguns produtos do agronegócio gaúcho e nacional a uma situação preocupante e sem perspectiva de melhoria no curto prazo.
Entidades como a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) já alertaram para as dificuldades que as indústrias estão encontrando para atender suas vendas internacionais.
“Estamos sendo atingidos nas nossas exportações, sem conseguir atender mercados como os do Peru e dos Estados Unidos, a não ser que se banque uma diferença exorbitante nos fretes”, reclama o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Élio Jorge Coradini Filho.
O dirigente, um dos proprietários do Engenho Coradini, de Dom Pedrito, explica que o frete de um contêiner para o Peru, que há seis meses custava 1,1 mil dólares, hoje está em 3,5 mil dólares. No caso dos Estados Unidos, a majoração é ainda maior, de 1 mil para 5 mil dólares. “Ou aceitamos os preços para conseguir exportar, o que não cabe na nossa margem de lucro, ou ficamos com o arroz represado e poderemos perder mercados que levamos anos para conquistar”, complementa.
Renê Wlach, diretor comercial do Terminal de Contêineres do Porto de Rio Grande, reconhece que o momento é complicado, mas afirma que ele atinge todos os terminais portuários brasileiros, não só o gaúcho.
A explicação, segundo Wlach, é que a pandemia afetou as importações do Brasil e, como o trânsito de contêineres ficou menor, se criou este quadro de crise. Walsh revela ainda que apenas três empresas localizadas na China fabricam este tipo de equipamento. Todas já anunciaram que estão fabricando mais, mas ainda têm dificuldades para atender a demanda global. “Houve uma desorganização na logística do mundo inteiro”, ressalta.
O diretor do Tecon destaca que não é apenas o arroz beneficiado que enfrenta problemas de escoamento em razão da falta de contêineres, mas também o setor de proteína animal. Wlach diz que as câmaras frigoríficas do porto estão lotadas de produtos aguardando a disponibilidade de recipientes para transporte.
“Isso pode fazer com que as empresas abatam menos e trouxe de volta a procura dos exportadores por navios com câmaras frigoríficas, para contornar o problema”, comenta.
Conforme o presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos, a possibilidade de contratação de navios com compartimentos refrigerados existe para as grandes empresas, que têm relacionamento mais estreito com os armadores, mas não está ao alcance das menores.
O coordenador da Comissão de Infraestrutura e Logística da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Fábio Avancini Rodrigues, acredita que, com a regularização das importações por parte do Brasil, a chegada de contêineres tende a se normalizar a partir do ano que vem. “É um problema que se disseminou pelo mundo e que não atinge só produtos do agronegócio, mas tudo que dependa deste tipo de recipiente”, completa.