Condições de estrada divide arrozeiros e tambeiros em Entre Ríos
(Por La Nación, Argentina) Uma estrada rural com mais de 30 quilômetros de percurso, localizada no coração do Departamento San Salvador, na Província de Entre Ríos, Argentina, é fonte de conflito e disputa entre arrozeiros e pecuaristas contra a empresa de laticínios “Los Menchos”, pertencente à família Garat, que tem quatro tambos na região. Enquanto isso, no meio da luta, segundo os produtores, “um estado ausente prefere olhar para o outro lado”.
Segundo produtores da região que têm seus estabelecimentos naquela estrada rural, toda vez que chove, para levar os mais de 20 mil litros de leite para terra firme, a família Garat deixa de usar outra estrada para passar por “uma alternativa para ela, mas a principal para os demais vizinhos”.
O que desencadeou a indignação dos agropecuaristas da região, conforme dizem, foi que na semana anterior a Zona de San Salvador, da Direcção Provincial de Estradas, tinha começado as obras de recuperação de um pedaço da dita estrada e depois de chover, a família Garat, para retirar sua produção, a destruiu novamente. Ao longo desta jornada existem duas escolas rurais, armazéns e trabalhadores agrícolas que vêm e vão de San Salvador.
Marcelo Cattaneo é arrozeiro e um dos vizinhos: “O problema é antigo e está piorando. Estamos lutando contra um Estado que não está presente e os poucos recursos que são alocados são destinados a outras questões”, declarou.
Cada vez que chove, a empresa de laticínios deve escoar sua produção – de mais de 20 mil litros – diariamente em três tratores com caminhões-tanque. Na última terça-feira, os produtores, muito indignados com a situação, a atravessaram uma grade e outros equipamentos no meio da estrada para evitar que a família tambeira passasse com seus três tratores e tanques de laticínios.
Depois de um tempo, a passagem foi liberada em apenas um lado da pista. “Tivemos que ser drásticos e cortar o caminho dos leiteiros com maquinário para que eles parem de passar e a estrada não continue sendo danificada. Desta forma, também é visualizado o grave problema que temos na área. Desde 2008 foram apenas remendos feitos pela empresa responsável pelas estradas provinciais”, explicou.
Do outro lado do conflito, Francisco Garat, gerente do estabelecimento “La Negrita” e proprietário da empresa de laticínios, não se desvinculou de suas responsabilidades e reconheceu que são seus veículos que destroem a estrada.
“São áreas argilosas que quando chove fica mais difícil viajar. Mas não podemos parar de tirar leite todos os dias porque essa é a nossa atividade. Compreendemos a raiva dos vizinhos. Há muito tempo que reclamamos para que a empresa rodoviária e o governo de Entre Ríos consertem e mantenham, mas nunca o fizeram”, disse.
Outro vizinho indignado é o arrozeiro Héctor Müller. Ele apontou para o “estado ausente” porque “ele não está interessado no que produz”.
“Temos conversado incansavelmente com os donos do laticínio, mas parece que eles não entendem. É por isso que tivemos que pegar o touro pelos chifres. Não queremos que ele saia da atividade, mas ele deve estar ciente de que deve investir na manutenção deste caminho”, comentou.
“Existem duas soluções que você pode fazer agora. Por um lado, adapte os reboques com borrachas de alta flutuação e, por outro, invista em um sistema de refrigeração no estabelecimento para que por vários dias de chuva possa esperar sem retirar a produção e a estrada fique um pouco mais seca. Também deve ter seu próprio maquinário para poder fazer a manutenção da estrada. Entre todos deve haver boa vontade. Devemos ser solidários”, acrescentou o rizicultor.
Na manhã desta quarta-feira, os produtores dobraram a aposta e, após o primeiro corte do dia anterior, acrescentaram tratores e caminhões para dificultar ainda mais a passagem. Nesse contexto e diante de uma situação insustentável, Garat se reuniu com Juan José Bahillo, Ministro da Produção, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Entre Ríos, que prometeu visitar a região para solucionar o problema.
“Concordamos que é preciso dar uma solução rápida e precisamos que as autoridades cuidem disso. Desde que embarcamos no projeto, nos foi prometido que se o desenvolvêssemos e fornecêssemos postos de trabalho, eles cuidariam para que as estradas estivessem em boas condições”, disse Garat.
Com uma trégua parcial de alguns dias, para Cattaneo é fundamental que o produtor de leite se encarregue das reivindicações ao governo provincial.
“Sabemos que os tempos da política não são iguais aos do campo. Estamos cansados de tantas promessas e se isso não for resolvido iremos às últimas consequências e esgotaremos todas as instâncias”, afirmou o agricultor.