A brusone contra-ataca

 A brusone contra-ataca

Brusone do pescoço: risco aumenta no RS

Doença fúngica quebra resistência das cultivares IRGA 424 “comum” e RI
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A safra 2018/19 trouxe a confirmação de uma má notícia que a cadeia produtiva gaúcha não precisava: a brusone (Pirycularia oryzae), doença causada pelo fungo Magnaphorthe oryzae, quebrou a resistência das cultivares IRGA 424 e IRGA 424 RI, que agora são consideradas suscetíveis.

Isso faz com que a safra que está iniciando tenha não mais do que 200 mil hectares semeados com variedades resistentes – considerando Irga 431 CL, Pampa CL, BRS Sinuelo e algumas cultivares da Embrapa, da Epagri e híbridos –, o que já antecipa a necessidade de realizar duas a três aplicações de fungicidas em boa parte das lavouras, o que aumenta os custos.
Em uma década, o Rio Grande do Sul passou de 20% das lavouras cobertas com fungicida para 150%, segundo o Irga. Agora, a estimativa é de que alcance mais de 250% com uma dose mesmo nas plantas resistentes e até quatro nas mais suscetíveis. Na safra 2019/20, ao menos em uma lavoura da Região Central, a ocorrência foi considerada de alta severidade e poder de danos.

O fungo havia quebrado a defesa genética no Tocantins e no Paraná e apresentava sinais em pequena quantidade de plantas na Região Central gaúcha desde o ciclo 2016/17. Quando foram lançadas as variedades, pesquisadores alertavam para a necessidade do agricultor combinar cuidados de manejo e defensivos para manter o status das plantas, pois a tendência é de que a grande variabilidade do fungo encontre maneiras de evoluir e superar as defesas.
Identificada a doença, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) fez circular comunicado entre seus técnicos e produtores reforçando as recomendações. Ivo Mello, coordenador do Irga na Fronteira Oeste, explica que foram notadas coincidências de problemas de manejo onde ocorreu a brusone: plantio fora da época, volume de nutrientes e falhas na irrigação, que aumentaram a pressão do fungo sobre o estande.

PRESSÃO

A ocorrência da doença depende das condições nutricionais da planta e do ambiente e da presença do patógeno. “Reunindo os três há pressão, e a tendência é de que o fungo supere a barreira genética da planta”, frisa.

O professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ivan Francisco Dressler da Costa, presidente eleito da Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), afirma que em 2016/17 foram encontradas algumas lavouras com plantas apresentando sintomas de brusone na Região Central que dispararam um alerta. “Era questão de tempo”, considera. Já no Litoral Norte, produtores realizaram testes ao perceberem os primeiros sinais e adotaram manejo preventivo. É o caso de Geraldo Azevedo: “Notamos sinais de enfraquecimento da resistência, fizemos testes e nossa assistência técnica agiu rápido para prevenir o problema”, explica.

RESPONSABILIDADE

Dressler da Costa considera que ao depositar toda a responsabilidade para conter a doença apenas na resistência genética, o produtor assume um risco muito alto. “A partir do que temos observado, mantemos a recomendação do manejo integrado com práticas culturais e uso de fungicidas, até porque, há outros fungos que atacam o arroz, como o falso-carvão e o mancha parda. É preciso associar as práticas”, aponta.

A IRGA 431 CL, que alcançará 100 mil hectares em seu primeiro ciclo comercial, é considerada resistente. Ainda assim, os agricultores precisarão de um manejo próximo da perfeição e lançar mão do uso de defensivos para minimizar os riscos. “Nas últimas safras, em geral, não tivemos o clima como fator de pressão da doença, mas ainda assim ela avançou aonde encontrou condições para se instalar”, finaliza Dressler da Costa.

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