A todo o vapor
Calcado na desvalorização maior do real perante o dólar pela crise política,
o Brasil exporta todo o arroz que pode.
Se tem algo que o Brasil aprendeu na última década no mercado do arroz é que não se deixa o cavalo passar encilhado sem montar. O bordão gaúcho – estado que exporta 95% do arroz embarcado para outros países – serve bem para caracterizar as vendas externas do cereal nacional. Somente a partir de 2009/10 o Brasil já exportou 8,8 milhões de toneladas contra 5,9 milhões importadas. O saldo é de 2,86 milhões de toneladas, levando em conta o que projeta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a atual temporada e a próxima.
Tradicional importador de 800 mil a 1 milhão de toneladas de arroz por ano na última década, principalmente do Mercosul, o Brasil caminha no sentido de garantir mais um ano de superávit líquido na balança comercial do grão nesta temporada. A evolução do dólar sobre o real brasileiro – que desvalorizou mais do que a média das demais moedas por conta da crise política – vem ajudando o país a vender arroz.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o grão em casca vem se tornando importante mercadoria para enxugar o mercado brasileiro ao longo de 2015. Somente até setembro, neste ano comercial 2015/16 – que vai de 1º de março de 2015 a 28 de fevereiro de 2016 –, foram embarcadas pelo Brasil 733 mil toneladas do cereal, com média de 104,7 mil toneladas ao mês, volume similar ao alcançado em 2014/15.
Mantido o ritmo, o país poderá alcançar 1,25 milhão de toneladas colocadas em outros mercados na temporada, superando as 1,18 milhão alcançadas no ano passado. Foram seis meses de vendas, e um percentual elevado de posicionamento no mercado exterior.
Em geral, o Brasil tem um superávit comercial de 443 mil toneladas no ano, que pode chegar a 700 mil toneladas. Essa condição é garantida pelo fato de as importações seguirem baixas. Em setembro elas alcançaram 27,3 mil toneladas em base casca, sendo a menor do ano. O dólar valorizado mantém essa situação de baixa concorrência do cereal dos países vizinhos apesar da volatilidade apresentada nos últimos dias.
Uma eventual desvalorização do dólar sobre o real – abaixo de R$ 3,60 – já assanha os produtores paraguaios e argentinos, especialmente.
Na temporada, as importações brasileiras alcançam 290 mil toneladas em base casca, volume que representa menos de 60% do adquirido pelo Brasil em 2014/15 até esta época. Mantida a média de importação, o país deve adquirir cerca de 500 mil toneladas, volume quase 80 mil toneladas menor do que no ano passado.
FIQUE DE OLHO
No segundo semestre deste ano o Brasil iniciou ações setoriais e governamentais pela abertura de novos mercados para exportar arroz. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, reuniu-se com o seu equivalente no México, e tudo indica que até o final de 2015 os últimos detalhes para liberar a entrada de arroz brasileiro por aquele país estarão concluídos. O diretor comercial do Irga, Tiago Sarmento Barata, foi à Nigéria negociar a liberação das taxas de 120% que impedem a exportação de arroz para aquele que já foi o maior destino do cereal brasileiro. Os nigerianos se interessaram pela tecnologia do Irga, mas também abriram conversações para reduzir as barreiras tributárias, que podem cair para 30%. Ainda assim, altas. Por fim, a Farsul trouxe ao Rio Grande do Sul para uma reunião com o setor a embaixatriz cubana, que ratificou o interesse na parceria e na continuidade das compras de arroz gaúcho.