Agricultor deve estar atento à janela mais curta para exportar arroz em casca
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) O mercado do arroz em casca no Rio Grande do Sul encerrou o mês de fevereiro com as cotações apresentando um recuo de 14,24%, segundo o Indicador Cepea/Irga-RS, e confirmando um período de sete semanas de queda e algumas praças referenciando a saca de 50 quilos da nova safra abaixo de R$ 100,00. Este vinha sendo o ponto de resistência para a queda nos preços últimos dias e ainda se mantém como mínima para o grão da safra “velha”, negociado entre R$ 105,00 e R$ 110,00 no litoral sul. A expectativa de que seja formado um “preço-safra” fica para o período posterior a 20 de março, quando o grande volume da safra, estima-se que em dois terços, será colhido.
Nesta terça-feira, dia 5 de março, o indicador de preços Cepea/Irga-RS, para o arroz em casca no RS caiu 1,36%, encerrando a R$ 102,63/saca de 50kg como média.
Em Santa Catarina, preços se mantiveram entre R$ 95,00 e R$ 100,00. Houve certa estabilidade no segundo maior produtor do Brasil. Convenhamos que essa faixa ainda é composta por bons valores de comercialização, e melhores ainda se comparados às outras commodities. Mas, quem chegou acima dos R$ 128,00 de média, não se contenta com valores abaixo de R$ 100,00, não é mesmo?
A questão, porém, é até aonde vai essa queda e quem vai sentir seu impacto.
Em tese, quem colher mais tarde tende a sentir mais, pois perdeu a primeira janela de comercialização “pré-safra”, mas são estas lavouras que apresentam melhor aspecto na maioria das regiões, logo, podem ter melhor produtividade. Ainda assim, há bons rendimentos registrados nas primeiras colheitas, mas em algumas regiões a largada para a colheita mostrou rendimentos pouco inferior ao ano passado. Os bons índices de radiação solar em janeiro e fevereiro devem trazer resultados acima do esperado em muitas áreas semeadas no tarde. Entretanto, somente ao final de março, início de abril, será possível ter uma previsão mais próxima da realidade.
Sinalizando continuidade da trajetória baixista, o mercado tem sido um pouco mais ofertado por quem está colhendo as primeiras lavouras, limpando os silos para receber nova safra ou quem precisa fazer caixa para cobrir despesas do primeiro semestre. Indústrias de menor porte e sem grande capacidade de estocagem seguem pagando valores maiores para obterem grão de qualidade. Neste caso, há negócios. Contudo, são condições de exceção.
Grandes indústrias concentraram-se em receber arroz e só realizam negócios de oportunidade e permanecem fora de mercado. Sabem que semanalmente os preços devem cair mais e, pelos valores praticados interna e externamente, não sofrem concorrência das tradings.
Mas, não é só isso. Muitas processadores se queixam de baixas vendas no primeiro bimestre deste ano, influenciadas pelas férias escolares, o que afeta o equilíbrio econômico das indústrias. Assim surgiram ofertas nas gôndolas de cinco quilos de arroz abaixo dos R$ 18,00, que já não se via há meses.
No momento, o grão dos EUA é mais competitivo que o gaúcho, apesar dos sérios problemas de qualidade e diante da notícia de que o cereal branco exportado ao Haiti tem doses elevadas de cádmio e arsênico. Ainda assim, os estadunidenses dominam a oferta nas Américas e Caribe enquanto a safra do Mercosul, em especial do Brasil, está indefinida.
No RS, a colheita começou nas áreas plantadas mais cedo, antes das chuvaradas, em especial na Fronteira-Oeste e Zona Sul. A região Central, mais atingida pelas enchentes, é a mais atrasada. Devemos ter uma pausa, ou pelo menos lentidão nas operações de ceifa, coincidindo com as chuvaradas no plantio.
Desta maneira, não há grandes volumes do cereal disponíveis a serem negociados nem para o mercado interno e nem para o externo, o que inviabiliza as exportações. Fechar contrato hoje para uma mercadoria que será recebida daqui a 30 ou 40 dias, e provavelmente com preços menores, é um risco que ninguém quer correr. E o agricultor não está disposto a comercializar a matéria-prima a preços menores que os atuais, mesmo que antevendo um ponto futuro e ainda que para a exportação e entendendo que precisa equalizar a oferta interna. São negócios individuais, não coletivos, e cada um mira a sua própria realidade.
JANELA CURTA
O atraso na safra e a conjuntura dos mercados interno e externo indicam que a janela de embarques do Brasil tende a ser mais curta, e concentrar-se entre os últimos dias de abril e o início de setembro. Uma das significativas indicações desse cenário está relacionada à oferta dos Estados Unidos, que deve aumentar em 4,7% a sua área semeada de arroz em 2024 e realizar nesta temporada uma de suas maiores colheitas.
A virada de clima, de El Niño para La Niña, faz prever uma safra favorável em produtividade e qualidade no Hemisfério Norte, diferentemente da última temporada. Esse aumento de área se deve, também, à queda nos valores de commodities como soja e milho, que tornam a orizicultura mais atrativa. No entanto, sempre é bom lembrar, que a atratividade pode acabar rapidamente com um avanço mais significativo da oferta.
Isso já reflete nos preços futuros do arroz na Bolsa de Chicago, que a partir de maio entra em espiral crescente, e mantém os contratos de março (US$ 18,22) maio (US$ 18,61) e julho (US$ 18,68) em patamares elevados, e recua para US$ 14,52 por quintal curto (cwt=45,36kg) em setembro/24, o que equivaleria a US$ 320,17 por tonelada frente aos US$ 402,00 de março, US$ 408,20 de maio e os US$ 412,00 de julho.
Portanto, a partir de setembro, já negociando contratos antecipadamente, os EUA voltam muito competitivos ao mercado internacional e entram com um preço por tonelada até 90 dólares por tonelada abaixo da entressafra.
Por aqui, atualmente, nossa cotação média está entre US$ 415,00 a US$ 425,00, competindo com valores US$ 40,00 abaixo com os EUA apenas no produto, sem contar a vantagem de frete pró-americanos que pode chegar a US$ 60,00. Numa diferença de US$ 20,00 no grão, por tonelada, conseguimos competir pela qualidade superior do grão brasileiro (e do Mercosul). A América Central e alguns mercados, inclusive dos EUA, aceitam pagar US$ 20/25,00 a mais pelo diferencial qualitativo desta matéria-prima.
Importadores sul, centro e norte-americanos têm buscado cotações diárias com as tradings e corretoras brasileiras e os olhos do mundo estão voltados ao Mercosul em busca de abastecimento de arroz. Afinal, aqui ocorre a grande safra do momento no Hemisfério Sul. Mas, carregamentos do Brasil ainda dependem de preço. Hoje, mesmo se o produtor aceitasse destinar arroz a R$ 95,00, colocado no porto, para a exportação, não haveria negócios por falta de oferta. Não há volume suficiente para fechar um navio. Isso equivaleria a R$ 88,00 livres na Fronteira e R$ 90,00 a R$ 92,00 no Litoral Sul.
Toda essa conjuntura indica, pela fotografia do momento, que o segundo semestre não será um bom momento para negócios internacionais aos comerciantes do Mercosul. Desta maneira é importante que o agricultor, no mercado do arroz em casca, esteja atento às condições e bem informado.
A entrada de uma grande safra norte-americana e uma tendência dos preços internos entrarem em recuperação no segundo semestre, tendem a manter o mercado pressionado. E a história recente demonstra que o consumo interno brasileiro não dá suporte a preços mais altos sem que haja um movimento de vendas internacionais mais forte.
Trocando em miúdos, se o Brasil não exportar bem nesta janela de maio, junho, julho e agosto, poderá chegar a setembro com preços menores do que em abril e um produtor “casado” com o estoque.
Neste cenário, dificilmente o Brasil conseguirá alcançar 1,75 milhão de toneladas exportados em 2023 e menos ainda os 2,1 milhões de toneladas de 2022. A Conab prevê um saldo superavitário na balança comercial do grão, em 50 mil toneladas, projetando exportação de 1,5 milhão de toneladas e a importação de 1,45 milhão em 2024.
Claro que muita coisa pode mudar em um mundo com recordes de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial, com risco crescente de pandemias, e fatores que podem alterar-se como câmbio e a relação de oferta e preços, que tem hoje na Índia um grande protagonista.
Mas, na situação atual, é este o retrato e é esta a expectativa futura, o que recomenda aos rizicultores essa atenção especial às exportações como forma de ajudarem a garantir preços mais estáveis e em melhores patamares ao longo do segundo semestre internamente.
Se o dólar subir a US$ 6,00 e os EUA colherem mal por algum fenômeno, a situação poderá se alterar, também. Mas, não é essa não é a perspectiva. Pelo contrário, se espera dólar mais perto de R$ 4,50 e uma supersafra americana.
FATOR ÍNDIA
Também se espera que após junho, quando findam as eleições gerais na Índia, que o maior exportador global volte a ofertar livremente no comércio internacional. Hoje o país restringiu os negócios e só exporta arroz aromático ou governo-a-governo com seus parceiros estratégicos.
Ainda assim, uma queda de 8,8% na produção da atual safra (julho/23 – junho/24) e a pressão dos agricultores por elevação e ampliação do programa de compras diretas pelo governo para formação de estoques, podem prolongar as restrições na Ásia e manterem as cotações internacionais mais elevadas.
Vale lembrar, também, que a média de preços do arroz longo fino tipo exportação dos grandes exportadores da Ásia subiu quase 100% em 2023 e permanece elevada. Saíram na faixa de US$ 300/320,00 a tonelada para cerca de US$ 650,00 (branco, 5% quebrados).
A renovação dos estoques pela Índia, que desovou mercadoria de cinco, seis safras, e as suas pressões internas – maior população global, cerca de 70% dos habitantes abaixo da linha da pobreza, inflação em alta acelerada, estoques formados pelo Estado, média de lavouras pouco superior a um hectare e necessidade de intervenção permanente nos preços ao longo da cadeia por parte do governo – desequilibraram as referências internacionais.
Ainda que o Brasil não tenha “vantagem direta”, indiretamente surfou em 2023 nesta elevação global, mas chegou a ter preços de US$ 930,00 por tonelada de arroz branco, o que o desconectou do comércio global. Era um dos preços mais altos do mundo.
Por sua vez, o Mercosul, que acompanhou este pico de preços de exportação, tem uma safra normal, dentro da média dos últimos anos, à exceção de 2023, quando a Argentina teve uma quebra significativa. Nesta temporada o Mercosul apresenta recuperação. ■
1 Comentário
Todos sabem que não temos estoques de passagem… Sabemos também que 50% ou mais das áreas plantandas ocorreram fora da janela e que nem chegaram no periodo de floração! Sabemos também que o clima está esfriando inclusive com temperaturas abaixo de 10C na Campanha e Região Sul… Então me parece ainda ser preciptada qualquer análise de como o mercado irá se comportar esse ano!!! Depois o preço do arroz vai a R$ 120/130 em outubro e ng sabe explicar os motivos!