Chuvas devem ficar abaixo da média em fevereiro, março e abril

 Chuvas devem ficar abaixo da média em fevereiro, março e abril

Chuvas ajudaram a recuperar mananciais

(Por Jossana Ceolin Cera, meteorologista/Irga)

Condições meteorológicas em dezembro de 2021 no RS

De modo geral, o volume das precipitações não mudou muito de novembro para dezembro de 2021, visto que ficou abaixo da média em praticamente todo o RS. A exceção foi o extremo leste, na região das lagoas, onde o volume superou a Normal Climatológica do mês. Logo, na maior parte do RS, as precipitações ficaram abaixo dos 45 milímetros acumulados. Os locais que passaram dos 100 mm foram as regiões de Canguçu, de Porto Alegre e das lagoas. (Figura 1A). As anomalias de precipitação foram negativas em dezembro, principalmente na Metade Norte do Estado, onde deveriam ocorrer os maiores volumes acumulados do mês (Figura 1B).

Chuvas abaixo do volume e frequência ideais, elevação nas temperaturas, baixa umidade relativa do ar e ventos que, predominantemente, sopravam de Sudeste, agravaram muito a situação da estiagem no RS. Em dezembro já eram somados grandes prejuízos nas lavouras de milho, principalmente, e nas de soja. Nas lavouras de arroz, a situação ainda não era tão crítica, pois havia a esperança das chuvas de janeiro.

Ainda sobre a cultura do arroz irrigado, com exceção das lavouras com problemas na manutenção da lâmina d’água, que é um fator importante para se atingir altas produtividades, é a quantidade de radiação solar. Durante dezembro de 2021, ela foi superior à Normal Climatológica em todas as regiões. Na Metade Sul do RS, com base na média dos locais que possuem estação meteorológica, a radiação solar em dezembro de 2021 (26 MJ m-1) e em dezembro de 2020 (25,7 MJ m-1) foram superiores à Normal Climatológica (24,6 MJ m-1). Ou seja, em ambos os anos, a radiação solar foi favorável para o desenvolvimento do arroz irrigado.

Figura 1 (ver acima). Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante dezembro de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET

Além dos baixos volumes acumulados, a frequência nas precipitações na Metade Sul foi muito ruim. As temperaturas se mantiveram próximas dos valores médios para o mês, ficando acima da média apenas nos últimos dias do ano. (Figura 2).

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Figura 2

Figura 2. Temperaturas máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC, linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a dezembro de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam cinco das seis regiões arrozeiras do RS. Observação: devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna não foi representada na figura. Fonte de dados: INMET

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

Em relatório publicado no dia 13 de janeiro de 2022, a NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center) divulgou que a La Niña tem 83% de chance de continuar durante o trimestre fev-mar-abr de 2022 e que entraria em Neutralidade durante o outono.

O sistema acoplado oceano-atmosfera continua consistente com a ocorrência de La Niña durante dezembro. Outro fator que favorece a La Niña e que está amplificando seu efeito é um fenômeno de escala interdecadal, chamado Oscilação Interdecadal do Pacífico (ODP). A ODP também possui duas fases e, no momento, está em sua fase negativa. Com o ENOS e a ODP em fases negativas, as forças se somam e os efeitos da La Niña podem ser potencializados e/ou favorecidos.

A Temperatura da Superfície do Mar na região Niño 3.4 esteve em -1,0°C no trimestre out-nov-dez de 2021 e em -1,1°C em dezembro, na região Niño 3.4. Na Figura 3 observa-se que a região do Niño 3.4, em dezembro, esteve com anomalias predominantemente negativas, reforçando que a La Niña está ativa, e na sua forma Clássica. As anomalias de temperatura foram mais elevadas em dezembro na região Niño 1+2. Essa região tem relação mais direta com as precipitações no RS. Logo, esta pode ser a razão para a expressiva falta de chuva no Estado em dezembro e durante a primeira quinzena de janeiro de 2022.

As águas no Oceano Atlântico Sul apresentaram, em dezembro, temperatura entre valores normais e acima do normal, ao longo da costa do RS. Possivelmente, devido à maior força do Pacífico no momento, este fator não favoreceu as chuvas no RS. Mas, é importante acompanhar sua evolução durante o período do verão.

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Figura 3

Figura 3. Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em dezembro de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE

As anomalias negativas da temperatura das águas subsuperficiais na região do Oceano Pacífico Equatorial mantiveram-se ativas durante o período, mas, pelo gráfico de janeiro, parece estar dando sinais de diminuição em área e magnitude (Figura 4). No entanto, essa bolha de águas frias subsuperficiais continuará aflorando em superfície, dando sustentação à La Niña ainda nos próximos meses.

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Figura 4

Figura 4. Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m), entre outubro de 2021 e janeiro de 2022. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA

Em resumo, a La Niña continua ativa e influenciará o tempo nos próximos três meses. Contudo, ao que tudo indica, o pico de intensidade parece já ter passado.

Previsão de precipitação para janeiro, fevereiro e março de 2022 no RS

O IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê até 40-45% de chance das precipitações ficarem abaixo da média no trimestre fev-mar-abr na Metade Sul do RS. Por sua vez, o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) prevê precipitação dentro da média na Metade Sul do RS e acima da média na Metade Norte para o mês de fevereiro. Já para março e abril, o modelo volta a prever valores abaixo da média.

Já o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê precipitação predominantemente abaixo da média para fevereiro e março de 2022. Para abril, o modelo também prevê que o volume de precipitação fique abaixo da média, com valores mais pronunciados na Fronteira Oeste (Figura 5).

Com relação às temperaturas, a previsão mostra que devem ficar acima da média nos próximos três meses. No entanto, após a passagem de sistemas frontais, poderá haver quedas mais acentuadas nas temperaturas mínimas. Isso fica agravado por conta da presença da La Niña.

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Figura 5

Figura 5. Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para fevereiro, março e abril de 2022 no RS. Fonte: adaptado de INMET

As culturas de sequeiro, pelo interior de todo o RS, apresentam perdas que já são muito grandes e, em alguns casos, irreversíveis, como a soja e o milho, que dependem da água da chuva para ter adequado desenvolvimento. Devido à falta de chuvas expressivas nos últimos meses, os reservatórios estão com nível muito baixo e alguns rios já secos. Com isso, alguns produtores de arroz irrigado, principalmente os da Fronteira Oeste e da Região Central, vêm tendo problemas para irrigar suas lavouras. Mais informações sobre o quadro da estiagem no RS são divulgadas todas as sextas-feiras no site do Irga.

Alerta-se para se fazer o uso consciente da água, evitando perdas no sistema de irrigação e fazer seu reuso, quando for possível. É sempre importante atualizar-se quanto à previsão do tempo, para melhor se programar nas atividades diárias.

Até o dia 21 de janeiro, 347 municípios no RS já haviam entrado em situação de emergência, por conta da estiagem.

Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga.

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