“Conheço o lado bom e o mau de ser produtor rural”

 “Conheço o lado bom e o mau de ser produtor rural”

Bonetti: de saída

A gentileza do engenheiro agrônomo Ivan Saraiva Bonetti, presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), contrastam com a força de suas palavras e a determinação com que assumiu a autarquia. Para Planeta Arroz o dirigente deu a primeira entrevista após ser nomeado, em 1º de dezembro de 2020. Na segunda quinzena de janeiro, nos recebeu para detalhar suas posições. Formado na UFSM, filho de arrozeiro, Bonetti lembra que a família sentiu na pele as sucessivas crises setoriais e quebrou na orizicultura, recuperando-se no cultivo de milho e soja no qual permanece. Foi assessor do senador Luis Carlos Heinze (PP/RS) quando deputado federal, integrou um grupo de estudos sobre assimetrias do arroz no Mercosul, da Frente Parlamentar de Agricultura (FPA), e assessorou o deputado federal (atual secretário estadual) Covatti Filho (PP/RS). Estava no cargo de diretor de Políticas Agrícolas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do RS quando convidado para dirigir o Irga.

Planeta Arroz – O que levou o senhor a assumir o desafio de presidir o Irga?
Ivan Bonetti – A relação de muito tempo com o setor arrozeiro, meu pai e minha família tem origem agrícola, com produção de arroz. Quando me formei, quebramos na orizicultura e passamos a trabalhar com milho e soja. Conheço o lado bom e o ruim de ser produtor rural. Depois, trabalhei como assessor parlamentar com deputados ligados a área agropecuária. Aceitei o cargo por ser convidado pelas entidades setoriais e em função da oportunidade que tive de coordenar um grupo técnico de estudos sobre o Instituto, na Secretaria da Agricultura. Isso oportunizou conhecer a todos os segmentos envolvidos, demandas e sugestões para mudar esse perfil atual do instituto, e o respaldo do secretário Covatti Filho.

Planeta Arroz – O senhor tem um diagnóstico do Grupo de Trabalho pela Modernização do Irga?
Ivan Bonetti – Sim. Os resultados e planejamentos originados no Grupo de Trabalho que traduz os anseios da cadeia produtiva e dos servidores será colocado em prática com os ajustes necessários e com a construção de um plano de negócios.

Planeta Arroz – Então o Irga não será privatizado ou alvo de Parceria Público-Privada (PPP)?
Ivan Bonetti – São possibilidades descartadas. Será uma autarquia como sempre foi e a taxa CDO será mantida. Após longo estudo, entende-se que é o sistema mais adequado, pois a privatização excluiria a CDO e não haveria como o instituto se manter. Vamos cumprir com aquilo que prevê a legislação. Há implicações, mas o Irga seguirá a autarquia que sempre foi, e precisa ser fortalecido. É a conclusão da cadeia produtiva e o que o governo pretende fazer.

Planeta Arroz – Isso traz alívio a muita gente, em especial aos servidores.
Ivan Bonetti – A cadeia produtiva, inclusive os servidores, nos trouxeram um retrato fiel da realidade e as ações necessárias. Vamos precisar do setor, trabalhar juntos.

Planeta Arroz – Quais são os gargalos para administrar o instituto?
Ivan Bonetti – O maior pleito do setor é o repasse integral da Taxa de Cooperação para o Desenvolvimento da Orizicultura (CDO). Atualmente, ao redor de 55% do valor arrecadado por produtores e indústrias são repassados ao Irga, e o princípio da taxa é de que deveriam ser 100%. Com estes recursos, é possível valorizar os servidores, melhorar a infraestrutura e fortalecer o objetivo final do Irga que é a pesquisa e a assistência técnica.

Planeta Arroz – Quanto o Estado deve ao instituto em CDO?
Ivan Bonetti – Cerca de R$ 330 milhões, mais de três anos de orçamento.

Planeta Arroz – São duas frentes de negociação: o passivo e os repasses futuros?
Ivan Bonetti – Sim, além de buscarmos o repasse integral também estamos buscando o eu ficou para trás.

Planeta Arroz – E como a sua diretoria pretende fazer isso?
Ivan Bonetti – Formamos uma comissão técnica. Precisamos mostrar que o repasse integral representará maior retorno ao Estado do que a quantia retida no Caixa Único, seja na forma de impostos, empregos, renda e valorização do produto. Estamos elaborando um plano de negócios que será apresentado ao Conselho Deliberativo e ao governador do Estado.

Planeta Arroz – É possível comprovar isso?
Ivan Bonetti – O faremos. Mostraremos que o repasse destes R$ 45 milhões retidos anualmente farão diferença se geridos e administrados pela lavoura para fortalecer a orizicultura e atender o princípio da taxa. Como o plano de negócios é inédito e depende de informações de terceiros, não há data para a apresentação, mas temos pressa em recuperar o tempo perdido. Importante é que seja consolidado.

Planeta Arroz – O que deve constar no plano?
Ivan Bonetti – Por exemplo, o fortalecimento do quadro de servidores, em quantidade, qualidade e condições de trabalho, fortalecimento das ações de pesquisa e assistência técnica ao produtor rural, abertura de novos mercados para o arroz, como a consolidação dos espaços conquistados. Vamos trabalhar para aumentar o consumo per capita no Brasil. São alguns temas, mas há muita coisa que vai constar. Mas, vamos buscar renda de outras maneiras, como royalties sobre as tecnologias utilizadas em outros estados e países com quase 100% de área de variedades desenvolvidas pelo Irga, mas que não pagam um centavo da tecnologia embarcada.

Planeta Arroz – Como fazer isso?
Ivan Bonetti – Estamos buscando a forma legal e técnica de rastrear sinais genéticos dessas sementes e realizar a cobrança, que é justa e em favor da autarquia e do produtor gaúcho. E reverterá para novas pesquisas que fortaleçam nossa cadeia produtiva.
Planeta Arroz – Há uma pressão por conta dos baixos salários dos servidores, em comparação às áreas técnicas do Estado, inclusive com a perda de pesquisadores Como resolver?
Ivan Bonetti – Precisamos não só valorizar, o que é importante, mas também motivar os servidores, criar os melhores meios para que trabalhem bem e ajudem à fortalecer a orizicultura e toda essa tecnologia para terras baixas.

Planeta Arroz – Qual o cenário o senhor espera nesta safra?
Ivan Bonetti – Em razão da estiagem, que vem desde 2019, tivemos problemas com a capacidade de irrigação em regiões muito pontuais, salinidade na água das lagoas. E o clima não está sendo excepcional como em 2019/20 no estado. Isso deve baixar um pouco a produtividade, gerar algumas perdas produtivas e até de áreas, mas acreditamos que teremos uma boa safra, dentro da média histórica.
E preços entre R$ 90,00 a R$ 100,00, que são remuneradores e justos para o rizicultor por causa da relação de oferta x demanda no Brasil e no Mercosul.

Planeta Arroz – Que mensagem o senhor deixa para a cadeia produtiva?
Ivan Bonetti – De esperança, união e comprometimento com a causa arrozeira. Podem ter certeza que do presidente ao mais humilde servidor, todos estamos trabalhando para que o setor seja sustentável, seja pela produção de tecnologias e extensão, seja pela referência, apoio e estrutura à sua disposição ou pela via política. E precisamos de todos focados neste objetivo. O Irga merece e a cadeia produtiva também.

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