Custos e dívidas elevadas desestimularam arrozeiros do MT

O produtor contabiliza grande prejuízo nesta safra devido ao excesso de oferta, falta de crédito, preços achatados e ainda a entrada de arroz do Mercosul autorizada pelo governo Federal.

Não bastassem os problemas do excesso de oferta, falta de crédito, defasagem cambial e baixos preços, os produtores de arroz em Mato Grosso ainda enfrentam o problema do endividamento e dos altos custos de produção.

O produtor contabiliza grande prejuízo nesta safra devido ao excesso de oferta, falta de crédito, preços achatados e ainda a entrada de arroz do Mercosul autorizada pelo governo Federal.

“Se somarmos todos estes fatores aos altos custos de produção, teremos uma situação insustentável para o produtor”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Arroz (APA) de Mato Grosso, Ângelo Maronezzi.

Os produtores afirmam que o custo atual de produção para o arroz desestimula qualquer iniciativa de plantio sem a garantia de um preço mínimo, já que com os preços atuais de mercado seria necessário produzir aproximadamente 125 sacas por hectare (ha) para saldar a dívida, produtividade impossível de se alcançar em Mato Grosso com as cultivares Cirad 141 e Primavera”, aponta.

A Associação dos Produtores de Arroz defende nova revisão nos preços mínimos para o arroz produzido na região, em função dos altos custos de produção.

Na avaliação dos agricultores, o ajuste dos preços mínimos seria uma das ações necessárias ao setor para que a produção de arroz em Mato Grosso não sofra uma redução na área de plantio ainda mais acentuada nos próximos anos.

SAI ARROZ, ENTRA SOJA

Com 1,35 mil hectares (ha) de arroz da variedade Cirad 141 plantados na safra passada em sua propriedade no município de Cláudia (608 quilômetros ao Norte de Cuiabá), o produtor João Carlos Accioly Filho diz que este ano resolveu trocar o arroz pela soja. Mas ele não aproveitou toda a área. Dos mais de 1,3 mil/ha, ele plantou apenas 750/ha de soja. O resto ele reservou para o plantio da safrinha de milho, no mês de janeiro.

“Decidi não plantar [arroz] porque tive frustração de safra (4/05) com os preços aviltados, a desclassificação da variedade como longo fino e, ainda por cima, a falta de chuvas no começo do plantio e o excesso de chuvas no período da colheita neste ano. Meu prejuízo foi grande e, por isso, preferi optar pela soja”, conta o produtor.

Ele disse que se fosse plantar arroz nesta safra optaria pela variedade Primavera, que apesar de apresentar algumas desvantagens, como menor resistência às doenças e menor produtividade, possui qualidade e aceitação no mercado. “Acho que isso é fundamental para o produtor, pois ele tem mais facilidade de vender a produção e obter um lucro maior”, frisa Accioly.

Na safra 04/05, ele colheu apenas 42 sacas de arroz/ha, produtividade bem abaixo da média estadual, de 50 sacas. “A falta de chuvas prejudicou bastante a lavoura no começo. Para complicar, na época da colheita choveu muito e também tive problemas de perda de qualidade do grão. Foi um ano atípico, sem contar com a questão do mercado, onde os preços não chegaram a cobrir os custos de produção”, frisa.

O produtor diz que a situação é de “calamidade” na região Norte, que concentra as maiores lavouras de arroz do Estado. “Acredito que o arroz poderá ter uma redução de até 70% na área plantada por causa dos preços e da falta de crédito”, prevê.

Ele fez as contas e chegou a uma “triste constatação”: o preço do arroz Cirad 141, na safra deste ano, só chegou a cobrir 50% dos custos de produção. O resto do prejuízo o produtor teve que assumir. E mais, o produtor foi obrigado a vender parte da safra com pagamentos parcelados e teve ainda a necessidade de recorrer às tradings para financiar a aquisição de semente e adubos para o plantio da soja.

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