Destino: Europa
Orgânicos: uso de marrecos-de-pequim garante controle de pragas
Velho continente abre as portas ao arroz orgânico catarinense.
Nisto como uma ótima alternativa por causa do preço superior, o arroz orgânico vem ganhando espaço em Santa Catarina. Conforme dados da Cooperativa Regional Agropecuária Sul Catarinense (Coopersulca), o aumento anual da área destinada ao cereal, cultivado desde 1998 por seus associados, fica na média de 15%. E a tendência é que a lavoura cultivada sem produtos químicos para melhora da fertilidade do solo e controle de pragas cresça muito mais por conta de um contrato de venda para a Europa.
Em parceria com a Câmara Italiana de Comércio e Indústria de Santa Catarina, a cooperativa do município de Turvo está preparando um prospecto para inserir o produto no velho continente. Os possíveis mercados incluem Portugal, Holanda, Alemanha, Inglaterra e Itália, animando o gestor de comércio da Coopersulca, Ademar de Costa. “As exportações nos ajudariam a fugir do baixo preço do arroz no mercado interno”, explica ele, informando que até esta safra, 34 produtores apostaram nisso para incrementar sua renda.
A quantidade, na avaliação do pesquisador José Alberto Noldin, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. (Epagri), ainda é pequena porque o mercado nacional ainda se mostra pouco receptivo ao arroz orgânico. Bem diferente do internacional, que exige uma produção grande e constante para fechar negócios – garantia que agricultores isolados, plantando pequenas áreas, não conseguem fornecer. A torcida é para que a Coopersulca feche exportações para a Europa, atraindo mais gente e fazendo crescer a área destinada às lavouras ecológicas.
Líder brasileiro no ranking de produtividade, o estado catarinense também está entre os três maiores em produção de arroz no Brasil. A parcela referente ao cereal orgânico, no entanto, é reduzida: os 156 hectares cultivados no sul rendem 22 mil sacas (algo pouco acima de mil toneladas), enquanto na mesma região, juntamente com a carbonífera, devem ser colhidas nesta safra mais de 500 mil toneladas do cereal plantado no modo convencional.
Fique de olho
Segundo o secretário-geral da Câmara Italiana de Comércio e Indústria de Santa Catarina, Mauro Beal, o visual da embalagem, a maneira que o arroz será transportado e recebido e até o preço e selo de qualidade para respaldar o produto orgânico são itens estudados para traçar o perfil dos compradores em potencial. Durante este ano, a sua intenção é traçar um relato preciso sobre a produção orgânica catarinense e diagnosticar a situação dos produtores. Atualmente, 20 produtores, cooperativas e autônomos integram a parceria no Projeto de Desenvolvimento de Agricultura Orgânica. Além do arroz, o trabalho também envolve maçã, uva de mesa, amora e verduras.
Foco
Característica principal das lavouras de arroz do estado, os minifúndios, com até 30 hectares, são ideais para o cultivo do orgânico, mais facilmente produzido em áreas pequenas por facilitar o controle de pragas sem o uso de defensivos. Esses fatores levaram a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. (Epagri) a desenvolver um projeto incentivando o aumento das lavouras ecológicas.
O trabalho, iniciado em 2002 numa parceria com a Embrapa Clima Temperado, do Rio Grande do Sul, deverá culminar neste ano com a publicação de um boletim contendo as recomendações técnicas para o plantio de arroz orgânico no sistema pré-germinado. “As informações, porém, sempre foram disponibilizadas através de eventos como palestras e dias de campo”, destaca o pesquisador José Alberto Noldin, dizendo que a Coopersulca – que adquire maior visibilidade agora com a possibilidade real de exportação para a Europa – foi apenas um dos interessados. Vários orizicultores chegaram a investir na alternativa ecológica, mas enfrentaram dificuldades por causa da restrição do mercado nacional a esse tipo de produto.
Orgânico completa 11 safras
A produção de arroz orgânico em Santa Catarina iniciou em 1996 por meio de projeto financiado pelo Banco Mundial. Preocupada com o uso de defensivos, a Epagri propôs que o controle de pragas no arroz irrigado fosse feito por meio da criação de peixes, como tilápias, na mesma área do cultivo. Em cidades como Turvo, Ermo e Jacinto Machado, produtores se integraram ao projeto por meio da Coopersulca, que conseguiu o selo de produto certificado há seis anos, pela Associação Orgânica.
A justificativa para o preço elevado do alimento orgânico (20% maior) é que ele é trabalhado em uma escala menor e, conseqüentemente, o seu preço final aumenta em relação ao convencional. Em países com tradição de produção e consumo desses produtos, isso não ocorre. A diferença de preço é mínima. É uma questão de escala de produção. Segue uma lógica de mercado: quanto maior for a oferta, menor será o preço.
Cooperativa faz a frente

A Coopersulca, com dois mil associados, não tem ainda contrato assinado com europeus, mas já está se adiantando com a construção de uma moderna unidade para beneficiamento de toda a sua produção, num investimento de R$ 17 milhões. Com a nova estrutura, que atenderá os rigorosos padrões europeus, a cooperativa irá desativar duas fábricas antigas.


