Formação da matriz produtiva do arroz no Brasil

 Formação da matriz produtiva do arroz no Brasil

Sistema de cultivo em transplantio na vazante do Açude Orós, no Ceará

 No Brasil, o arroz é cultivado em vários sistemas. No Maranhão cultiva-se arroz de terras altas e irrigado. No sistema de terras altas não mecanizado faz-se a derrubada da vegetação, queima e depois do cultivo do arroz deixa-se a área em pousio por alguns anos. Outro sistema em terras altas é o mecanizado, principalmente na região de Balsas. O arroz irrigado, por sua vez, é cultivado em vazante sem controle da lâmina d´água.

No Baixo São Francisco cultiva-se arroz irrigado com e sem controle de água, aproveitando o movimento das águas dos rios. Em Goiás cultiva-se arroz de terras altas em várias regiões do estado, irrigado em várzeas sistematizadas (município de Luís Alves) e irrigado em tabuleiros sistematizados (município de Flores de Goiás).

Em Mato Grosso cultiva-se arroz de terras altas em cinco situações: abertura de áreas, rotação com outros grãos no sistema de plantio direto, renovação de pastagem, sistemas de integração lavoura-pecuária e floresta e em safrinha. No Tocantins cultiva-se arroz de terras altas e irrigado por inundação em várzeas sistematizadas. Em Santa Catarina cultiva-se arroz irrigado convencional, cultivo mínimo, plantio direto e, principalmente, pré-germinado. No Rio Grande do Sul cultiva-se arroz irrigado convencional, cultivo mínimo, plantio direto, pré-germinado e até por transplantio em área de produção e sementes.

Os mais antigos lembram que antes de meados da década de 1970 o arroz preferido pelos consumidores brasileiros era o de grão longo produzido em sistema de sequeiro. Recordam também que a preferência pelo longo fino foi conquistada com muita habilidade e perspicácia dos rizicultores das regiões produtoras desse tipo de grão. Foi um longo caminho. Com destaque para as constantes, sem períodos de acomodação, busca de inovações dentro e fora do país priorizando o uso de novas cultivares para substituir as antigas – que eram produtivas, mas não tinham qualidade de grãos -, melhorias nas práticas agrícolas e processos eficientes de transferência de tecnologia, a exemplo do Projeto 10, mais recentemente.

Outra consequência dessas estratégias foi o aumento da produtividade do arroz irrigado (Figura 1), que certamente foi um componente importante na obtenção do sucesso conquistado em termos de produção (Figura 2). Mas não foi o principal elemento, haja vista que no mesmo período a produtividade do arroz de terras altas cresceu, em termos relativos, mais do que do arroz irrigado.

Portanto, a conquista do domínio do mercado pelo arroz irrigado possui outros fatores, como mudança da legislação da qualidade de grãos, incentivo governamental para financiamento e aquisição da produção, além do engajamento sincronizado dos elos da cadeia produtiva.

Nesse contexto, o Rio Grande do Sul foi o estado que se destacou. Em 2016 respondeu por 72% da produção nacional. Outro estado com destaque na produção de arroz irrigado é Santa Catarina, com 10 % da produção nacional. Este último, nos últimos 10 anos não apresentou grande variação da quantidade produzida. No restante do país a produção do arroz irrigado ocorre em algumas regiões: Baixo São Francisco, em Alagoas e Sergipe (abrangendo as microrregiões de Penedo e Própria), Vale Paraíba, em São Paulo (abrangendo as microrregiões de São José dos Campos e Guaratinguetá), microrregião de Dourados, no Mato Grosso do Sul, microrregião do Vão do Paranã, em Goiás, Rio Formoso, no Tocantins, Baixo Jaguaribe, no Ceará, e Baixada Maranhense e Pindaré, no Maranhão. Em 2015 essas regiões participaram com 8% da produção nacional (Figura 3).

Potencial para competir

Mesmo com a queda da área e produção, algumas regiões produtoras de arroz de terras altas apresentam potencial para competir com o arroz irrigado. Essas regiões possuem produtividade 60% maior do que a média brasileira do sistema, que é de 2 mil quilos por hectare. Nesse sistema existem muitos problemas não resolvidos, principalmente depois que deixou de ser abridor de fronteiras agrícolas.

Na atualidade, necessariamente, deve-se produzir grãos com qualidade e preço em condições de competir com o arroz irrigado e fazer parte de sistemas agrícolas dos quais participam culturas com menor risco de produção e cadeias produtivas mais estruturadas. Outro ponto de estrangulamento desse sistema é a falta de consultores técnicos com grande domínio sobre a cultura.

Portanto, a expansão da produção desse sistema depende de suplantar esses óbices, caso contrário, os produtores, as empresas de beneficiamento e tampouco as empresas de armazenamento e secagem arriscarão investir nessas regiões. Quando essas condições são suficientes, o arroz de terras altas é competitivo nos mercados locais. O exemplo de Mato Grosso é relevante. Pesquisa feita em 2013 mostrou que 87% do arroz comercializado nas gôndolas dos supermercados visitados foram envasados no próprio estado, enquanto os remanescentes 13% foram empacotados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso do Sul.

A matriz de produção de arroz no Brasil apresenta concentração no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e uma diversificação de sistema de produção em várias regiões brasileiras que não consegue acompanhar a crescente melhoria de desempenho da orizicultura do sul do país.

Figura 1 – Evolução da produtividade do arroz de terras altas e arroz irrigado no Brasil no período de 1986 a 2015, tendo 1986 como ano de referência
Fonte: IBGE (2016)

Figura 2 – Participação percentual dos sistemas irrigado e de terras altas na produção brasileira de arroz no período de 1986 a 2015
Fonte: IBGE (2016)

Figura 3 – Produção proporcional de arroz em casca nas microrregiões brasileiras em 2015
Fonte: IBGE (2016)

Os valores entre parênteses referem-se a participação relativa ao total da produção nacional

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