Granja Nenê: uma história centenária

 Granja Nenê: uma história centenária

(Por Diego Rosinha) Respondendo por mais de 70% da produção nacional de arroz (9 mil toneladas de 12 mil toneladas por ano), o Rio Grande do Sul abriga as principais lavouras do País. Algumas delas estão na Granja Nenê, em Nova Santa Rita, empreendimento rural com uma história centenária a apenas 30 quilômetros de Porto Alegre.

A proprietária da fazenda, Maria Cristina Portinho, conta que os registros da relação de sua família com a Granja Nenê datam de 1930, mas que a atividade é anterior a essa década. Como remanescente do início do século 20, há ainda um locomóvel importado da Inglaterra, para gerar energia para a lavoura. Essa máquina movida a vapor marcou um avanço na história do cultivo de arroz no Rio Grande do Sul, em regiões como a Depressão Central, a Campanha e a Fronteira Oeste. O gigante metálico que repousa em Nova Santa Rita é um registro da história da rizicultura nas proximidades da Capital.

O nome da fazenda tem uma origem curiosa. “A antiga proprietária era uma imigrante alemã, e as pessoas não conseguiam pronunciar corretamente o nome dela, então a chamavam de Dona Nenê”, explica Maria Cristina.

Aldo Nunes Aires, que começou a trabalhar na Granja Nenê no início da década de 1970, lembra que a plantação e a colheita de arroz eram feitas com tração animal (juntas de boi). “Alguns poucos tratores que existiam por aqui eram pequenos e os mais antigos ainda eram movidos a gasolina, com rodas de ferro”, conta. “A semeadura era feita em uma carroça de duas rodas puxada por bois.” O arroz era cortado com foices e distribuído ao longo da área. Os montes, chamados de medas, eram recolhidos com carretas de bois, levados a uma parte alta e seca onde estava a trilhadeira estacionária. Essa máquina que separa o grão dos raminhos era movida pelo locomóvel. Pilhas de lenha eram queimadas na caldeira para trilhar o arroz. Depois, os grãos eram ensacados e levados para o secador de arroz puxado por bois.

Por volta de 1974, surgiram as primeiras colheitadeiras, embora o corte manual ainda prosseguisse. As drenagens e condutos eram feitos manualmente, pois ainda não havia retroescavadeira. “Em 1978, chegou a energia elétrica na granja”, diz. “O locomóvel foi aposentado.”

A sede da fazenda conserva o charme de outras épocas

No ano de 1980, o arroz já era semeado a lanço com trator. A colheita era feita com as colheitadeiras, mas o saco de arroz era costurado à mão em cima da máquina, que comportava cinco sacos. Depois era largado no chão e recolhido com reboque. No ano seguinte, apareceu a colheitadeira graneleira, e também a carreta graneleira, puxada a trator. Aí começou o granel, levado ao secador sem ensacar. “Nessa época, a produção já estava entre 150 a 200 sacos por quadra (entre 4.300kg e 5.700kg/ha).” Em 1986, surgiram as plantadeiras em linha, para a prática do plantio direto. Nessa época, a colheita aumentou para até 220 sacos por quadra (6.300kg/ha).

Na década de 1990 em diante, quase tudo era mecanizado, já tinha retroescavadeira, as taipas já não eram mais feitas a pá, pois já tinham as entaipadeiras puxadas a trator.

A partir do ano 2000, a aviação agrícola chegou à fazenda e em seguida o plantio do arroz no sistema pré-germinado, muito utilizado em Santa Catarina, que trouxe mais competitividade e sustentabilidade para a atividade. A partir daí, surgiram novas variedades de sementes, aumentando bastante a produtividade de grãos, que nas partes mais férteis da fazenda da Granja Nenê chega a produzir 417 sacos por quadra (12.000kg/ha), quase o dobro da média nacional, de 6.500 kg/ha.

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