Irga e Flar: uma parceria de 26 anos
Um alto percentual de sucesso da lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul e do Mercosul pode ser creditado a uma parceria de 26 anos que deu grandes resultados: o convênio mantido entre o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), desde sua criação em 1995, e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). O instituto gaúcho deu ao fundo continental a oportunidade de atuar no Cone Sul da América Latina com a proposta de contribuir no fortalecimento da pesquisa em arroz irrigado.
Já o Irga recebeu acesso a material genético de alto interesse, suporte de informações tecnológicas, genes de resistência a doenças, e um portfólio de programas de sucesso, como o CFC e o Projeto 10+ que treinaram produtores e extensionistas em manejo para altas produtividades e foram importantes para alcançar os novos padrões de grãos, produtividade, resistências estabilidade produtiva e rendimento. Hoje o fundo é formado por 17 países membros. No Brasil, apenas o Irga. O convênio, porém, precisa ser renovado e o projeto está sob análise há meses junto ao Governo do Estado, sem resposta até o fechamento desta edição.
O uso de germoplasma Flar em cruzamentos e geração de novas variedades do Irga, a superação das lacunas de rendimento por meio de transferência de tecnologia em programas como CFC e Projeto 10+, a contribuição de genes de tolerância a problemas emergentes, doenças e para melhoramento em arroz e híbridos são apenas alguns dos componentes do acordo nos quais ambos ganharam em genética, produtividade e fortalecimento institucional.
Melhoramento
Nestes 26 anos, 14 dos 17 países membros da Flar lançaram 87 variedades de arroz na América Latina e Caribe, cuja origem é o programa de melhoramento genético para a zona tropical, que, por sua vez, formou sua base genética a partir de germoplasma desenvolvido pelo Programa de Arroz do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e a Rede Internacional de Avaliação de Germoplasma de Arroz para a América Latina.
“Nos anos 1970, quando começou a interação Irga – CIAT, da Colômbia, a pesquisa em arroz mudou radicalmente com a introdução do tipo de planta que possibilitou o aumento da produtividade”, diz o melhorista Paulo Sérgio Carmona. Segundo ele, esses primeiros resultados são frutos do trabalho com Peter Jennings, um dos responsáveis pela criação da variedade IR8, desenvolvida pelo International Rice Research Institute (Irri, na sigla em inglês) em 1966, que chegou ao CIAT pouco depois, para de lá expandir o uso em toda a América Latina.
“Após o lançamento das primeiras variedades modernas os rendimentos aumentaram rapidamente. A contribuição do CIAT e, a partir de 1995, do Flar, foram fundamentais para aumentar os rendimentos e alcançar o patamar produtivo atual das lavouras” diz Carmona. Desde então, a contribuição genética que o germoplasma Flar injeta no programa de melhoramento do Irga e os resultados experimentais dos novos materiais genéticos, têm consolidado o trabalho de ambas as instituições.
Frio, brusone e híbridos são outros alvos da parceria
Tolerância ao frio e resistência à brusone foram os dois primeiros objetivos traçados nesta história colaborativa. A possibilidade de avaliar materiais em condições controladas para baixas temperaturas no campus de Palmira (departamento de Valle del Cauca, sudoeste da Colômbia), mas sobretudo a avaliação em condições de alta diversidade de raças de fungos causadores da brusone pelo 1 Now Bioversity Alliance International e CIAT.
“O Flar contribui com material genético ao nosso programa, segregando linhagens, materiais e populações F2, onde há cruzamentos com linhas ou materiais com resistência durável à brusone, principal doença que afeta a cultura no país”, destaca o pesquisador do Irga, Oneides Avozani. A rede possui 100 locais de avaliação distribuídos pela América Latina e Caribe, e oferece diversas condições para selecionar materiais com adaptação multiambiental. Isso amplia a diversidade genética do germoplasma do Flar, razão pela qual foi usado como progenitor em quase 70% dos cruzamentos do instituto gaúcho.
Em sua sede, a instituição sul-americana oferece aos associados um laboratório de qualidade equipado com ferramentas de avaliação de milhares de amostras que permitem a seleção de linhagens de arroz com o parâmetros de qualidade de maior aceitação na América Latina e Caribe e uma área de análise sensorial que completa o ciclo de avaliação do arroz do campo à mesa. “A meta é fornecer material que contribua com variabilidade genética ao programa de melhoramento e, em alguns anos disponibilizar variedades com maior potencial produtivo, resistência a doenças e qualidade de grãos”, diz Eduardo Graterol, diretor do Flar.
Buscando processos e oferecer produtos em menor tempo e com características exigidas pelos produtores, pela indústria e o consumidor, o fundo tem inovado no uso de ferramentas modernas de pesquisa, como técnicas moleculares para introgressão de genes específicos em resistência a doenças. Atualmente, em conjunto com o Aliança da Bioversity International e CIAT, trabalha com edição de genes por meio da técnica CRISPR-Cas9, com a qual modificações específicas podem ser feitas em genes específicos que ajudam a melhorar certas características para aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção.
NICHOS
“Da mesma forma, o programa de híbridos para a América Latina (HIAAL), pretende facilitar o acesso, em curto prazo, a essa tecnologia aos produtores gaúchos de sementes e grãos”, comenta Eduardo Graterol. Em 26 anos, o Flar conseguiu desenvolver germoplasma do tipo Índica, com características culinárias aceitas na região. Mas, o programa de aprimoramento do Flar passou a incluir em seu portfólio materiais japônica, aromáticos, arbóreos, etc…, acompanhando tendências de mercado. Em alguns anos, devem existir variedades especiais de origem Flar que, além de conterem resistência a doenças e plantas com boa arquitetura, mantêm as características de arroz especial para nichos de mercado.