La Niña fraca configurada, segundo a Noaa
Desde o término do El Niño (maio/2024), se está sob a expectativa do início da La Niña. De lá para cá, o Oceano Pacífico Equatorial passou por Neutralidade climática.
Entre julho e dezembro de 2024, o que se observou no Rio Grande do Sul (RS) foi grande variação espacial no volume e na frequência da precipitação. Exceto julho, que teve anomalias negativas de precipitação, os meses seguintes apresentaram maior variação. No entanto, a metade Norte do estado parece ter ficado mais tempo sob anomalias negativas de precipitação do que a metade Sul.
Antes, os meses de janeiro e fevereiro de 2024 apresentaram anomalias negativas de precipitação na metade Sul. Isso deve ser lembrado: mesmo em eventos de El Niño, o verão pode apresentar momentos de estiagem. Março, abril e maio foram de chuvas acima do esperado, ainda como resposta da atmosfera ao El Niño. A maioria dos meses ficou com anomalias positivas em relação à temperatura média do ar (7 de 12).
Meses com anomalias negativas ou temperaturas dentro do padrão normal foram janeiro, maio, julho, agosto e dezembro. Dezembro de 2024 teve anomalias muito negativas. Nas fronteiras com o Uruguai chegou a -2 °C abaixo da média (figura 1).
O resfriamento no Oceano Pacífico demorou a deslanchar, e os pesquisadores consideram que parte disso pode estar atrelado ao grande aquecimento de todos os demais oceanos, que ficou mais evidente a partir de 2023, e isso pode estar interferindo no desenvolvimento do Enos (El Niño – Oscilação Sul), que compreende El Niño e La Niña. O fato é que a National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa) declarou, em boletim mensal de 09 de janeiro de 2025, que a La Niña está ativa.
Como se pode ver no mapa (figura 2), o resfriamento é suave no Oceano Pacífico Equatorial, com anomalia da temperatura da superfície do mar, na região Niño3.4, de -0,6 °C em dezembro. Já na região do Niño1+2 a anomalia mensal ficou em -0,1 °C nesse mês. Também chama atenção a área próxima à costa da América do Sul, que inclui a região Niño1+2, com anomalias positivas, pelo menos em janeiro de 2025. Esse padrão de temperaturas não condiz com uma La Niña clássica, ou canônica, a que reduz as chuvas no Sul do Brasil.
O arranjo está mais parecido com uma La Niña modoki, cujo reflexo no RS é de um verão com chuvas dentro do normal. É necessário esperar mais algumas semanas para ter certeza de qual padrão se manterá. A anomalia trimestral da temperatura, referente a Out-Nov-Dez/2024, ficou em -0,4 °C, no padrão Neutro.
Segundo a Noaa, a expectativa é de que a La Niña prossiga até o trimestre Fev-Mar-Abr/2025, com 59%. A fase Neutra voltaria no trimestre Mar-Abr-Mai, com 60% (figura 3).
Ou seja, a La Niña seria de fraca intensidade e curta duração. Isso corrobora trecho do boletim divulgado pela Noaa, ainda em outubro de 2024: “É tarde para a La Niña se desenvolver, e muito provável que seja um evento fraco, no máximo”. E ainda: “Estamos bem no final do ano para que a La Niña se desenvolva – apenas duas La Niñas em 75 anos se formaram em Out-Nov-Dez.
Os eventos ENOS atingem seu pico e força no verão, então, não há tempo para La Niña se desenvolver”. Fica a indagação de até quando esse resfriamento das águas seguirá aumentando, ou estaria ele já com os dias contados? Se persistir, o primeiro trimestre com anomalia de La Niña seria Nov-Dez/2024-Jan/2025, o que não aconteceu de 1950 para cá, nem para La Niña, nem para El Niño.
A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que as precipitações fiquem abaixo da NC entre a Zona Sul, a Campanha e a Fronteira Oeste e próximas da NC nas demais regiões orizícolas do RS em fevereiro. Em março, a expectativa é de que a maior parte da metade Sul fique com chuva abaixo da NC, com exceção da faixa Leste. Para abril, o RS deve ter chuva abaixo da NC, exceto na faixa Leste (Figura 4).
O que esses três mapas de anomalias acima têm em comum? De maneira geral, segundo o Inmet, pode-se dizer que a metade Oeste do RS, que compreende regiões orizícolas: Região Central, Campanha e Fronteira Oeste, receberá menos chuvas e em menores volumes acumulados. Já Leste, Nordeste e parte do Norte deverão ter chuvas mais regulares e/ou em maiores acumulados.
Para o arroz irrigado, o cenário é animador, pois com menos chuvas há mais radiação solar disponível. E como os reservatórios estão cheios, com exceção daqueles que utilizam água de rios pequenos para a irrigação das lavouras, dificilmente se terá problemas nesta safra. Agora, para a soja não irrigada, vai depender muito de quando e em qual volume as chuvas irão ocorrer daqui por diante. Sabe-se que muitos municípios estão enfrentando deficiência hídrica há mais de 30 dias e alguns já estão em situação de emergência.
É importante lembrar que essa safra deverá ter (e está tendo) momentos de escassez de chuvas, mas nada comparada a de 2022/23. No RS, o verão tem a característica de ser mais seco, com chuvas localizadas, sendo sempre um risco para culturas de sequeiro que não são irrigadas.
Logo, o produtor do RS deve ter mais atenção às previsões do tempo, pois as chuvas estão muito irregulares. E, para melhores tomadas de decisão de manejo de suas lavouras, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.
Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista e consultora do Irga.