MELHORAMENTO GENÉTICO DE ARROZ IRRIGADO NA EMBRAPA
O melhoramento de plantas é um processo dispendioso, que demanda tempo, trabalho e investimento. Onde cada decisão equivocada pode acarretar consequências inestimáveis ao programa e/ou empresa de melhoramento, podendo ser irreversíveis a curto prazo. Logo, é de extrema importância o monitoramento da eficiência do programa de melhoramento via obtenção de estimativas de ganho genético, de forma a analisar criticamente a eficiência do programa e planejar novas ações e estratégias para o desenvolvimento e liberação de novas cultivares.
Estudo que estimou o progresso genético dos últimos 45 anos do programa de melhoramento de arroz irrigado da Embrapa no sul do Brasil revelou um ganho de quase 50 kg ao ano, somente em função de lançamento de cultivares mais produtivas e resistentes a estresses bióticos, como doenças, e abióticos provocados pelo clima. Ao longo desse período, foram lançadas pelo programa de melhoramento genético da Embrapa mais de 30 cultivares de arroz irrigado de clima temperado, com a média próxima de uma nova cultivar a cada dois anos.
Fazem parte dessa lista as cultivares BR IRGA 409 e BR IRGA 410, lançadas em parceria com o Irga em 1979 e 1980, respectivamente, que foram consideradas responsáveis pela “revolução verde” da lavoura no Brasil, em função da nova arquitetura de plantas de porte semianão, refletindo em ganho de produtividade das lavouras.
Em cultivo consolidado, tem-se destaque para as cultivares BRS Pampa e BRS Pampa CL, consideradas premium pela indústria por sua qualidade de grãos do tipo longo e fino, e a cultivar BRS Pampeira, que apresenta o maior teto produtivo entre as desenvolvidas pelo programa de melhoramento, com produtividade acima de 12 toneladas/hectare e que também apresenta padrões de qualidade de grãos excelentes. Recentemente, tem-se os registros de cultivares de ampla adaptação de cultivo, servindo também regiões subtropicais e tropicais, como a BRS Catiana, BRS A704, BRS A705 e BRS A 706CL.
A seguir, são apresentadas as principais características dos últimos lançamentos.
BRS Pampa CL – É oriunda do retrocruzamento entre a cultivar comercial BRS Pampa e PUITÁ INTA INTA-CL, fonte de tolerância aos herbicidas do grupo das Imidazolinonas. É considerada essencialmente derivada da BRS Pampa, apresentando as mesmas características agronômicas, industriais e culinárias desta. Possui ciclo precoce, em média 118 dias. As plantas são do tipo moderno, de alta capacidade de perfilhamento. Os grãos são longos e finos, do tipo “agulhinha”, com rendimento de inteiros superior a 62%, baixa incidência de centro-branco e textura solta e macia após a cocção, semelhante à BRS Pampa classificada como arroz premium pela indústria.
BRS Pampeira – Possui ciclo biológico de 133 dias da emergência à maturação, classificada como cultivar de ciclo médio para o RS. Apresenta estatura de 95cm. As plantas são do tipo moderno, de alta capacidade de perfilhamento e folhas pilosas. Os grãos são longo-fino, do tipo “agulhinha”, com rendimento de inteiros superior a 62%, baixa incidência de centro-branco e textura solta e macia após a cocção. Destaca-se quanto à produtividade de grãos com potencial acima de 12 ton/ha, tolerância ao acamamento e resistência à doenças. Apresenta excelente qualidade de grãos no que tange às características industriais e culinárias.
BRS Catiana – Cultivar de ciclo médio, com média de 133 dias na região subtropical, oriunda do cruzamento entre IRGA 417 e BRS Jaburu. É indicada tanto em sistema de semeadura direta em solo seco, quanto em pré-germinado. Possui rusticidade, tolerância ao acamamento, presença de staygreen e moderada resistência às principais doenças da cultura. Tem estabilidade no rendimento de grãos inteiros e excelente qualidade de grãos para linha de produtos premium.
BRS A704 – Cultivar de ciclo médio, com média de 135 dias na região subtropical, oriunda de cruzamentos múltiplos entre 22 genitores com uso do método de seleção recorrente. Possui plantas com rusticidade, tolerância ao acamamento, presença de staygreen e base genética ampla para resistência à brusone com participação de 14 fontes. Estável no rendimento de grãos inteiros de elevada translucidez, excelente para linha de produtos premium.
BRS A705 – Cultivar precoce, com média de 120 dias na região subtropical, oriunda do cruzamento entre BRA01016 (também codificada TF390, proveniente do programa de melhoramento para tolerância a baixas temperaturas) e CNAi10393 (derivada da técnica de variação somaclonal in vitro com a cultivar colombiana Metica 1). Possui plantas com rusticidade, resistentes ao acamamento, indicada para produção em sistema de semeadura direta em solo seco e pré-germinado. Tem moderada resistência às principais doenças do arroz e elevado potencial de rendimento de grãos inteiros (68%), com estabilidade ao longo da colheita.
BRS A706 CL – Cultivar de ciclo médio, com 133 dias na região subtropical, para o sistema de produção Clearfield® (Basf), oriunda do método de retrocruzamentos entre a cultivar comercial BRS Catiana (parental recorrente) e PUITÁ INTA-CL. Indicada em semeadura direta em solo seco e pré-germinado. Possui plantas com rusticidade, tolerância ao acamamento, presença de staygreen e moderada resistência às principais doenças da cultura. Apresenta estabilidade no rendimento de grãos inteiros e excelente qualidade de grãos para linha de produtos premium.
Além dos avanços de produtividade e qualidade de grãos, a introdução de genes de resistência à herbicidas nas cultivares de arroz foi uma importante contribuição do melhoramento genético para a lavoura orizícola, permitindo controlar o arroz vermelho, que tem sido a principal invasora da cultura.
Nos próximos anos, os maiores desafios das pesquisas em arroz serão quebrar os patamares de produtividade já elevados das cultivares lançadas e manter o padrão de qualidade premium, onde as exigências serão cada vez maiores pelos consumidores. Deve-se atentar para cultivares com valores agregados, nutracêuticos, isentos de contaminantes, bem como para o aumento de consumos de arrozes especiais.
Deverão ser selecionadas cultivares mais eficientes quanto ao uso dos recursos naturais (energia solar, água e nutrientes do solo) e menos dependentes de insumos, trazendo sustentabilidade econômica, ambiental e social. Em resumo: mais produtivas e menos exigentes.
Ariano Martins de Magalhães Júnior
Pesquisador em Melhoramento
Genético de Arroz
Embrapa Clima Temperado