Mercado da soja em compasso de espera

 Mercado da soja em compasso de espera

Por Argemiro Luís Brum [1]

O mercado da soja gaúcho, nestes primeiros quatro meses de 2024, após ver seus preços recuarem (a média de balcão chegou a R$ 107,00 em alguns momentos) se recuperou um pouco, iniciando maio com a média de R$ 120,00/saco. No restante do país os valores oscilavam entre R$ 107,00 e R$ 114,00/saco. Mas esta recuperação se deu, em particular, no mês de abril, devido a alguns acontecimentos econômicos, geopolíticos e climáticos, que pressionaram os elementos formadores do preço nacional.

Na área cambial, depois de muitos meses estável, dentro da paridade de R$ 4,80 e R$ 5,00 por dólar, o Real voltou a se desvalorizar para níveis médios de R$ 5,20 em abril e início de maio (momento em que escrevemos este artigo). A manutenção dos juros elevados nos EUA, com a redução da Selic no Brasil (algo que pode ser interrompido ou diminuído nas próximas reuniões do Copom), associada aos conflitos mais intensos no Oriente Médio e à revisão para pior nas metas do déficit fiscal brasileiro, junto ao “arcabouço fiscal”, estão na origem deste movimento. Já as cotações em Chicago, que ensaiaram uma alta, chegando a ultrapassar novamente os US$ 12,00/bushel para o primeiro mês cotado, neste período de quatro meses, se mantêm entre US$ 11,50 e US$ 12,00.

Com o final de uma colheita importante na América do Sul, embora menor do que o esperado inicialmente, sobretudo no Brasil, passa a contar o clima nos EUA, pois estamos no momento do novo plantio naquele país. E o mercado do clima, por lá, passa a ser decisivo até outubro. Portanto, muitas oscilações em Chicago são possíveis neste período. E os prêmios, nos portos brasileiros, começaram a melhorar, chegando à casa positiva nas últimas semanas.

Um movimento que se esperava para o segundo semestre e que, em alguns portos, foi antecipado. Neste contexto houve, portanto, um ganho ao redor de 12,1% nos preços internos da soja (balcão) no período considerado. Isso levou o mercado a entrar em compasso de espera quanto à comercialização da safra recém colhida.

Aliás, com o atraso na colheita, o clima, na virada de abril para maio, trouxe outro ingrediente de atenção: faltando cerca de 30% da área a ser colhida, o Estado gaúcho foi atingido por novas enchentes e excesso de chuvas, comprometendo a produção final estimada (que seria a segunda do país a partir da confirmação de perdas no Paraná). Agora, resta contabilizar o percentual de quebra.

Isso se soma na pressão momentânea sobre os preços locais, mesmo que Chicago e câmbio tenham se estabilizado.

Dito isso, em se tratando de Chicago, temos que o primeiro mês cotado abriu maio com o bushel valendo US$ 11,90 (em 02/05), contra US$ 12,74 em 02 de janeiro, sendo que a média de abril fechou em US$ 11,64, contra US$ 12,30/bushel em janeiro. Lembrando que a média de abril do ano passado foi de US$ 14,88/bushel, o que significa, em um ano, que o bushel de soja perdeu mais de três dólares. Mas, em termos dos meses recentes, apesar de um recuo, as cotações se mantêm relativamente estáveis.

A evolução da safra nos EUA irá dar a indicação do caminho que estas cotações irão tomar, lembrando que em 10/05 tem-se o relatório de oferta e demanda do USDA, que informa a primeira projeção de colheita nos EUA e mundo para 2024/25. E no último dia útil de junho teremos a informação da área real que os sojicultores estadunidenses semearam.

Quanto ao câmbio no Brasil, o Banco Central irá tentar, através do juro e outras medidas, conter a desvalorização do Real, visando manter a moeda ao redor de R$ 5,00. Todavia, o cumprimento da meta fiscal e o respeito ao “arcabouço fiscal”, pelo governo federal, serão dois elementos centrais nesta estratégia. E nada ainda está garantido nesta área. Enfim, os prêmios tendem a subir mais um pouco no transcorrer do ano.

Em tal contexto, há ainda espaço para novas altas ocorrerem nos preços da soja, porém, em condições normais, as mesmas podem ser modestas.

Assim, como sempre, cabe a cada produtor, a partir do seu custo de produção, de sua produtividade média, e de sua realidade financeira, calcular o melhor momento para vender a soja que resta. Pelo sim ou pelo não, o fato é que, no Brasil e no RS, as vendas desta safra estão bem mais lentas do que na média dos últimos anos.

[1] Professor titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris/França, coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).

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