Mudanças à vista

 Mudanças à vista

Concentração: cada vez mais os grandes grupos dominam o beneficiamento

Perfil da indústria de arroz está em transformação
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A inserção do Brasil no mercado internacional definitivamente alte-rou a dinâmica dos negócios e está mudando o perfil da indústria nacional. Além da presença de trades internacionais no Rio Grande do Sul, de olho na oferta de arroz do estado, as próprias indústrias nacionais passam por uma fase de mudanças, fusões, ampliações, formação de joint ventures, deslocamento para eixos de produção estável, uma movimentação há muito tempo não vista. 

Alguns grandes grupos que surgiram ou se consolidaram durante o “milagre do arroz” no Centro-oeste, como o grupo Araguaia, deslocaram grande parte de suas operações para o Sul, estabelecendo parcerias e investimentos em indústrias gaúchas, onde já buscavam quase toda a sua matéria-prima de qualidade. O litoral norte gaúcho, referencial em qua-lidade de arroz e região mais próxima dos grandes centros consumidores, é a região preferida dos novos investi-dores. 

Mas nos últimos meses, três grandes negócios repercutiram muito no mercado: a compra da Saman, uruguaia, pela Camil, a entrada da gigante multina-cional Bünge Alimentos no ramo do arroz e a compra da indústria de óleo de arroz Irgovel, de Pelotas (RS), pela norte-americana Nutracea. 

 

Rota internacional

O principal deles foi a compra, pela Camil, do maior grupo industrial arrozeiro uruguaio, a Saman. Assumir o controle acionário da empresa teria custado, segundo fontes extra-oficiais, cerca de 160 milhões de dólares. Cerca de 50% das ações estavam nas mãos da família Ferres, enquanto a outra metade nas mãos de quase 100 produtores e investidores. A empresa uruguaia conta com sete fábricas que processam 600 mil toneladas de arroz/ano e empregam 600 pessoas. A Saman exporta a mais de 50 países e o principal destino é o Brasil. 

A compra trará mais competitividade à Camil. Ao exportar do Uruguai para o nordeste brasileiro, economizará no frete marítimo e tributação. A indústria uruguaia tem incentivos para exportar. 

A Camil lidera o processamento de arroz no Rio Grande do Sul, com 11,8% de participação, seguida pela Josapar (8,2%). O estado é o principal produtor nacional de arroz irrigado e tem 263 indústrias. As 10 primeiras respondem por 49% do mercado. Segundo agentes de mercado, o crescimento da empresa preocupa à medida que pode passar a ditar os preços de mercado, além de criar sistemas de importação pelos quais escapará dos impostos (com venda direto da subsidiária uruguaia para pontos do Brasil), ganhando em competitividade com as concorrentes. Estima-se que com a compra a Camil assumirá até 20% do mercado brasileiro, principalmente em São Paulo e no Nordeste.

Logística – A empresa também contratou a Log-In Logística Intermodal para transportar arroz por cabotagem do Uruguai ao nordeste brasileiro. Serão 50 contêineres de Montevidéu a Fortaleza por viagem. Para atender a operação foram criadas duas escalas para Montevidéu por mês, volume que pode triplicar. O contrato prevê embarques mensais para os portos de Salvador, Suape e Fortaleza, no nordeste brasileiro.

 

O peso da Bünge

O mercado brasileiro de arroz ganhou uma nova marca: Primor. Com a denominação que é velha conhecida dos brasileiros em margarinas, óleo de soja e maionese, a Bünge Alimentos, com uma das melhores redes de distribuição do mercado bra-sileiro, faz sua investida no setor de arroz com as versões branco polido e parboilizado. O lançamento marca a entrada da Bünge no segmento de arroz, com embalagens de um quilo e cinco quilos. 

A Bünge Alimentos é a principal empresa de alimentos e agronegócio no Brasil. É líder na produção de óleos, margarinas e gorduras vegetais, na fabricação de farinhas de trigo e pré-misturas para a indústria de alimentação e panificação, comercialização de grãos, principalmente soja, na produção de farelos e refino de óleos vegetais. 

O ingresso da Bünge no mercado preocupou as indústrias pequenas e médias, pois graças ao excelente serviço de distribuição a empresa atinge rapidamente os pontos de venda de norte a sul do Brasil. Consultorias especializadas estimam que em três anos a empresa represente de 3% a 4% do mercado nacional. A entrada da empresa no segmento coincidiu com a alta de preços no mercado internacional. Como já faz a SLC, a Bünge adotou um sistema de “indústria sem chaminé” e terceirizou o beneficiamento do arroz. 

 

Nutracea diversificará os produtos de arroz

A mais tradicional empresa brasileira de produção de óleo de arroz, a Indústria Rio-grandense de Óleos Vegetais (Irgovel), de Pelotas (RS), fabricante do óleo de arroz Carreteiro, foi vendida à Nutracea. A Nutracea é líder mundial em pesquisa e tecnologia de farelo de arroz estabilizado e já vem trabalhando há dois anos para obter todas as autorizações necessárias no Brasil. O valor de compra não foi revelado, mas a empresa anunciou um investimento de 40 milhões de dólares na operação. Um financiamento para ampliar e modernizar a planta industrial está sendo negociado com a Caixa RS. 

A indústria pelotense é a única a produzir óleo de arroz para consumo humano no Brasil e tem um parque industrial que ocupa área de 50 mil metros quadrados. É capaz de processar 60 mil toneladas/ano de farelo de arroz, matéria-prima obtida do processo de beneficiamento do cereal. 

A aquisição permite à Nutracea a entrada imediata no mercado de óleos comestíveis, além de garantir um local para a distribuição de seus produtos na América do Sul. A negociação também fornece uma plataforma para a introdução de novos produtos de maior valor agregado. Os produtos da fábrica brasileira serão vendidos no Brasil e países vizinhos da América do Sul e exportados para todo o mundo.

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