Mundo à parte

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Ásia: toda a atenção do mundo sobre a garantia de abastecimento da Ásia

Abastecimento e mercado global de arroz estão nas mãos do hemisfério norte

Seja na Ásia ou nas Américas, o hemisfério norte do planeta é, atualmente, o foco das atenções para o comportamento do suprimento e do comércio mundial do arroz. A invasão russa à Ucrânia e a inflação que se tornou um reflexo global da pandemia de covid-19 aumentaram a tensão e a volatilidade do câmbio e o risco de uma crise energética e alimentar mundial.

Neste cenário, o preço do frete marítimo se manteve altíssimo e, depois de restringir as exportações de trigo, açúcar e óleo, a Índia, maior exportador mundial e único com possibilidade de ofertar mais de 20 milhões de toneladas de arroz, tornou-se razão das preocupações globais. Uma suspensão das vendas do cereal para preservar estoques impactaria o mundo com alta dos preços, que pode até superar os de 2008/09, e limitação da oferta a quase 90 países importadores.

Os indianos são os maiores exportadores mundiais, com 21,5 milhões de toneladas em 2021, ou 40% do comércio global. Seus principais clientes estão na Ásia e na África, e quase todos antecipando as compras causando congestionamentos e atrasos nos portos hindus. A capacidade exportável dos outros 18 países superavitários dificilmente cobriria a lacuna de uma retirada da Índia do rol dos fornecedores globais.

Até a China, depois de décadas, voltou a comprar altos volumes de quebrados de arroz da Índia por falta de matéria-prima para as rações animais. Para tornar ainda mais cauteloso o mercado mundial, chuvas de monções mais fracas que o normal em junho atrasaram o plantio e elevaram a preocupação quanto à estimativa de colheita indiana. Os Estados Unidos também estão no radar do mercado mundial, pois voltaram a diminuir a área plantada nesta temporada 2022. Em duas safras, estima-se que o corte alcance perto de 20%.

Evolução dos quebrados

Em 2022, até agora, chama a atenção do comércio mundial a forte demanda por quebrados de arroz, em especial para substituir milho e trigo nos países asiáticos, como a China, o maior importador de grãos para ração animal.

A guerra entre Rússia e Ucrânia colocou a oferta dos grãos de sequeiro em risco e gerou o fenômeno de aumento da demanda dos quebrados e consequente valorização dessa especificação a condições até superiores ao grão com 25% de quebrados.

Isso ocorre em países fornecedores, como Índia, Paquistão, Vietnã e Tailândia, em alguns momentos. Mesmo onde reduziram, as cotações seguem muito próximas. Alguns industriais na Ásia assumiram que estão quebrando o arroz de menor qualidade para vender com 100% de quebrados em razão da demanda. A previsão é de que a China ampliará de dois milhões para três milhões de toneladas (base casca) as compras de quebrados de arroz, adquirindo até mesmo na Índia, onde não comprava há mais de 30 anos por causa de uma disputa de divisas entre os países.

Para a África a situação é ainda mais grave, pois os quebrados de arroz são utilizados na alimentação humana, não apenas pelo preço, mas pelo hábito alimentar. Os países da África subsaariana têm buscado quebrados na Ásia, mas também no Mercosul, cuja qualidade lhes é preferencial, mas onde pagam mais caro.

Questão básica

Os quebrados (canjicão, quirera e farinhas, farelos, etc.) lideram os embarques do Brasil no ano comercial, sendo a maior parte meio grão. O que não vai para consumo humano, na África, é destinado para Estados Unidos e Europa, onde são ingredientes de pet food (ração animal). Na cadeia produtiva brasileira, muitos agentes consideram que as trincas não podem ser consideradas “em base casca” por se tratarem de “resíduos”.

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