O fim do arrozeiro

 O fim do arrozeiro

Mudança de perfil: sai o arrozeiro e assume o produtor de alimentos multiplos

Com a rotação de culturas, arrozeiros se tornaram agricultores multissafras

 

Pode parecer incoerente dizer que o fim do arrozeiro garantiu a salvação da produção de arroz, mas, na prática, foi o que aconteceu na zona sul. Ao deixar a monocultura de lado e investir na introdução da soja em rotação com o arroz, os produtores da região criaram condições para atingir o nível de excelência que experimentam hoje.

“Se não houvesse a migração para a rotação de cultura, o arroz seria inviabilizado”, sentencia Igor Kohls, coordenador do Irga na zona sul.

Plantar soja não chega a ser uma novidade na região, pois desde o fim da década de 1990 se tentava estabelecer uma produção em alternativa ao arroz, mas a falta de manejo adequado impediu o desenvolvimento da cultura em terras baixas com resultados satisfatórios. A partir do Projeto 10, os produtores compreenderam as mudanças necessárias para a soja dar resultado em áreas de arroz e passaram a enfrentar o principal problema: a drenagem.

“A drenagem foi o fator principal a vencer, pois, para a soja, o dimensionamento é cinco vezes maior que o necessário para arroz. Na soja, é preciso tirar a água 24 horas por dia, e, no arroz, a preocupação é menor”, disse o consultor André Mattos.

Usando ferramentas tecnológicas, como o sistema de localização via satélite RPK para marcar as lavouras com exatidão, investindo pesado em drenagem e com apoio do conhecimento gerado por instituições como o Irga – que abriu um departamento exclusivo para trabalhar com soja e pesquisar cultivares adaptáveis às diferentes regiões do RS – Embrapa, Emater/Ascar, Ufpel e UFSM, a oleaginosa se transformou em alternativa econômica viável e hoje ocupa metade da área destinada ao arroz.

Os principais gargalos de produção identificados e corrigidos foram, além da drenagem, a época da semeadura e a fertilidade do solo.

Soja 100%
Solucionados os problemas que impediam o avanço, hoje, quase 100% dos arrozeiros cultivam a oleaginosa, e com níveis de excelência.

A rotação contribuiu para a produtividade do arroz, pois, como explicou Igor Kohls, do Irga, a soja exige PH 6, enquanto o PH do cereal é de 5, e, ao aplicar calcário nas áreas, o arroz se beneficia, pois o solo fica mais rico em nutrientes. O fato da soja ser mais exigente com relação ao fósforo também favorece o arroz.

“O sistema de produção pingue-pongue, 80% arroz em rotação com 20% de soja, entrega, em média, 25 sacas a mais a repetição do cultivo arrozeiro e 10 sacas mais que os preparos de verão, que quase deixaram de existir com a expansão da oleaginosa, gerando também a valorização da terra pelo seu uso mais intensivo e produtivo”, observou o agrônomo Eduardo Muñoz.

Os resultados obtidos com a nova cultura, a partir de 2010, contribuíram, ainda, para mudar o perfil do rizicultor, que, então, tornou-se um produtor multissafras, passando a olhar com mais atenção para a inserção de outras culturas no sistema de produção rotacionado com o arroz, como o milho, o azevém e o trigo.

“Hoje, não somos só arrozeiros, somos produtores de alimentos”, sentencia Jorge de Barros Iglesias, administrador das Granjas 4 Irmãos S/A.

Questão básica
Na safra 2021/22, a região teve a melhor produtividade de arroz no RS ao colher 8,8 ton/ha em 161,8 mil hectares. A produção da zona sul foi de 1,4 milhão de toneladas, só menor que a da fronteira oeste, que colheu 2,2 milhões em 258 mil hectares.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter