O menino maluquinho

 O menino maluquinho

Várzea do Castagnino, em Cachoeira do Sul: Jacuí invadiu algumas das melhores lavouras da capital do arriz em outubro

O fenômeno climático El Niño volta a ameaçar a orizicultura.

O fenômeno climático El Niño está de volta. E traz com ele riscos de enchentes, tempestades, dias de baixa luminosidade e muita umidade. Tudo o que a lavoura gaúcha de arroz não precisava. O fenômeno se repete a cada três ou quatro anos e dura de um ano a 18 meses. É acompanhado de oscilações na pressão atmosférica ao nível do mar entre os dois hemisférios e vira o clima de cabeça para baixo, causando transtornos para agricultores por meio de estiagens, tempestades ou chuvas prolongadas.

Entre 1997 e 1998, na sua mais forte ocorrência no século 20, o El Niño provocou os mais sérios prejuízos para as lavouras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, com inundações. Foram as enchentes mais graves do sul do Brasil nos últimos anos. A ameaça colocou em sobreaviso todas as autoridades em climatologia do mundo, pois provoca transformações climáticas na faixa equatorial do planeta.

No Brasil, os reflexos mais sérios são sentidos no Nordeste e no Sul. As safras de verão, entre elas o arroz e as culturas de rotação em várzea, como soja, milho e sorgo, terão que enfrentar o humor do menino. A previsão é de um verão com chuvas acima do normal, principalmente na metade sul do estado, onde concentram-se 90% das lavouras de arroz. Esta condição pode acarretar enchentes nos rios e arroios, um fator de complicações para uma cultura de várzeas como o arroz.

 

Chuvas atrasam o plantio no sul

O excesso de chuva nas últimas semanas causou atrasos no preparo do solo e no plantio de arroz no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. As regiões mais prejudicadas no Rio Grande do Sul são a fronteira-oeste, a depressão central e a zona sul, de acordo com o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga). Até a primeira quinzena de outubro, foi cultivado menos de 1% dos 962 mil hectares planejados pelos gaúchos para a safra 2002/2003.

Nesta época, o plantio deveria estar na casa dos 15%, pelo menos. O presidente do Irga, Francisco Signor, acredita que pode até haver uma redução nos volumes estimados de área plantada, pois os produtores deverão evitar as áreas mais baixas, sujeitas a novos alagamentos.

Tradicionalmente, o plantio começa a ganhar volume na metade de outubro em todas as regiões. O atraso também pode se refletir em rendimento e produção menores. A expectativa inicial era de repetir a colheita anterior, alcançando 5,25 milhões de toneladas.

Como ocorrem as mudanças climáticas

O El Niño tem relação direta com os ventos alísios que sopram sobre o Oceano Pacífico Central. Em anos de ocorrência do fenômeno, esses ventos têm sua velocidade reduzida, e as águas da superfície, aquecidas, elevam o nível do mar. O deslocamento das águas traz calor para a costa da América do Sul.

Previsão

A primeira ocorrência do fenômeno no século 21 será de branda a moderada, segundo informam os climato-logistas, se comparada ao ocorrido em 1997. Isso, no entanto, não quer dizer que em algumas regiões específicas as ocorrências não sejam mais sérias. Apesar da tranqüilidade dos cientistas, é bom lembrar que nos anos de 1982 e 1983, a temperatura das águas no Oceano Pacífico – indicador para o fenômeno – tinha níveis similares e provocou catástrofes em duas regiões brasileiras. O Nordeste sofreu uma das mais castigantes secas, com lavouras dizimadas, a fome e a miséria se espalhando por centenas de municípios da região. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina, chuvas torrenciais destruíram bairros, devastaram lavouras e causaram mortes. Os primeiros efeitos do El Niño foram sentidos no inverno e na primavera, quando, no Rio Grande do Sul, as chuvas estiveram acima dos níveis normais.

 

EL Niño no mundo

Europa – Nevascas com intensidade superior ao normal são verificadas com o fenômeno. Itália e Grécia registram tremores de terra.

Ásia – Enchentes são os maiores transtornos provocados pelo El Niño. Na China, são as enchentes. No Japão e em Bangladesh, ciclones. Na Indonésia, Malásia e nas Filipinas, incêndios florestais causados pela seca. Nos três países, pessoas morreram em decorrência das maiores secas dos últimos 50 anos, em 1997.

Peru e Chile – Chuvas torrenciais prejudicam a infra-estrutura urbana e a agricultura destes países no litoral do Oceano Pacífico. Pescadores e os pássaros padecem com a migração de peixes com a mudança de temperatura nas águas do mar. No Chile, há registro de tremores de terra.

Uruguai e Argentina – Sofrem com a retenção de massas de umidade. Na maior parte dos casos, a origem dos problemas são as cheias nos rios.

África – Países que já sofrem com a fome, enfrentam secas prolongadas que causam estado de calamidade.

Oriente Médio – Terremotos no Irã têm relação com as transformações ambientais. Em Israel, enchentes no Rio Jordão e chuvas exageradas.

Oceania – A estiagem e as altas temperaturas causam incêndios florestais que atingem cidades e provocam um grande número de desabrigados.

No Brasil

No Nordeste – Seca prolongada e possibilidade de incêndios. As culturas do milho e soja e a fruticultura são bastante prejudicadas.

No Sudeste – Retenção da umidade no Sul altera a distribuição das temperaturas, fazendo o inverno mais ameno em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, e provoca alterações na cultura de citros, cana-de-açúcar, café e outros.

No Sul – Chuvas torrenciais causam enchentes e provocam danos à agricultura, principalmente ao arroz e demais cultivos de várzea. No Rio Grande do Sul, todas as regiões apresentam chuvas acima da média durante todo o ano. Enchentes podem ocorrer de setembro a novembro. De dezembro a fevereiro chove bem mais do que o normal.

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