Outros rumos
MT tem a menor área plantada de sua história, mas se mantém em terceiro no ranking nacional
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Ainda é cedo para qualquer previsão, mas, ao que tudo indica, o Mato Grosso poderá reduzir ainda mais a área plantada com arroz na safra 2012/13, a exemplo do que já vem ocorrendo nos últimos anos. A falta de linhas de crédito e apoio oficial do governo à orizicultura na região, somada à alta liquidez e rentabilidade proporcionada pela cultura da soja, tem sido um fator determinante para esta retração.
Nem mesmo a oferta de R$ 42,00 por saca de 60 quilos do arroz da variedade Cambará (55% de inteiros acima), registrada na primeira quinzena de julho de 2012, conseguiu animar os produtores. “O preço está bom, mas a soja a R$ 64,00 segue remunerando melhor. Enquanto a soja tem financiamento e compra antecipada garantida pela indústria, o arroz depende exclusivamente do investimento do produtor”, observa o diretor da AgroNorte Pesquisas e Sementes, Ângelo Carlos Maronezzi.
Na última safra, segundo dados da Companhia Estadual de Abastecimento (Conab), as lavouras de arroz no estado sofreram uma expressiva redução de área (37,1%), passando de 256 mil hectares para 161 mil hectares. Em volume, a produção caiu de 795, 9 mil toneladas para 514,6 mil toneladas, uma queda de 33,3% em relação ao período anterior.
Apesar deste desempenho, o Mato Grosso se mantém na terceira posição no ranking dos maiores estados produtores do cereal, não exatamente por méritos próprios, mas pela estiagem que frustrou a safra do Maranhão, o quarto colocado, e reduziu a produção deste estado do Nordeste em 35,5%, conforme a Conab.
A indústria e o varejo, com apoio de algumas corretoras, estão buscando junto ao governo do estado do Mato Grosso a isenção do ICMS de 7% sobre o arroz comprado no Sul do Brasil para recompor seus estoques a partir de agosto. A indústria julga que a disponibilidade de matéria-prima nas mãos dos produtores está quase zerada e algumas delas teriam grão em casca para operar por, no máximo, 90 dias, tempo insuficiente para a chegada da próxima safra.
Recuperação é a solução
Mesmo com a valorização do produto neste início de segundo semestre, produtores do Centro-oeste acreditam em maior queda na produção de arroz do MT para o próximo ano, perdendo mais área para a soja. “Embora os preços estejam bons, a maioria dos produtores teve prejuízo com o arroz na última safra. Alguns venderam seu produto antes dos preços subirem e outros abandonaram a atividade em razão dos prejuízos”, lamenta o pecuarista Ben Hur Cabrera Mano, de Juara, município situado na Região Norte do estado.
Proprietário de nove fazendas na região, que totalizam 19 mil hectares, Ben Hur explica que cultiva arroz há 10 anos, como alternativa para a reforma de pastagens degradadas. “Planto em média de 500 a 700 hectares, a maior parte com a variedade Primavera, pela qualidade para a indústria e porque possibilita o planejamento da colheita, além da Cambará e dos híbridos da RiceTec”, explica.
Cabrera Mano: arroz só para recuperar pastagens
GARGALO
A recuperação de pastagens degradadas tem sido apontada como o principal gargalo da pecuária no MT. O arroz, em contrapartida, é a cultura mais adequada para fazer a renovação do pasto, porque a planta tolera acidez e alumínio no solo. Este sistema já vem sendo utilizado há anos no estado, com resultados imediatos.
Pesquisas realizadas pela AgroNorte e outras instituições comprovam que, na recuperação convencional, apenas replantando o pasto, o pecuarista leva em média quatro anos para recuperar o investimento, enquanto que, com o plantio de arroz, ele paga todo o custeio e ainda pode obter lucro com a venda do cereal.
Outra característica desse modelo de produção no Norte do estado, segundo Ben Hur, está no cumprimento das regras ambientais, no uso correto da água e no respeito às áreas de reserva legal. “Dos 19 mil hectares que possuo, 10 mil são destinados à reserva legal obrigatória”, informa.
Apesar de todas essas vantagens proporcionadas pela orizicultura, o pecuarista prevê uma área ainda menor para o arroz do MT na safra 2012/13. “Acredito que a área cultivada com o cereal deverá ser reduzida em torno e 10% a 15%. A diferença em relação ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina é que, no Mato Grosso, a área de arroz pode ser substituída por outras culturas de alto rendimento agronômico e econômico. Aqui, as áreas estão sistematizadas para a cultura da soja, enquanto o arroz não oferece ao produtor nenhuma garantia de preço”, admite.
QUESTÃO BÁSICA
O Mato Grosso sempre esteve entre os quatro maiores produtores brasileiros de arroz. Em 1996, tornou-se o segundo produtor nacional de arroz, chegando a ser responsável por 13,5% da produção nacional em 2004. Em virtude de diversos fatores conjunturais ocorridos na safra 2004/2005, houve uma redução significativa da área de plantio e, em consequência, da produção mato-grossense no ano de 2005, o que fez com que o estado, nesse ano, voltasse a ser o terceiro produtor nacional, logo atrás de Santa Catarina.