Para entender a queda do preço do petróleo, olhe para o arroz

 Para entender a queda do preço do petróleo, olhe para o arroz

Sacos de arroz sendo descarregados num mercado na Índia

Especialistas dizem que a estocagem ajuda a formar bolhas de commodities, como ocorreu com o arroz em 2007, depois que a Índia suspendeu as exportações do produto para garantir o suprimento doméstico.

Para entender a queda recente nos preços do petróleo, considere um produto que está na sua cozinha: o arroz.

Os economistas acreditam que estocar desempenha um papel importante nas bolhas de commodities, mas só agora eles estão conseguindo as provas necessárias para compreender exatamente como o processo funciona. Uma conclusão desse aprendizado é que os preços ainda não atingiram o fundo do poço.

Uma teoria padrão de como as bolhas de commodities se formam começa com um desequilíbrio entre oferta e demanda. Isso eleva os preços e provoca a armazenagem do produto, em função ou do receio de não ter o suficiente ou da expectativa de vender a preços maiores no futuro.

A armazenagem limita ainda mais a oferta, empurrando os preços ainda mais para cima. A estocagem, a princípio cautelosa, transforma-se em acumulação generalizada, e a bolha cresce.

Ainda assim, é difícil ver com exatidão como essas bolhas operam, uma vez que os mercados de commodities são redes complexas de fornecedores, intermediários e consumidores.

Quando, em 2011, os preços do algodão atingiram seu nível mais alto em 140 anos, ficou claro que um processo de acumulação estava em andamento, mas ninguém sabia em que volume. Grandes produtores como Índia e Brasil não possuíam dados de estoques. Quando o The Wall Street Journal visitou a província chinesa de Shangdong em janeiro de 2011, os produtores estavam armazenando toneladas de algodão em suas casas. Os preços do algodão recuaram cerca de 70% desde o seu pico.

Recentemente, contudo, pesquisadores tiveram acesso a um enorme conjunto de dados sobre o comportamento do consumidor americano.

Numa pesquisa do Painel Nielsen Homescan, uma parceria entre a Nielsen e a Escola de Administração Booth, da Universidade de Chicago, 100 mil lares dos Estados Unidos estão registrando os códigos de barra de todos os produtos que compram.

Trabalhando com o economista Áureo de Paula, da Universidade College London, e com o economista Vishal Singh, da Universidade de Nova York, Hong utilizou os dados do Homescan para examinar outra bolha, a de arroz. Ela começou no fim de 2007, quando a Índia, preocupada em garantir o suprimento doméstico, proibiu as exportações de arroz. Temores de escassez levaram a uma compra desenfreada. Os EUA não enfrentaram uma escassez de arroz, mas os preços dispararam e as pessoas começaram a estocar. Atacadistas como Costco Wholesale COST +0.91% e Sam’s Club passaram até a limitar compras a granel.

Os economistas fizeram descobertas surpreendentes. Por exemplo, embora muitos possam pensar que famílias de renda mais baixa sejam as mais inclinadas a entrar em pânico com o aumento dos preços, foram as de renda maior que estocaram mais. Talvez elas tenham acompanhado as notícias mais atentamente ou simplesmente possuíam mais dinheiro para comprar arroz.

O mais estranho é que pessoas que não compravam arroz passaram a comprar durante a crise e, depois, nunca mais compraram. Elas podiam estar revendendo, mas é mais provável que tenham sido somente levadas pela situação. Os preços de arroz caíram pela metade desde o início de 2008.

A lição: as bolhas de commodities são alimentadas pelo comportamento irracional e não duram para sempre. Em um determinado momento, os preços altos desencorajam o consumo e a oferta aumenta. Os preços caem e os estoques começam a ser queimados. Os intermediários que estavam tentando lucrar com a escassez começam a vender para evitar prejuízos.

Talvez elas não estivessem em uma bolha, mas as duas maiores indústrias de commodities, o petróleo e o aço, estão vendo algo parecido agora que os preços do petróleo bruto e do minério de ferro, usado para fabricar o aço, estão despencando.

Imagine, então, que algo mais do que uma simples estocagem estivesse acontecendo. Baseadas em expectativas de que um consumo global crescente ultrapassaria a oferta, as pessoas foram levadas pelo mesmo temor de escassez que os acumuladores de arroz.

Certamente, o minério de ferro e outros metais desempenharam um papel importante como garantias de empréstimos no rápido crescimento das formas de financiamento não convencionais na China, o chamado “shadow banking”, que o governo chinês está agora reprimindo. Já nos EUA, houve uma corrida das petrolíferas para comprar terras a preços altos, corrida essa financiada por vários tipos de instituições, desde bancos regionais a empresas de private equity, baseadas na ideia de que o preço de três dígitos do petróleo veio para ficar. Esse movimento está agora gerando uma crise possível crise no mercado de títulos de dívida de alto risco.

À medida que todos se dão conta da realidade, é possível que os preços ainda tenham um bom espaço para cair.

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