Principais pragas do arroz
Gorgulho-aquático/Bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae);
O gorgulho-aquático, cujas larvas (bicheira-da-raiz) cortam o sistema radicular das plantas, tornou-se uma das principais pragas com potencial de danos na cultura do arroz irrigado.
Segundo o entomologista José Francisco da Silva Martins, da Embrapa Clima Temperado, para o controle da praga, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a cada safra é adotado basicamente o tratamento de sementes em cerca de 85% da área cultivada utilizando-se alguns inseticidas cujo uso já foi proibido em outros países.
Uma redução drástica do nível de infestação tem sido atribuída à redução da espessura da lâmina da água de irrigação, decorrente do aplainamento do solo, à expansão do cultivo em áreas declivosas (“coxilhas”), ao acúmulo no solo de resíduos de inseticidas aplicados às sementes, à rotação/sucessão de culturas que eliminam populações autóctones na entressafra e à irrigação por aspersão.
A bicheira-da-raiz, porém, se mantém agressiva ao arroz pré-germinado, podendo reduzir em até 20% a produtividade, principalmente após a restrição do uso de inseticidas granulados. Para o manejo do gorgulho-aquático são inovações o aproveitamento do residual de inseticidas no solo, em até duas safras após o tratamento de sementes, a recuperação de plantas danificadas pela adubação nitrogenada e a incorporação de resistência genética ao inseto em novas cultivares.
Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris)
O percevejo-do-colmo é capaz de causar perdas de produtividade de até 80% em algumas lavouras, dependendo do nível de dano e infestação. Segundo o entomologista José Francisco da Silva Martins, da Embrapa Clima Temperado, para o controle, predominantemente, são aplicados, via aérea, inseticidas misturados a fungicidas, a partir do “emborrachamento” das plantas de arroz, quando o inseto já causou danos.
A redução das infestações pode ser obtida via pulverizações de inseticidas, seletivos a inimigos naturais (entomopatógenos; parasitoides; predadores), às margens das lavouras, na fase intermediária de perfilhamento, quando a primeira geração do percevejo está agregada em plantas com poucos perfilhos (lavoura aberta), facilitando o atingimento pelas caldas.
A incidência do inseto aumenta com o cultivo de arroz na mesma área em safras sucessivas, cultivo sobre taipas e cultivo sob irrigação por aspersão. Há elevado potencial para controle biológico do percevejo-do-colmo, via fungos entomopatogênicos altamente virulentos e com base nas condições micrometeorológicas entre as plantas de arroz irrigado.
Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus)
O percevejo-do-grão é mais uma das pragas de grande importância econômica na orizicultura brasileira. Se alimenta da sucção da seiva e causa o chochamento e gessamento dos grãos, os deixando extremamente frágeis, o que é prejudicial ao processo de beneficiamento. Então, o fundamental é realizar a amostragem com frequência porque tanto as ninfas quanto os adultos se deslocam com facilidade.
Os adultos passam o período de entressafra (outono e inverno) em hibernação, abrigados em refúgios em áreas próximas às lavouras. No final de outubro e início de novembro se movem à procura de alimento para repor a perda nutricional.
Como nesses meses as plantas de arroz ainda não estão produzindo grãos, os percevejos vão para hospedeiros alternativos. Dessa forma, as primeiras gerações estivais desenvolvem-se fora das arrozeiras, em hospedeiros.
Os principais hospedeiros são: capim-arroz (Echinochloa spp), grama-forquilha (Paspalum spp), braquiárias (Brachiaria spp) e milhã (Digitaria spp). Posteriormente, as fêmeas dirigem-se para a lavoura, colocando os ovos nas folhas, grãos do arroz ou plantas daninhas, podendo envolvê-las completamente e, após 7 dias, surgem as ninfas. Mesmo ocorrendo em focos, os insetos deslocam-se e realizam as posturas em várias partes da lavoura. A invasão das lavouras só ocorre mesmo a partir do florescimento do arroz.
Outros aspectos peculiares do percevejo-do-grão na lavoura de arroz são a formação de enxames e a postura concentrada de ovos. Esses percevejos também são vetores de vários fungos, alguns dos quais contribuem para aumentar a incidência de manchas nos grãos, quando associados às picadas dos percevejos.
Lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda)
A época de infestação das plantas de arroz e os danos que causa à cultura podem ser diferenciados dependendo do sistema de cultivo. Porém, tanto nas várzeas subtropicais quanto nos cerrados, o controle da lagarta é baseado, principalmente, no uso de inseticidas químicos e no manejo da irrigação precoce. Os danos já foram mensurados em até 25% da lavoura. A presença de cultivos de milho em várzeas, no início dos anos 2000, é considerado um marco no ingresso desta praga no ecossistema do arroz.
Além destes, são hospedeiros preferenciais os exemplares de capim arroz (Echinochloa spp).
Os surtos do inseto estão associados às condições climáticas favoráveis, à sua biologia, supostamente temperatura mais elevada e baixa precipitação pluviométrica.
O ataque da lagarta-da-folha inicia-se logo após a emergência das plantas, cortando-as rente ao solo. Nesta situação é incluída no grupo das pragas de solo, de superfície, da fase pré-perfilhamento. Ela também ataca as folhas de arroz, durante as fases vegetativa (de perfilhamento) e reprodutiva da cultura, sendo mais prejudicial nesta última, se causar danos às folhas bandeira ou às panículas.
Nas várzeas, em áreas planas, o período crítico de ataque está compreendido entre a emergência das plantas e a inundação da lavoura. A água de irrigação provoca a morte das lagartas por afogamento ou, deslocando-as do solo, as expõe ao ataque de aves e pássaros que invadem os arrozais por ocasião da inundação. Além da irrigação precoce, o controle é feito por meio de inseticida biológico ou químico.
Lagarta da panícula (Pseudaletia sequax e P. adultera)
Segundo o entomologista consultor do Irga Jaime Oliveira, esta é uma das principais pragas da cultura do arroz, está distribuída por todo o Sul do Brasil e tem ocorrido em mais de 50% das lavouras. São duas as espécies: a Pseudaletia adultera e a P. sequax, sendo que a adultera é responsável por cerca de 70% da população.
As fêmeas fazem as posturas nas folhas e colmos, colocando até 1.000 ovos. Após surgem as lagartinhas que atacam as plantas, em média, por 28 dias. Nos primeiros estágios as lagartas se alimentam das folhas e nos demais cortam as panículas.
A diferenciação das lagartas dessas espécies é viável a partir do quarto ínstar. As P. adultera são escuras e as P. sequax, rosadas.
O período crítico da lagarta-da-panícula vai do florescimento até a colheita. Durante o dia as lagartas encontram-se abrigadas na parte inferior das plantas, subindo à noite para atacarem as panículas.
O monitoramento deve ser realizado na fase crítica. São recomendadas amostragens em que são abertas as plantas para verificar a ocorrência de lagartas ou se existe parte da panícula caída no solo. Quando forem encontradas 2 lagarta/m², medidas de controle devem ser adotadas, pois quando estes insetos ocorrem em altas populações os prejuízos na produtividade podem chegar a 20%.
Depois da colheita as lagartas hibernam dentro da lavoura, abrigando-se na resteva, em áreas mais altas. Mesmo com temperaturas baixas no mês de junho, na palha do arroz foram encontradas lagartas.