Sem acordo
Argentina, Brasil e Uruguai
reduzem área pelos custos. Paraguai aumenta a lavoura.
O que não falta na orizicultura do Mercado Comum do Sul (Mercosul) são crises, ameaças de barreiras, tributação, estabelecimento de cotas e assimetrias que vão da ordem tributária, financeira e comercial até a autofagia de derrubar os preços e gerar prejuízos ao ter 16 milhões de toneladas disponíveis para um mercado de apenas 12 milhões. Em 2017 – e deve manter-se em 2018 sem intervenções governamentais ou alteração no câmbio – o Mercosul foi ótimo exemplo de como não se faz um mercado comum.
Enquanto nos Estados Unidos os produtores se organizam e reduzem a expectativa de produção de arroz para os próximos anos visando ajustá-la à demanda e promover reação dos preços, o Mercosul vive uma desorganização na sua escala produtiva e estabilização do consumo. Isso diante de uma realidade na qual os custos de produção são superiores aos preços de comercialização. Realidades distintas entre norte e sul da América.
Depois de uma quebra importante na safra 2015/16 e uma forte oscilação cambial, o mercado brasileiro se descolou dos preços internacionais. De uma média inferior a US$ 9,00, remuneradora em reais, a saca de arroz no Brasil passou a valer até US$ 16,00. Sem competir em mercados atendidos pelos Estados Unidos, os fornecedores da América do Sul foram atraídos pelos preços elevados do mercado brasileiro, estimado em 11,5 milhões de toneladas. Como o país colheu grande safra em 2016/17, a oferta interna e do Mercosul pressionou os preços internos, levando as cotações abaixo do custo de produção.
Com demanda interna inferior a 100 mil toneladas (10% da sua produção) e 85% das vendas concentradas no Brasil, o Paraguai se tornou mais agressivo, abriu mão de suas margens e abocanhou fatia importante (mais de 50%) do mercado importador brasileiro em 2016 e 2017 com cargas para São Paulo e Minas Gerais. Argentina, Uruguai, gaúchos e catarinenses saíram perdendo em preços e volumes. Este movimento anulou qualquer chance de firmeza nas cotações que eventual retração na oferta interna poderia ter. “Os grandes atacadistas e varejistas tomaram por referência a paridade de importação a balizar o mercado interno”, explica Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. E isso não deve mudar: “A referência dos preços internos continuará sendo a paridade de importação”, completa.
Com variedades brasileiras e custos inferiores, o Paraguai elevou sua produção de 480 mil toneladas na temporada 2011/12 para uma estimativa superior a 1 milhão de toneladas no atual ciclo. Além da quantidade, houve mudança do perfil das exportações, que eram de grão em casca e agora são de beneficiado. O analista acredita que o Brasil deve importar 1,2 milhão de toneladas no próximo ano comercial ainda em função da disparidade de preços e custos com os sócios do Mercosul. “Sem eventuais intervenções políticas, essa será uma realidade com a qual o setor produtivo brasileiro terá que se ajustar”, argumenta Élcio Bento. A competitividade dos paraguaios tem gerado dificuldades não só no Brasil, mas também no Uruguai e na Argentina.