Soja na Metade Sul gaúcha: motivações e problemas
Até a safra gaúcha de 2009/10, o Rio Grande do Sul semeava uma área de soja entre 3,8 e 4,1 milhões de hectares. A partir daquele ano, nota-se um sensível aumento da mesma, culminando em 5,91 milhões de hectares em 2019/20. Um crescimento, em 10 anos, ao redor de 50%.
O mesmo se deve particularmente ao avanço da soja sobre as áreas de várzea de arroz e coxilhas da Metade Sul gaúcha. Dentre as motivações para isso ocorrer destacam-se duas: rentabilidade e facilidade de comercialização da oleaginosa. E isso se cristalizou a partir do momento em que o arroz entra em crise econômica.
De fato, nesta década os preços nominais do cereal (considerando o mês de março de cada ano) passaram de R$ 27,62/saco, em 2009, para R$ 37,49 em 2019. Um aumento de 35,7% no período. Enquanto isso, o custo total da lavoura orizícola gaúcha, em valores nominais, passa de R$ 27,71 para R$ 58,54/saco, ou seja, um aumento de 111,3%. E o avanço da produtividade média não compensou esta diferença.
Aliás, desde 2009/10 os produtores gaúchos de arroz tiveram margem positiva em apenas três safras. É neste quadro que, nos últimos 10 anos, a soja passa a ser uma importante alternativa econômica.
No período considerado, o preço nominal médio da oleaginosa no Rio Grande do Sul subiu 70,8%, passando de R$ 48,00 para R$ 82,00, enquanto seu custo total médio passa de R$ 37,00 para cerca de R$ 60,00/saco, a partir de uma produtividade média de 50 sacos/hectare. Um aumento de 62% no período. Assim, na safra 2018/19, enquanto o arroz resulta em prejuízo de R$ 21,05/saco, a soja registra um ganho médio de R$ 22,00/saco.
Em se mantendo tal quadro comparativo, será difícil a soja perder o espaço que conquistou na metade sul do Estado. A tendência, inclusive, é de avançar um pouco mais.
Dito isso, salienta-se que ela também traz problemas importantes à região.
Dentre eles destacam-se: o mau uso dos agrotóxicos; a redução da área de campo; a redução do rebanho bovino; o desemprego; e o forte aumento no valor dos arrendamentos. Soma-se a isso a instabilidade do clima regional; o solo pouco favorável ao plantio da oleaginosa; e a existência de uma mão de obra local desqualificada, o que acelera o desemprego regional e o êxodo rural.
Então, se por um lado a soja dinamiza a economia, permitindo mais sobra de renda, igualmente ela aprofunda a monocultura e a concentração de terras e renda locais. Desta forma, se a soja se soma à geração de riqueza da metade sul gaúcha, sua implantação tem limites que não podem ser ultrapassados. Portanto, a oleaginosa deve ser vista como uma complementação às atividades existentes, e não um substituto.