“A lavoura está acima das disputas políticas”

 “A lavoura está acima das disputas políticas”

Pereira: contribuição à orizicultura

O engenheiro agrônomo e ex-prefeito de Santa Vitória do Palmar, Cláudio Fernando Brayer Pereira, é o novo presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga). Sua nomeação pelo governador Tarso Genro, publicada na edição de 10 de janeiro de 2011 do Diário Oficial, tornou sem efeito o ato que nomeou o engenheiro mecânico e funcionário de carreira Maurício 
Fischer no dia 8 de dezembro do ano passado. Pereira foi funcionário da Emater do Paraná, atuou por 10 anos na área comercial da empresa pelotense Josapar e entre 2000 e 2002 foi assessor do departamento técnico do Irga. “Sou do setor e tenho uma vida nessa área. 
Conheço a estrutura e as carências do instituto”, enfatiza. Nesta entrevista exclusiva para a 
Planeta Arroz o dirigente fala de suas prioridades à frente da instituição e promete atenção especial à comercialização do arroz e à melhora dos preços pagos aos orizicultores. 

Planeta Arroz – O senhor está assumindo a presidência do Irga em um momento difícil da cultura do arroz no RS. Qual a sua análise sobre a atual conjuntura e os desafios do setor para superar a crise? 

Cláudio Pereira – A situação da lavoura e do mercado de arroz é preocupante visto que o governo tem estoques, os produtores têm estoques de passagem e a produção que se avizinha em um ano de La Niña é grande em termos de oferta do produto. O mesmo ocorre no mercado internacional. Os estoques estão firmes e não há quebra em nenhum país produtor. Ao mesmo tempo, um dos grandes desafios é a questão de preço e do custo da lavoura. Acredito que temos mais uma crise de custos do que uma crise de preço. 

Planeta Arroz – Olhando os preços mundiais, o custo do arroz a R$ 29,19 é impraticável no mercado interno e dificulta as exportações. 

Cláudio Pereira – Sim, é por isso que discutir custos, desde a questão tecnológica, da pesquisa, da extensão rural de fato e buscar alternativas de produção que reduzam o consumo de agroquímicos, de água, de energia e de combustíveis. Também temos as questões tributárias, da guerra fiscal no país, da incidência de impostos sobre insumos e sobre produtos utilizados na produção da lavoura. Temos vários campos de batalha para resolver esse problema do preço, que não é só preço, é uma conjugação de fatores que deixa o produtor desassistido na base e que desemboca no preço. 

Planeta Arroz – Ao assumir a presidência o senhor anunciou que iria priorizar medidas para amenizar a queda dos preços e melhorar a comercialização. De que maneira isso pode ser feito? 

Cláudio Pereira – Estamos trabalhando em curtíssimo prazo na questão do preço, através de compras do governo federal e de programas de escoamento e prêmios em médio prazo. Outra medida que estudamos é a reforma tributária. Eu discordo da Federarroz em relação a impormos barreiras fitossanitárias. Na minha opinião, pode ser uma faca de dois gumes, pois estimula que o arroz não entre mais pela nossa fronteira, mas diretamente em outros estados, como no Nordeste, onde não há essas barreiras. Com isso a nossa indústria corre o risco de perder competitividade e espaço. O risco que corremos no futuro é o de desestabilizarmos a cadeia produtiva do RS, assim como o setor industrial, e que hoje há um conflito entre essas duas partes. Um dos pontos de pauta do Irga para reduzirmos custos é a questão das tabelas de recepção de arroz, que hoje estimulam todos os produtores a colocar arroz na indústria e não mais em armazéns privados, em cooperativas e na Cesa. Então temos que resolver este conflito, que que é sério e está trazendo graves prejuízos aos produtores e à estabilidade nas relações comerciais. 

Planeta Arroz – Este é um conflito permanente. Qual o papel do Irga nessa relação? 

Cláudio Pereira –
Produtores e indústrias têm interesses antagônicos. O produtor quando puder vender a R$ 40,00 não vai vender a R$ 27,00. A indústria, por sua vez, quando puder comprar a R$ 20,00 não vai pagar R$ 35,00. Nenhum deles é entidade benemerente. O nosso trabalho é fazer com que essas relações se estabeleçam em um patamar de harmonia porque a sobrevivência de um é a garantia da sobrevivência do outro. O Irga tem um papel importante, até porque os dois setores integram o seu conselho. 

Planeta Arroz – E quanto às importações do Mercosul? 

Cláudio Pereira – O governador Tarso Genro já está tratando deste tema com a presidenta Dilma Rousseff sobre estratégias para convencer os demais países do Mercosul sobre a necessidade de se buscar, em parceria, terceiros mercados para comercializar o excedente de produção do bloco. Temos que favorecer os parceiros menores do Mercosul porque o Brasil se favorece muito mais do que eles, e o arroz é um produto de pauta de exportações deles. É lógico que eles competem conosco, mas não podemos acabar com o Mercosul por causa do arroz. Temos que achar uma saída para o arroz do Mercosul e uma delas é essa: exportar em bloco. 

Planeta Arroz – De que outras formas este alinhamento entre governos estadual e federal pode beneficiar a agricultura gaúcha, sobretudo o arroz? 

Cláudio Pereira – Este alinhamento proporciona um canal de diálogo entre estas duas esferas de governo. As relações políticas do governo federal e dos dirigentes do governo do estado são de confiança e de projeto político. No momento em que o governador Tarso Genro liga para a presidenta Dilma para dizer que o setor arrozeiro está necessitando de medidas urgentes, certamente a presidenta não está enxergando aquilo como uma disputa político-partidária e sim como um sentimento que o governador detectou. Esse canal de diálogo direto apressa soluções, encurta caminhos. Exemplo disso é que nesse momento já estão sendo anunciadas medidas para o setor sem a necessidade de se fazer caravanas a Brasília de chapéu na mão. Hoje se estabelece uma interlocução forte no estado, iniciando lá na base com o presidente do Irga, num patamar intermediário com o secretário da Agricultura e superior com o governador do estado, os três comprometidos em fortalecer essa importantíssima cadeia produtiva que é a do arroz, a segunda maior cultura do RS e a maior da metade sul do estado. 

Planeta Arroz – Uma das metas do setor é exportar 10% da produção gaúcha de arroz. O governo anterior, no entanto, passou a administração do terminal da Cesa, que era para o arroz, para o Porto de Rio Grande… 

Cláudio Pereira – Estamos estudando medidas jurídicas para retomar esse terminal. A posição do Irga é de que os silos estejam na mão da Secretaria da Agricultura e da Cesa. Isso é estratégico não só para o arroz, mas para o governo do estado, para outras culturas e setores que necessitam daquele terminal para exportar. O arroz talvez seja o mais sensível. Temos que exportar para compensar o que entra do Mercosul. 

Planeta Arroz – Como o senhor avalia o processo de transição que o conduziu à presidência do Irga após a exoneração do presidente eleito Maurício Fischer? 

Cláudio Pereira – Muito tranquila. Tenho uma relação antiga com o Maurício e o Valmir Menezes (ex-diretor-técnico). Quando assumi funções de diretor no Irga, durante o governo Olívio Dutra, o Maurício era o chefe da pesquisa. Desde então temos uma relação muito fraterna. É preciso separar a política da questão pessoal. Por isso não queremos queimar etapas, tempo e energia com coisas que são meramente políticas. Queremos contribuir para resolver as questões da lavoura. 

Planeta Arroz – E que mudanças o senhor pretende implementar em sua gestão à frente do Irga? 

Cláudio Pereira – Não está se fazendo uma mudança radical, mas está se organizando as coisas. A nova diretoria terá como uma de suas prioridades a mudança da estrutura de cargos e salários do instituto. São funções que só tinham sido criadas por regulamentação e nunca por lei. Serão criadas três carreiras: uma de nível superior, que engloba a extensão rural e pesquisa, uma de nível médio, com técnicos agrícolas, e também a de auxiliares administrativos. A intenção é extinguir os cargos em comissão e abrir novas vagas por meio de concurso público. Assim retomaremos a estratégia de um órgão de estado, com atuação em defesa da pesquisa e extensão, que promove estudos e propostas para o setor.

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