19ª Abertura da Colheita debate a biotecnologia e a cultura do arroz
Assunto deverá pautar a participação do setor orizícola na audiência pública sobre a liberação para plantio comercial do arroz transgênico Liberty Link.
O painel A Biotecnologia e a Cultura do Arroz, apresentado pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marcelo Gravina de Moraes, mobilizou, na tarde de quinta-feira, dia 5 de março, a atenção dos participantes da 19a Abertura Oficial da Colheita do Arroz.
O evento, promovido pela Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz) em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e o Governo do Estado, com o apoio de instituições públicas e privadas, na Estação Experimental do Irga, em Cachoeirinha (RS), lançou as bases de uma discussão que deverá pautar a participação do setor orizícola na audiência pública sobre a liberação para plantio comercial do arroz Liberty Link, transgênico da Bayer.
Na primeira parte da palestra, Marcelo Gravina de Moraes chamou a atenção do público para um aspecto relevante sobre o tema: o fato de o melhoramento genético ser um dos principais responsáveis pelo sucesso da agronegócio brasileira. Lembrou também que o arroz é o segundo genoma de planta a ser sequenciado no Brasil e que as pesquisas nesta área estão bastante avançadas.
Além de traçar uma panorâmica sobre a situação dos organismos geneticamente modificados no Brasil e no mundo, o professor da Ufrgs destacou questões que ainda precisam ser melhor avaliadas, como impacto no meio ambiente, qualidade do alimento e segurança alimenta, aumento de produtividade, consumo, produção de sementes, propriedade intelectual e comércio internacional.
Embora o principal argumento a favor do arroz transgênico, no caso o LL da Bayer, seja a eficiência no combate ao arroz vermelho, problema que aflige boa parte das lavouras gaúchas, pairam ainda muitas dúvidas sobre o assunto. Uma delas – como ficou claro no debate que se seguiu ao painel – diz respeito a aceitação do produto pelos consumidores no mercado internacional, o que poderia, inclusive, comprometer as exportações brasileiras. É o caso da Europa, mercado promissor às exportações brasileiras e que não consome o produto.
– A sensibilidade do consumidor europeu é muito alta – observou Gravina antes do debate que sucedeu a palestra.
O produtor e consultor do Irga, Mário Petry de Souza, que começou a exportar para Arábia Saudita, Emirados Árabes e Leste Europeu na safra passada, informou que países como Rússia e Bielorússia, por exemplo, exigem laudo comprovando a ausência de OMG em suas importações do Brasil. A Lituânia é o caso mais emblemático de rejeição ao produto transgênico.
– Eles vão enviar um técnico ao Brasil para acompanhar o andamento das lavouras e os embarques de arroz brasileiro, além de colher amostras para análise em laboratório – observou.
Por outro lado, destacou que países como Jordânia e Nigéria não especificam nenhuma restrição a este respeito.
O diretor do Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) Colômbia, Gonzalo Zorrilla de San Martin, lembrou que foram os problemas registrados com o arroz transgênico nos EUA que fizeram o país perder a condição de exportador para a Europa. Com isso, outros países produtores, como o Uruguai, tiraram vantagem por não cultivarem arroz geneticamente modificado.
– Não trabalhamos com transgênico. Apostamos nos métodos tradicionais de seleção de variedades – enfatizou.
O presidente da Federarroz, Renato Rocha, salientou que o debate com os produtores ajudou a criar condições para que a entidade assuma um posicionamento sobre o assunto. O presidente do Irga, Maurício Fischer, deixou claro que o Instituto é favorável às pesquisas com tecnologia – que na prática são responsáveis pelos avanços de produtividade das lavouras gaúchas -, mas que a discussão precisa ser aprimorada.
– Ainda não sabemos, por exemplo, a posição da indústria nessa questão – destacou.
O tema deverá ser retomado no VI Congresso do Arroz Irrigado, que acontecerá de 11 a 14 de agosto, no Centro de Eventos da Fiergs, em Porto Alegre.