2005: a safra que não terminou
Ano começa novamente com muitas esperanças e poucas certezas
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O grande desafio da cadeia produtiva do arroz do Brasil em 2006 não será colher a safra em andamento. Dizia um tradicional produtor gaúcho que a safra só termina mesmo depois que o arroz foi comercializado a preço justo. Olhando por este ângulo, a safra 2005 não terminou. E talvez não termine em 2006. As variáveis que regulam o mercado interno do arroz pressionaram os preços para baixo todo o ano de 2005 e, apesar de um cenário melhor, 2006 não indica uma valorização do cereal a ponto de ser considerado “preço justo”.
O Governo Federal parece ter acordado para a necessidade de interferir no mercado logo na safra e garantir mecanismos de garantia do preço mínimo – ao menos – e escoamento da produção, permitindo o alongamento da oferta. Mas apesar da queda da produção no Centro-oeste e da realidade de o Brasil estar colhendo menos do que consome por ano, o mercado seguirá com uma ameaçadora espada dos estoques reguladores sobre a cabeça da cadeia produtiva nacional, a ameaça invasora do produto do Mercosul – pelo menor custo de produção.
A compra de estoques segue sendo um paliativo. Vital, em alguns momentos, mas sempre perigoso. Principalmente em um ano eleitoral no qual o presidente da República é candidato à reeleição. Para o candidato vale mais a pena liberar R$ 1 bilhão para sustentar preços de comercialização para a cadeia produtiva ou liberar um milhão de toneladas de arroz a preços baixos para mais de 100 milhões de eleitores? Esta é a pergunta que mais preocupa ao setor neste período pré-eleitoral.
Por razões como esta, o ano começa novamente com muitas esperanças e poucas certezas sobre o comportamento de preços ao produtor. O desafio de 2006 será “terminar a safra” sem dívidas, com o cereal valorizado acima do preço mínimo de garantia (R$ 22,00) e diretrizes que apontem para uma safra 2006/2007 muito mais tranqüila.