Casca de arroz como combustível para formação de biomassa

 Casca de arroz como combustível para formação de biomassa

Foto: Jô Folha/DP

(Por Leon Sanguiné, Diário Popular) Um investimento que seria importante para a região, mas vai para outras localidades. Uruguaiana e Capivari do Sul, no litoral Norte, contarão em breve com termelétricas que utilizam a casca de arroz como combustível. Enquanto isso, Pelotas, um dos principais polos arrozeiros do Brasil, segue sem alternativa de descarte para o material, tendo as indústrias que arcar com o envio para queima ou outra finalidade.

Os dois empreendimentos partiram da Enerbio Energia e Meio Ambiente, de Porto Alegre. Em ambos os casos, o arroz será utilizado como combustível para formação de uma biomassa. Somados, os investimentos são de R$ 80 milhões. Além deles, a empresa também está inserida na construção de uma usina em São Sepé, na região central do Estado.

Conforme explica à reportagem o professor Moacir Elias, da faculdade de Agronomia da UFPel, a casca é o produto não-alimentar mais expressivo gerado pelo beneficiamento do arroz. Ela representa entre 20% e 22% da massa (peso) e 30% do volume dos grãos. Como combustível de termelétricas, elas seriam utilizadas nas próprias indústrias, mas também em outros setores da sociedade, ou mesmo para o uso residencial. “A energia é gerada pela queima das cascas em fornalhas que aquecem o ar para secagem dos grãos ou alimentam caldeiras para produzir vapor nas indústrias de arroz parboilizado. Nas usinas termoelétricas também a energia é produzida por combustão, mas em queimadores maiores e mais tecnificados.”

Existem outras vantagens, como a utilização da casca queimada como substrato para cultivo de hortaliças e plantas ornamentais. Já a queima do carvão de casca, em processo chamado mineralização, pode ser utilizada em aplicações industriais. “Há vantagens ambientais ainda, porque a casca de arroz, embora tenha composição predominantemente orgânica, com celulose, hemicelulose e lignina, é um material de decomposição lenta no ambiente e não serve para ração animal, por exemplo, por ter elevados teores de lignina e silício”, acrescenta o professor.

Atualmente, as seis principais arrozeiras de Pelotas, Capão do Leão e no bairro Povo Novo, do Rio Grande, produzem cerca de 20.000 toneladas mensais de cascas de arroz. Grande parte do produto é destinado para empresas de outras localidades, que o utilizam na fabricação de farelos, ou mesmo para queima. Nessa lógica, porém, as indústrias da região arcam com os custos do frete, tornando o processo pouco lucrativo.

De acordo com o diretor do Sindicato da Indústria do Arroz de Pelotas (Sindapel), Dilnei Portantiolo, o investimento em termelétricas na região é importante principalmente do ponto de vista das pequenas indústrias do arroz na cidade. “Atualmente, pagamos para dar destino à casca. Precisamos pagar o frete, pagar a empresa que faz a incineração. As grandes têm condições de arcar com esse custo, mas as menores, não”, justifica. “Com a termelétrica, a situação se inverteria: ao invés de gasto, a casca se tornaria a receita, pois venderíamos a casca para ser utilizada nas máquinas”, complementa.

Dizendo-se incomodado por Pelotas não ter recebido o investimento, Portantiolo comenta que existe atualmente um projeto que une cinco indústrias pelotenses para a instalação de uma termelétrica na cidade. Para isso, é necessário ainda a construção da viabilidade econômica e a escolha de um terreno apropriado, para que na sequência se inicie a busca por um investidor. Ele estima que os trâmites
burocráticos da proposta devem ser concluídos nos próximos 30 dias.

Prefeitura tem planos, mas não prazos

Ao Diário Popular, a prefeitura de Pelotas afirmou que há três anos desenvolveu projeto, em colaboração com uma empresa, voltado ao uso dos resíduos do arroz. A ideia acabou não avançando, porém, em função das condições de mercado terem sido consideradas desfavoráveis pelo investidor. “Desde então o Executivo tem feito contatos no sentido de buscar parceiros, mas ainda não é possível informar sobre novos investimentos, pois não há nada de concreto estabelecido”, disse o órgão em nota.

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