Arrozeiros querem cotas para o Mercosul e fim das importações em 2005

Reunida ontem, em Dom Pedrito, a diretoria da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul decidiu aceitar o ingresso de 550 mil toneladas de arroz do Uruguai e da Argentina no mercado brasileiro até fevereiro de 2005. O impacto maior do encontro, no entanto, é a decisão de não aceitar o ingresso do cereal no Brasil em 2005, regra que vale para o Uruguai e a Argentina.

Agora é oficial. Os arrozeiros gaúchos deflagraram uma campanha para que o Brasil não importe nenhum grão de arroz do Mercosul no ano comercial de 2005 e estabeleceram uma cota de mais 550 mil toneladas de arroz para ingressar no país este ano.

A decisão foi tomada na reunião desta quinta-feira da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul e será desenvolvida, a partir de agora, em duas frentes: uma será a mobilização junto com outras cadeias produtivas que se sentem prejudicadas pelo ingresso deliberado de excedentes do Mercosul no mercado brasileiro para que o Governo do Brasil estabeleça cotas de ingresso dos produtos in natura. Outra será a formalização junto às entidades de produtores e indústrias uruguaias e argentinas da decisão do setor.

O presidente da Federarroz, Valter José Pötter, declarou que o fato do Brasil ter alcançado a autosuficiência na produção de arroz nesta safra, segundo dados do próprio Governo Federal (Conab/IBGE), e do estabelecimento de cotas por parte da Argentina para produtos manufaturados do Brasil permitiram ao setor arrozeiro nacional propor um regramento no ingresso do cereal no mercado nacional.

“Tanto o Uruguai quanto a Argentina vêm aumentando significativamente suas áreas apenas para direcionar os excedentes para dentro do Brasil, estabelecendo uma competição muitas vezes desleal com o setor produtivo local e gerando um desequilíbrio do mercado pelo excesso de oferta”, explicou Pötter.

Com o ingresso de mais 550 mil toneladas de arroz do Mercosul no Brasil entre maio/2004 e fevereiro/2005, o Brasil terá um estoque de passagem de aproximadamente 1 milhão de toneladas, suficientes para abastecer o mercado interno por um mês. Se não houver o estabelecimento de cotas e as importações forem mantidas livres também em 2005, o estoque de passagem do Brasil para a 2005/2006 poderá chegar a 2,5 milhões de toneladas, provocando nova quebradeira no setor como foi visto de 1998 a 2001.

“Como o Brasil caminha para a autosuficiência a cada ano, deverá repetir a área em 2004/2005 a menos que ocorra um desastre, e tem agregado alta tecnologia em busca da produtividade, esta medida se torna imperativa para evitar novo processo de canibalismo econômico para a orizicultura do Mercosul, com efeitos danosos para o Brasil”, explicou o diretor de Mercados da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares.

Na próxima semana o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, participará de um encontro entre as federações agropecuárias do Mercosul, durante a feira de Palermo, na Argentina, e levará a posição brasileira: “Ou a Argentina e o Uruguai param de plantar apenas para jogar excedentes dentro do nosso mercado, ou vão buscar mercados em outras regiões, como a África e a Ásia, pois tanto há mercado para adquirir o arroz produzido no Mercosul que o Brasil, há 27 anos sem exportar, tem pedido em carteira para exportar 200 mil toneladas”, afirmou Valter José Pötter, da Federarroz.

A cadeia produtiva do arroz também organiza uma mobilização para levar suas razões aos ministros brasileiros da Agricultura, da Economia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

RAZÕES

Os arrozeiros querem frear o ingresso no Brasil dos excedentes de arroz do Uruguai e da Argentina, que passam de 1 milhão de toneladas este ano, para evitar o inchaço dos estoques de passagem que poderia chegar a 1,2 milhão de toneladas. Isso quer dizer que quando a safra 2004/2005 do Brasil for colhida, haverá disponibilidade de pelo menos 1 milhão de toneladas de grão da safra anterior para serem comercializadas, gerando um impacto muito forte nos preços.

Como a expectativa é de que o Brasil repita a área e os resultados da safra atual e o Mercosul também, além de que não há expectativa de aumento do consumo no bloco econômico, a tendência para o próximo ano é de pelo menos duplicar os estoques de passagem, gerando grande pressão de oferta e achatamento de preços, uma história que a cadeia produtiva do arroz conhece há décadas.

“Estamos dando nosso recado agora para que o Mercosul trate de encontrar outros mercados e de planejar sua lavoura sem esperar que vá produzir apenas para jogar arroz para dentro do Brasil” explicou Amilton Soares, diretor administrativo da Farsul. “A proposta é que os arrozeiros uruguaios e argentinos venham à mesa conosco para redefinir essa política de importações antes da próxima safra, para que seja evitado o clima de beligerância de outras safras”, destacou Marco Tavares, da Federarroz.

As entidades de produtores de arroz das demais regiões brasileiras já são convidadas a apoiar a iniciativa, pois também sente os reflexos com os baixos preços pagos pelo produto nesta safra. A única ressalva à decisão de zerar as importações do Mercosul na próxima safra, segundo o presidente da Federarroz, Valter José Pötter, seria alguma anormalidade na produção nacional. “Todavia, até o momento há sinalização de clima adequado e interesse dos produtores em manterem a àrea plantada e seguirem investindo em tecnologia para alta produtividade. Isso afasta a necessidade de importar arroz e inchar nosso mercado”, frisou ele.

Se houver necessidade de importação de arroz para o próximo ano, os arrozeiros defendem o estabelecimento de cotas e prazos bastante rígidos. “Se a Argentina pode estabelecer cotas para nossos produtos com a facilidade que colocou, porque nós não podemos? Nossos argumentos são idênticos e temos os mesmos direitos”, acrescentou Amilton Soares, da Farsul.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter