Arrozeiros denunciam desvio de água na Barragem do Capané

Se o abastecimento de lavouras de fim de canal na região do Capané não for normalizado, os prejuízos podem ser incalculáveis para os produtores atingidos.

Um grupo de produtores de Cachoeira do Sul (RS), reunidos pela Associação de Usuários da Barragem do Capané, mobilizou-se nesta sexta-feira para denunciar que está faltando água para as lavouras da área. A situação precária dos canais de irrigação e falta de fiscalização na distribuição do recurso foram apontadas como as principais causas para o desabastecimento. As lavouras mais atingidas encontram-se no final de canais. No outro extremo, no entanto, a situação é inversa: a água que jorra aos borbotões acaba sendo desperdiçada.

Solidário com os vizinhos, o arrozeiro Rogério Hoerbe, que possui 220 hectares de arroz plantados bem no início do sistema de irrigação, contou que há excesso de água em sua lavoura. Segundo ele, os precários canais, que há muito tempo não passam por manutenção, não dão conta da pressão colocada no sistema. “A água acaba vazando e não chega às lavouras mais distantes,” revelou.

Se para Hoerbe está sobrando água, para os 87 hectares da empresa Irmãos Trevisan, situados na ponta de canal, falta o recurso hídrico para garantir a produtividade do arroz. O administrador da lavoura, João Gonçalves, afirma que a quebra deve chegar aos 30%, o que corresponde a três mil sacos e prejuízos na ordem de R$ 90 mil. Segundo Gonçalves, a administração da Barragem não manda água para a sua lavoura há mais de 15 dias.

FLORAÇÃO

O produtor Ramiro Santos também não está muito animado com o serviço do Irga. Apesar de estar em dia com os pagamentos do contrato feito com o órgão, sua lavoura não vê água há mais de duas semanas. Para evitar danos maiores, Ramiro colocou três bombas a puxar a água que corre pelo Arroio Capané, por onde escorre boa parte do desperdício da barragem, frisou o presidente da Associação dos usuários, José Derli Mourales. Na lavoura de Ramiro, a quebra estimada já é de 30% dos 100 hectares plantados.

O arroz na área cultivada pelo produtor Paulo Walter está em fase de floração. Além de luminosidade, precisa de umidade para encher o grão. Só que no momento, segundo ele, a administração da barragem está fornecendo água suficiente apenas para uma área cultivada de 150 hectares. “Precisaria água para 320 hectares de lavoura”, destacou o produtor.

PERDAS

Se o abastecimento de lavouras de fim de canal na região do Capané não for normalizado, os prejuízos podem ser incalculáveis para os produtores atingidos. Somente três deles acarretarão com perdas que chegarão aos 15 mil sacos, totalizando uma perda superior a R$ 450 mil, observou o presidente da Associação de Usuários da Barragem, José Derli Mourales.

A falta de irrigação provocou a perda quase total da lavoura de 14 hectares do produtor Ederni Borstmann. A área vinha sendo abastecida regularmente pela barragem, mas no dia em Ederni colocou veneno para combater o arroz vermelho, o fornecimento foi interrompido. Sem a umidade, o herbicida surtiu efeito contrário e irreversível: toda a lavoura acabou infestada pelo arroz vermelho, contou o produtor.

Na área do Seringa, os produtores de arroz também reclamam da falta d’água. Marcelino Hahn Martins plantou 87 hectares e espera pela água para garantir a produtividade. Gessi Bortolotto, que é o antepenúltimo produtor do canal 2 da barragem, também queixa-se que a água não está chegando até sua lavoura.

IRGA

O administrador da Barragem do Capané, Manoel Fernando Motta dos Santos, disse que existem produtores de arroz desviando água do sistema de irrigação, prejudicando as lavouras que encontram-se em final de canais. Segundo ele, nem todo o esforço que o Irga tem empreendido para assegurar o abastecimento das áreas mais distantes está sendo suficiente. “O problema ocorre principalmente à noite, quando os fiscais deixam as lavouras e a água é desviada”, revelou Motta.

O Irga já estuda a possibilidade de acionar a Procuradoria-geral do Estado para mover uma ação contra os infratores. Motta confirmou que o grande volume de água que desce pelo Arroio Capané é resultado do desperdício e do desvio. “Nossos funcionários percorrem 280 quilômetros por dia fazendo taipas para garantir o abastecimento dos 56 usuários, mas muitos não são solidários e deixam outros desabastecidos nesta época de estiagem”, revelou.

Ao todo, a rede de irrigação da barragem possui 90 quilômetros de extensão. Motta garantiu que o Irga tem investido na manutenção dos canais e que este não é o verdadeiro motivo dos problemas que vêm ocorrendo. “No ano passado, o Irga investiu R$ 142 mil na infra-estrutura dos canais e colocou até uma retroescavadeira para limpar o canal leste”, disse. Devido à estiagem, o reservatório encontra-se quatro metros abaixo do nível normal.

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