Governo do Estado confere selo de qualidade ao arroz gaúcho e estimula o consumo
Campanha gaúcha será lançada em 30 de setembro.
No próximo dia 30, quando o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) estiver completando 65 anos, o aumento do consumo de arroz entre os gaúchos começará a ser estimulado por uma campanha lançada pelo governador Germano Rigotto, que foi desenvolvida em parceria do Governo do Estado com indústrias e entidades do setor orizícola. Junto, será lançado um selo de qualidade do arroz do Rio Grande do Sul.
Com a divulgação das propriedades nutritivas e o aval de confiança ao produto, espera-se o incremento de mercado para o arroz, que é uma das bases da economia gaúcha e vem perdendo espaço no cardápio nacional. Em 1987, os brasileiros comiam 42 quilos per capita ao ano de arroz. Em 2003, conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a média anual já havia baixado para 36 quilos per capita.
Um dos motivos por que as pessoas comem menos arroz é a opção pelos alimentos dos serviços de fast food. A mudança de hábito alcança o país de Norte a Sul e, por isso, a campanha de incentivo ao consumo será estendida, mais adiante, às outras regiões. Com a colaboração da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), nutricionistas do Irga pesquisaram uma variedade de produtos em que é possível usar o arroz como ingrediente.
Massas, por exemplo, podem ser obtidas de farinha de arroz. O cereal serve de base também a pães e até a salsichas, com a vantagem de não conter colesterol nem glúten – uma proteína intolerável ao organismo de 300 mil brasileiros, portadores da chamada doença celíaca.
Prejuízos
O Rio Grande do Sul é responsável por 50% do plantio de arroz no Brasil. Mais de 200 mil pessoas são empregadas no Estado pelo setor, que mantém 282 indústrias de beneficiamento e gera em torno de R$ 220 milhões em impostos.
– O arroz gaúcho é o melhor do país e tem qualidade para ser exportado. Daí a importância de se criar o selo de garantia – afirma o governador Germano Rigotto. No entanto, os orizicultores sofrem prejuízos em conseqüência de uma crise que tem origem não só na queda de consumo do cereal pelos brasileiros, mas também na disparidade entre os gastos com a produção e o preço de comercialização.
Os agricultores gaúchos despendem cerca de R$ 30 por saca de 50 quilos colhida e comercializam a produção a aproximadamente R$ 20 a saca. O problema é agravado ainda pela concorrência de grãos de outros países do Mercosul, que entram em quantidade descontrolada pelas fronteiras gaúchas. Somente nesta safra, ingressaram 125 mil toneladas de arroz de países membros do bloco.
Em defesa dos orizicultores, Germano Rigotto já esteve várias vezes em Brasília, neste ano, e reiterou as reivindicações do setor em ocasiões em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio ao Rio Grande do Sul. No final de junho, Rigotto também participou da marcha dos agropecuaristas, em Brasília. O governador defende a necessidade do estabelecimento de cotas para importação de arroz e de compensação aos produtores pelas perdas com a competição externa.
– Não é possível evitar totalmente a entrada de arroz do Mercosul no Brasil, mas podemos ter medidas contra os prejuízos enfrentados hoje pelos orizicultores – sustenta.
Tarifa comum
No início de agosto, Rigotto encontrou-se, em Montevidéu, com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, que o recebeu como presidente interino do Mercosul. O governador gaúcho levou a reivindicação de aumento da tarifa externa comum (TEC) incidente sobre o arroz de 12% para 35%, para barrar a entrada de grãos de países que não fazem parte do bloco.
Rigotto argumentou que a elevação da TEC não constava anteriormente das discussões de governos e entidades do Mercosul, mas agora é assunto obrigatório. Vázquez comprometeu-se a apresentar a proposta aos presidentes dos demais países.
Os arrozeiros gaúchos contam com o apoio do Governo do Estado também na reivindicação de que o governo federal assegure a compra do estoque de 1 milhão de toneladas excedentes de arroz.
– Não existem políticas públicas que possam ajudar o setor enquanto a oferta se mantiver superior à demanda – afirma o secretário da Agricultura e Abastecimento, Odacir Klein.
O Ministério da Agricultura havia prometido R$ 700 milhões para isso. Foi confirmada até agora, no entanto, a liberação de apenas R$ 300 milhões, que beneficiaram apenas em parte o Rio Grande do Sul, já que o Mato Grosso do Sul também está em situação semelhante, com um estoque de 500 mil toneladas de arroz.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou dois leilões para aquisição do produto, utilizando as modalidades de contrato de opção pública e de opção privada. No primeiro caso, o governo federal compra o arroz a R$ 24,00 por saca. No outro, os grãos são adquiridos por empresas privadas, com pagamento de prêmio de R$ 3,00 por saca pela União.
Mercado chinês
Fora do território nacional, o arroz gaúcho poderá encontrar na China um mercado promissor. A possibilidade de negociação foi levantada durante a última Expointer, com a visita de uma delegação da província de Shaanxi, liderada pelo governador Cheng Deming, que veio ao Rio Grande do Sul para firmar acordos de cooperação bilateral com o Governo do Estado. Integraram a missão 34 pessoas, entre representantes do governo chinês, de setores da agricultura e de empresas dos segmentos farmacêutico e mecânico.
Deming disse que seu país precisará importar mais arroz, um símbolo de alimento nobre na China, que vem sendo consumido em quantidade cada vez maior, mas produzido em quantidade insuficiente.
– A China pode ser um caminho importante para que o Rio Grande do Sul encontre um mercado – afirmou o secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Luis Roberto Ponte.
A China tem aproximadamente 1,3 milhão de pessoas em ascensão social, o que justifica o consumo crescente de arroz.