Mato Grosso: índios colhem produção recorde de arroz

Um volume tão alto, que mesmo depois da distribuição entre os índios, feita a partir da colheita realizada em abril, ainda tem mais de 600 sacos de arroz estocados na reserva.

Os índios bororos da Reserva Tadarimana, localizada há 50 quilômetros ao Leste de Rondonópolis, colheram este ano uma produção recorde de arroz. Em 30 hectares dedicados a rizicultura, foi possível colher dois mil sacos de arroz, equivalente a 120 mil quilos do produto.

Um volume tão alto, que mesmo depois da distribuição entre os índios, feita a partir da colheita realizada em abril, ainda tem mais de 600 sacos de arroz estocados na reserva. A fartura de arroz gerada pelo trabalho idealizado pela Prefeitura Municipal de Rondonópolis mostra que o objetivo do trabalho foi atingido.

De acordo com Milson Pereira dos Santos, técnico agrícola da Secretaria Municipal de Agricultura, a alta produtividade foi conseguida graças aos trabalhos realizados pela Prefeitura em parceria com empresas que passaram informações técnicas para os índios e contribuíram com equipamentos. Foi aplicada alta tecnologia no preparo do solo, no plantio e as sementes foram selecionadas a partir do histórico de produtividade.

A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) fez a análise do solo e montou um diagnóstico agronômico, possibilitando a correção e adubação da terra. As sementes de arroz foram doadas pela empresa Agronorte, especializada em cultivares de arroz. As sementes doadas foram de arroz tipo Sirad, conhecido como Agulhinha do Sequeiro.

Os índios foram orientados por técnicos da prefeitura para plantar, cuidar e colher o arroz. A colheita da roça foi feita em duas maneiras: manualmente e mecanicamente. A concessionária da New Holand, Agroverde emprestou uma máquina colhedora. Coube ao trator separar o grão da palha, depois disso as impurezas dos grãos foram separados ainda em casca.

Assim como a colheita, o processo de descasque do arroz envolveu todos integrantes da família indígena. Algumas utilizaram o pilão, outras levaram o produto até as beneficiadoras de arroz. A cada dois meses, os índios limpam 150 sacos de arroz para consumo próprio.

– Até crianças participaram ajudaram. Nós ficamos muitos felizes com o resultado do trabalho. Para quem antes não tinha esperança de ter alimento, ter fartura, é muito bom. Nunca havíamos tido uma roça tão bonita – relata o cacique Moacir Coguiepa.

O cacique lembra que a maior produção de arroz na reserva foi entre 800 a 1.200 sacos. Segundo ele, a terra é muito boa para produção.

– Mas sem ajuda, sem recursos não conseguiríamos esse ótimo resultado. O trabalho da prefeitura e dos parceiros chegou em boa hora. Se não fosse isso não teríamos roça até hoje.

A iniciativa para o começo do trabalho, foi segundo o cacique, dos próprios índios. A princípio eles queriam crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Mas viram que o programa não teria condições de ser desenvolvido na reserva, haja vista os critérios estabelecidos pelo programa.

– Não tínhamos o perfil. Decidimos então pedir apoio da prefeitura que entrou com tudo e nós com a mão-de-obra. Nós plantávamos, mas sem orientação técnica não conseguíamos ter boa produção.

O arroz produzido na reserva é usado para fazer mingau, bolo e serve como mistura para outros alimentos.

Além de arroz, as quatro aldeia da reserva (Tadarimana, Pobore, Praião, e Jurigue), com pouco mais de 400 pessoas (entre crianças, jovens e adultos) colheram boa produção de milho cultivado em oito hectares. Os índios colheram cerca de 150 sacos de milho. A Prefeitura doou para os índios cerca de seis sacos de sementes de milho.

Do milho produzido na reserva, os índios cozinham, fazem canjica, bolo e farinha.

– Temos muito a agradecer à prefeitura pela benfeitoria feita ao nosso povo, que tem comida em abundância – afirma o cacique.

LAVOURA SERÁ AMPLIADA

O bom resultado colhido na lavoura de arroz e milho da reserva Tadarimana motivou a ampliação da lavoura, que passará a contar com outras culturas. Banana, cana-de-açúcar e mandioca começarão a ser cultivadas na reserva. A banana será plantada em uma área de um hectare, entre os meses de outubro e novembro. A cana será cultivada em dois hectares de terra.

– No momento estamos preparando o solo para receber as sementes. A terra já está limpa e algumas partes já estão adubadas – afirma o técnico agrícola da Secretaria Municipal de Agricultura, Milson Pereira dos Santos.

Da mandioca, os índios querem fazer farinha para consumo próprio e se possível comercializar.

– Se tiver jeito de vender, nós queremos vender, para ajudar os índios mais jovens que não têm renda para poder comprar o que precisam – explica o cacique Moacir Coguiepa.

O cacique garante que a comercialização só acontecerá se sobrar alimento para os índios da reserva e que a venda do produto não será para “enriquecer”.

– Será somente para ajudar os índios que não têm dinheiro para seu sustento – explica.

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