Safra de arroz em vazante pode ficar 25% maior (CE)

O município de Iguatu é um dos maiores produtores de arroz irrigado do Ceará..

As áreas úmidas e verdes do arrozal ocupam longas faixas de terra da bacia do Açude Orós e contrasta com o cinza seco e quente da caatinga, nesta época do ano.

As várzeas do Açude Orós são apropriadas para o cultivo de arroz irrigado, cultura de ciclo rápido, em torno de 120 dias

Iguatu. Nesta época do ano, o semi-árido nordestino é caracterizado por enfrentar longos meses de seca e de dificuldades de abastecimento de água para milhares de famílias. O sertão cearense também enfrenta esse quadro, mas em algumas áreas apresenta uma situação favorável ao cultivo de vazantes. Na bacia do Açude Orós, por exemplo, o plantio de arroz irrigado se estende até perder de vista, numa área estimada em 300 hectares, beneficiando cerca de mil agricultores nos municípios de Iguatu e Quixelô.

Não há dados oficiais, mas segundo os produtores, a safra deste ano, será superior 25% em relação ao mesmo período de 2006. A produção total deve ficar em torno de 2,1 mil toneladas de grãos. Os produtores também comemoram o preço da saca de 60 quilos do produto que subiu para R$ 39,00. Há quatro meses era comercializada por R$ 34,00.

As várzeas do Açude Orós são apropriadas para o cultivo de arroz irrigado, cultura de ciclo rápido, em torno de 120 dias. A cada ano, são feitos dois cultivos no decorrer do segundo semestre. Essas duas safras garantem trabalho e renda. As áreas úmidas e verdes do arrozal ocupam longas faixas de terra e contrasta com o cinza seco e quente da caatinga, nesta época do ano.

O plantio de arroz, nas várzeas do Orós, é feito somente no segundo semestre.

– No primeiro semestre ocorre no sertão cearense a quadra invernosa, e não se sabe onde ficará o nível das águas dos açudes – explica o técnico da Ematerce, de Iguatu, Antônio Pereira de Souza.

– Os produtores esperam pelo fim das chuvas, o período de cheia, para começar o plantio das vazantes.

A partir de junho, as áreas de vazantes são preparadas e cultivadas. À medida que o nível da água vai baixando, deixa para trás terras descobertas que são ocupadas por novas faixas de plantio. O trabalho prossegue até janeiro ou início de fevereiro, quando ocorre a colheita dos últimos grãos.

– Passar desta data é muito arriscado – observa o produtor Antônio Francisco de Abreu, mais conhecido por Careca, 56 anos, que planta arroz nas várzeas do Orós, desde 1962, quando o açude foi concluído.

– A chuva pode vir cedo, forte e destruir a lavoura – afirma.

Nesta época do ano, o cultivo atinge o ponto máximo e se estende por longas faixas contínuas em terras planas. Lembra um imenso tapete verde. As áreas de cultivo ficam interligadas nos municípios de Iguatu e Quixelô, beneficiando cerca de mil vazanteiros. Na primeira safra, deste ano, estima-se que foram cultivados, 130 hectares de arroz da variedade “tiotac”, que dá uma produtividade média de 7 mil quilos por hectare. Na segunda safra, essa área foi ampliada para 170ha.

Nas várzeas do Açude Orós o trabalho é contínuo. Nas localidades de Carrapicho e Várzea Grande, por exemplo, alguns produtores concluem a colheita dos grãos cultivados mais cedo. A maior parte dos agricultores, entretanto, cuida da lavoura, irrigando, limpando o mato, vigiando e espantando os pássaros que se alimentam dos grãos ainda no cacho.

Há um grupo de cerca de 50 proprietários de terra que recebe mais benefícios com as vazantes de arroz na bacia do Açude Orós. Antônio da Silva, conhecido por Antônio de Carmosa, 34 anos, é um dos maiores produtores de arroz da região. Consegue duas safras numa área de cerca de 30 hectares. A primeira colheita foi de 190 mil quilos de arroz em casca. Para a segunda, espera colher 210 mil kg.

A escavação de um canal de 6km de extensão ao longo das áreas de cultivo, feito há dois anos, pela Prefeitura em parceria com o governo do Estado, favoreceu a irrigação e a ampliação das áreas de cultivo. Os produtores já solicitam novo serviço para o próximo ano.

– A nossa salvação foi esse trabalho que permitiu que a água fosse bombeada para áreas mais distantes – observa o produtor Antônio Francisco de Abreu, mais conhecido como Careca.

Os produtores preferem não dar detalhes sobre o quanto ganham de lucro líquido das safras, mas por hectare. Segundo cálculo da Ematerce, deve render para o produtor, R$ 3 mil. Já para o “meeiro”, o tradicional vazanteiro, que produz em terras arrendadas, a renda cai consideravelmente. Além da metade da colheita que é entregue ao dono da terra, tem de arcar com despesas de semente, adubo e inseticida.

FALTA D´ÁGUA

O município de Iguatu é um dos maiores produtores de arroz irrigado do Ceará. A produção vem se mantendo nos últimos anos na bacia do Açude Orós. Entretanto, na última década, sofreu uma queda acentuada nas várzeas do Rio Jaguaribe e na Lagoa de Barro Alto.

– São áreas que dependem de água retirada de poços que a cada ano estão com o nível mais baixo, dificultando a irrigação da lavoura – observa o técnico da Ematerce, Antônio Pereira de Souza.

– A cultura do arroz exige um consumo elevado de água.

O elevado custo da produção e a baixa rentabilidade têm provocado uma diminuição nas áreas de plantio de arroz no município de Iguatu. Na Lagoa do Barro Alto, por exemplo, nesta safra, só há praticamente um produtor. Manoel Bezerra, mais conhecido por Neto Bastos, cultivou 10 hectares, um terço da área que geralmente era plantada. O bombeamento da água é feito de um poço distante 2km, localizado no leito do Rio Jaguaribe.

A “salvação da lavoura” de Neto Bastos e de outros produtores foi a liberação da água do Açude Muquém, localizado no município de Cariús, que perenizou o Rio Jaguaribe e reabasteceu os poços. Em face da escassez de água, nos cacimbões, muitos produtores reduziram ou deixaram de plantar arroz nas localidades de Gadelha, Cardoso, Quixoá e Barro Alto. Essa tendência deve continuar nos próximos anos.

A saída seria a transposição das águas do Açude Trussu para reabastecer um conjunto de lagoas (Saco, Baú, Iguatu, Barro Alto e Quixoá). O secretário de Agricultura do município de Iguatu, Valdeci Ferreira, prefere apostar em novas culturas.

– O nosso incentivo é para a produção de frutas, como goiaba, maracujá e uva, em parceria com a Ematerce, garantimos assistência técnica e comercialização dos frutos – disse.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter