Preço internacional alto deve estimular exportação de arroz

Na prática, o mercado externo está mais aquecido, uma vez que os estoques mundiais são os menores desde 1984.

Os preços internacionais mais altos para o arroz poderão facilitar a exportação do cereal brasileiro. A estimativa do setor é que as vendas externas cresçam até 40% este ano, estimuladas por nichos de mercado que deixariam de ser atendidos pelos parceiros do Mercosul e também pela abertura de novos potenciais compradores, como os países árabes. Na prática, o mercado externo está mais aquecido, uma vez que os estoques mundiais são os menores desde 1984.

Segundo dados da Cogo Consultoria Agroeconômica, a demanda mundial de arroz supera a produção pelo segundo ano consecutivo, na atual SAFRA. Com isso, a relação de estoque e demanda atual é de 17%. Por isso, a tendência é que os preços internacionais continuem “firmes”.

– Podemos passar de grandes exportadores de arroz quebrado para o produto beneficiado, de maior valor agregado – diz o analista Élcio Bento, da SAFRAS & Mercado.

No ano passado, o País exportou 426 mil toneladas. Para 2008, analistas e representantes do setor acreditam em algo próximo a 600 mil toneladas. Mas, lembram que, apesar dos valores mais altos externamente – a cotação na Tailândia, que baliza o mercado, subiu mais de 50% em 12 meses, com a tonelada na casa dos US$ 480 – outros dois fatores serão determinantes: o câmbio e um eventual subsídio do governo.

A partir de abril, a comercialização da SAFRA será apoiada pelo governo – estão previstos cerca de R$ 400 milhões. E além dos instrumentos tradicionais, os produtores solicitaram que R$ 100 milhões fossem para o Prêmio de Escoamento do Produto (PEP) a ser usado com subvenção à exportação.

A proposta é que 800 mil toneladas fossem escoadas por meio deste subsídio que, pelas regras, têm de ser enviadas para regiões que não o Sul e Sudeste, o que possibilitaria a venda para fora do Brasil. O assunto, no entanto, ainda será analisado pelo governo.

Para o ano comercial, de acordo com Bento, ainda não existem registros de embarques. No mês passado foram exportadas 25 mil toneladas de arroz. O volume foi 44% abaixo do embarcado no mesmo período do ano passado. Porém, como as cotações do cereal estão mais altas, a queda na receita não foi tão significativa, apenas 6%. O valor exportado somou US$ 5,7 milhões.

Bento lembra que o Rio Grande do Sul, responsável por mais de 50% da SAFRA nacional do cereal, é hoje uma das maiores regiões do mundo com disponibilidade de arroz. Mas que, por causa do custo, ainda não tem competitividade para exportar – por isso a necessidade do PEP. O analista acrescenta ainda que o maior déficit mundial do cereal encontra-se no continente africano: quase 7 milhões de toneladas. Assim, a estimativa é que além dos tradicionais grãos quebrados, o Brasil possa exportar para aquela região também arroz beneficiado.

O presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz), Hélio Coradini, diz, no entanto, que ainda existem algumas limitações para o aumento do volume exportável. Entre elas, a questão logística: o principal porto do estado, o do Rio Grande, hoje está praticamente com 90% da capacidade ocupada com a SAFRA da soja. Ou seja, apenas a partir de maio é que o arroz gaúcho poderia ser embarcado.

Além disso, segundo ele, os parceiros do Mercosul terão a mesma oportunidade que o Brasil no mercado externo, em um ano que está mais favorável, com a diferença que a Argentina e o Uruguai têm mais know how. Hoje, o Brasil é o maior comprador dos dois países vizinhos. Mas Bento lembra que os preços internacionais elevados farão com que os vizinhos do Mercosul coloquem mais arroz em outros mercados. De acordo com dados da SAFRAS & Mercado, a Argentina tem de 750 mil toneladas, enquanto o Uruguai possui 1,1 milhão de toneladas.

Teoricamente, olhando para o quadro de oferta e demanda do Brasil na dafra atual, o País não teria excedente, uma vez que, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a produção total será de 12,07 milhões de toneladas para um consumo de 13,2 milhões de toneladas. No entanto, há um estoque de passagem grande: 1,79 milhão de toneladas. Pelas projeções da estatal, o Brasil exportaria 520 mil toneladas na SAFRA 2007/08.

Potencial árabe

Além das exportações que já ocorrem hoje para a África e que poderiam ser intensificadas com a venda de produto de maior valor agregado, um outro mercado pode ser aberto: dos países árabes.

Na semana passada, o presidente da Central Islâmica Brasileira de Alimentos, Mohamed Hussein El Zoghbi, esteve reunido com representantes do setor produtivo para discutir a compra do produto gaúcho.

– Ainda não existe nada de concreto. Eles estão prospectando mercado – diz Coradini.

Segundo ele, a visita é fruto da presença de uma comitiva do setor em uma feira de alimentação, recentemente, em Dubai.

– Mas, sem dúvida, vamos concretizar este ano novos mercados.

Mohamed, que já esteve reunido com entidades arrozeiras nos Emirados Árabes, levou amostras do de arroz tipo 1, com 4% e 10% de quebrado. A expectativa é que a avaliação dos árabes ocorra em até 60 dias para que um eventual negócio seja fechado.

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