Intervenção para conter alta do arroz
Governo vai usar o estoque de 1,4 milhão de toneladas de arroz na tentativa de segurar o preço do produto, que sobe em todo o mundo.
O governo vai intervir no mercado de arroz para evitar uma alta generalizada nos preços ao consumidor. Para o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães, acendeu a “luz amarela” e, por isso, está no momento de desovar o estoque de 1,4 milhão de toneladas, o que representa 11,6% da produção prevista para o ano (12 milhões de toneladas).
Um aumento do preço nas gôndolas, no entanto, não é descartado e o arroz já é apontado, por alguns analistas de mercado, como um dos vilões da inflação nesse ano – ao lado do pão francês, tomate e carne bovina.
Amanhã, representantes do Ministério da Agricultura, da Companhia Nacional da Abastecimento (CONAB) e de produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, se reúnem, em Brasília, para definir a estratégia de venda do estoque do governo.
– Na política de abastecimento, temos dois lados da moeda. Tem o lado do produtor e do consumidor – afirma o secretário, destacando que é preciso garantir o preço mínimo para o agricultor e, ao mesmo tempo, evitar que o produto fique muito caro para o consumidor.
– Acompanhamos os preços o tempo todo e quando acende a luz amarela, vendemos o estoque. Vamos sentar com o setor para definir como será feita a intervenção – acrescenta.
O superintendente de Gestão de Oferta da CONAB, Paulo Morceli, ressalta que, em janeiro, o governo vendeu parte do estoque porque o preço estava subindo.
Mas agora existe um ingrediente especial, o valor do arroz está disparando em todo o mundo e pode implicar uma alta mais forte para o consumidor. Na Tailândia, por exemplo, o preço da tonelada saltou de US$ 337, no final de 2007, para US$ 950, na semana passada.
Segundo ele, a expectativa é de uma produção mundial de 27,5 milhões, para este ano, sendo que o consumo previsto é de 24 milhões.
– Precisamos analisar o que está acontecendo porque não está havendo redução de produção. Alguns suspeitam de uma bolha – conta.
– O feijão foi o vilão da inflação no ano passado porque não tínhamos estoques – ressalta o superintendente da CONAB.
Reajustes à vista
Independentemente da venda dos estoques do governo, o quilo do arroz deve pesar um pouco mais no bolso do consumidor. Isso porque, somente nos últimos 30 dias, o produto apresentou uma valorização para o agricultor de cerca de 30%.
– Se essa elevação for repassada para o consumidor, representará um acréscimo de R$ 0,11 no quilo do arroz – afirma o analista de mercado do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), Camilo Oliveira.
Além disso, a tendência é de que o preço do produto continue subindo no mundo. Isso porque muitos dos países produtores estão restringindo a exportação de arroz para abastecer o mercado interno. Esse movimento faz com que os preços fiquem pressionados.
No Brasil, a produção de arroz neste ano deve atingir 12 milhões de toneladas, sendo que o consumo é de 13,1 milhões. A expectativa é de alta dos preços, porque o país não está conseguindo importar o produto para atender a demanda. Uruguai e Argentina adotaram medidas protecionistas e, em alguns casos, estão preferindo fazer negócio com outras nações. Para agravar a situação, muitos produtores nacionais também encontraram na exportação uma forma de ganhar mais dinheiro.
Por enquanto, o arroz (em casca), conforme o Índice Geral de Preços – Mercado, registrou queda de 0,44% nos preços, no segundo decêndio de abril. No mês anterior, a contribuição para a baixa da inflação era de 5,96%.
– Ainda não está subindo, mas teve uma aceleração boa no preço. O arroz subiu muito no mundo todo. Agora é esperar para ver qual será a repercussão no Brasi – destaca o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
O economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, explica que o arroz subiu quase 30% este ano no atacado e, em algum momento, esse reajuste deve ser repassado ao consumidor.
– Existe um lado preocupante porque muitos países estão adotando medidas protecionistas. Os exportadores brasileiros têm mais receitas ao vender o arroz. Mas, por outro lado, se a oferta do produto diminuir internamente a inflação será pressionada – alerta Thadeu Filho.
Para o economista da LCA Consultores, Raphael Castro, o arroz, assim como os derivados do trigo e soja, devem continuar pressionando os preços no país.
– A bola da vez é o arroz. No ano passado, foi o feijão, que agora deve apresentar uma baixa – conta o economista.
Previsão de inflação maior
A redução no preço da soja fez com que o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) caísse pela metade no segundo decêndio de abril – que compreende o intervalo entre 21 de março e 10 de abril. O índice recuou de 0,78% para 0,37%. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, a baixa de 9,80% no preço da soja acaba encobrindo a alta nos valores do tomate (35,28%), dos bovinos (3,61%) e a aceleração do arroz – cujo o recuo caiu de 5,96% para 0,44%.
– O arroz é a nova estrela em ascensão – afirma Salomão.
Apesar do alívio visto no IGP-M, os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus projetam uma inflação maior para o fim de ano. A previsão da variação do IGP-M para 2008 saltou de 6,02% para 6,21%. No que diz respeito ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os analistas elevaram de 4,66% para 4,71% no final de 2008 – bem acima do centro da meta do governo, que é de 4,5%.
O economista da LCA Consultores, Raphael Castro, explicou que essa alta está relacionada ao IPCA de março, que veio acima das estimativas de mercado.
O Boletim Focus manteve a projeção de taxa básica de juros (Selic) em 12,75% para o final do ano. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou os juros de 11,25% para 11,75% ao ano para frear a inflação do país.
– Os riscos para aumento de preços estão aumentando. A pressão do preços das commodities subiu e muito rapidamente. Isso vai ter algum efeito no IPCA – diz Castro.
Com a previsão de juros maiores, a estimativa de crescimento econômico caiu de 4,7% para 4,6% em 2008. (ES)
Consumo aumenta
O ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse haver um “bombardeio mundial” contra os biocombustíveis, responsabilizados pelo aumento dos preços dos alimentos. Na avaliação dele, entretanto, a elevação dos preços é conseqüência do aumento do consumo de chineses e indianos, beneficiados pelo crescimento econômico de seus países.
Para Furlan, esse é um problema positivo e que poderá ser resolvido pelo aumento da produção mundial de alimentos.
– Há um bombardeio mundial em relação a essa questão do aumento de preço de alimentos, que poderia ter origem no uso de grãos para biocombustíveis – disse.
O aumento do consumo de alimentos por Índia e China é um fato que deveria ter sido previsto, mas que estranhamente ninguém previu.
Furlan considera que há exagero nas críticas segundo as quais a expansão dos biocombustíveis ameaça o meio ambiente.
– Eu acredito que há exagero também na questão ambiental. O Brasil tem 60% das florestas que tinha há mil anos. A Europa tem apenas 0,3%, e a América do Norte, 19%, isso em função das reservas do Canadá, e não dos Estados Unidos e México. A Índia praticamente eliminou as suas reservas.