FAO teme nova alta de alimentos em 2009
A explosão de preços em 2007 jogou 75 milhões de pessoas “na fome e na pobreza” em países em desenvolvimento.
Os preços dos principais cereais estão em queda no mercado internacional por causa de desaceleração da economia mundial e de boas colheitas em diversos continentes. Mas essa situação pode ser de curta duração. A Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que a atual baixa das cotações pode levar os agricultores a reduzir a produção e provocar novo recorde de preços dos alimentos em 2009.
O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, alertou ontem que, nesse cenário, os problemas financeiros podem provocar uma nova crise alimentar no ano que vem, apesar de uma colheita recorde praticamente confirmada para 2008.
Em seu relatório sobre as “perspectivas das colheitas e situação alimentar”, publicado ontem, a agência da ONU estima que a produção global de cereais deve crescer 4,9% e alcançar volume recorde de 2,232 bilhões de toneladas este ano, consideravelmente maior do que projeções anteriores. Isso em razão de maiores safras para grãos na Europa, de milho principalmente em terras dos Estados Unidos e de grãos forrageiros em geral e arroz na Ásia.
Com relação ao trigo, base alimentar para boa parte da população mundial, a colheita pode alcançar 677 milhões de toneladas este ano, numa alta de 11%. Para a Argentina, é prevista, agora, uma queda de 25% por causa do mau tempo. Já no Brasil, o clima ajudou a produção, com aumento generalizado da área plantada, que chegou a 30% no Paraná em resposta à elevação dos preços internacionais, de acordo com a FAO. A produção de trigo do pais é estimada para alcançar 5,4 milhões de toneladas, a maior desde 2004.
Para os grãos forrageiros, também é previsto recorde de 1,106 bilhão de toneladas, 2,6% acima do recorde anterior. Para o arroz, as perspectivas igualmente melhoraram, no rastro de excelentes resultados já obtidos no ano passado, graças a boas condições climáticas, preços atrativos e incentivos governamentais, sobretudo na Ásia.
Na America Latina, a colheita de arroz deve crescer 7%, concentrada na Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Uruguai.
Os preços internacionais caíram bastante nos últimos dois meses. Nos EUA, o trigo valia, no começo de outubro, 45% menos que em seu pico de marco, quando ficaram claras as projeções de recorde mundial de produção.
A cotação de milho continuou a declinar também por causa de menor uso para alimentação animal e redução na produção de etanol nos EUA. O preço do milho americano caiu 35% na primeira semana de setembro em relação ao pico de junho, mas ainda está 13% acima da media de outubro de 2007. No caso do arroz, a desvalorização tambem foi forte – de 35% no Vietnã e no Paquistão e de 16% nos EUA.
Diouf destaca que a atual tendência de das cotações pode significar uma redução na plantação, seguida de diminuição das colheitas nos principais países exportadores. Como os estoques de cereais continuam baixos apesar do aumento da produção, esse cenário pode levar a outro ciclo de preços alimentares recordes no ano que vem.
Para Diouf, isso será uma catástrofe para os pobres. Apesar da melhora global da produção de cereais, a FAO alerta que 36 países no mundo continuam precisando de assistência externa por causa de quebras de safras, conflitos, desastres naturais e preços elevados dos produtos.
Assim, uma nova onda de valorização de preços atingirá em cheio milhões de pessoas que se encontram sem recursos e sem créditos. Ele argumenta que a explosão de preços em 2007 jogou 75 milhões de pessoas “na fome e na pobreza” em países em desenvolvimento.